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Petróleo continua a sofrer com incerteza económica e excesso de oferta

Apesar da estratégia concertada pela organização dos países exportadores do chamado ouro negro de cortes na produção, vários são os fatores a arrastar o preço do bem para baixo.
28 Setembro 2020, 08h00

O preço do petróleo continua a cair e a expetativa é que a tendência não vire nos próximos tempos, com choques do lado da procura e da oferta que deverão manter o preço em níveis anormalmente baixos.

Por um lado, receios associados à Covid-19 e ao ressurgimento de um grande número de novas infeções na Europa levam os mercados a assumir perspetivas pessimistas para a procura por petróleo, sobretudo dada a força com que a pandemia avançou nas últimas semanas em França, Reino Unido, Espanha e Holanda.

Do lado da oferta, o panorama também não é tranquilizador. Depois de, na passada semana, a Líbia ter anunciado que pretende retomar os níveis de produção pré-embargo de 1,2 milhões de barris por dia, o país avançou com a reabertura de três dos principais terminais petrolíferos do país na quinta-feira.

A Companhia Nacional Petrolífera (NOC) líbia anunciou que, com o reabrir destes terminais, espera passar a produção diária de 100 mil para 260 mil barris. A Goldman Sachs estima que o país consiga produzir 550 mil barris por dia até ao final do ano, enquanto que analistas da Bloomberg apontam para um milhão.

Estas estimativas estão fortemente dependentes da capacidade do país, devastado por uma guerra civil e dividido entre duas fações fortemente armadas, de recuperar a infraestrutura petrolífera danificada, além de implicar que as zonas onde se situam os principais portos exportadores de crude se mantenham seguras, algo razoavelmente improvável.

Ainda assim, caso o objetivo de 1 milhão de barris por dia seja atingido, tal obrigaria a uma ligeira revisão da política da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que tem desenhado a sua estratégia sem contabilizar a produção atual líbia. O output combinado da organização é de cerca de 30 milhões de barris diários.

Entre os países membros da OPEP, também o Irão e o Iraque parecem determinados em não cumprir a estratégia de contenção na produção para estimular os preços, ainda que por motivos diferentes.

No caso do Iraque, que se havia comprometido a compensar pela sobreprodução em tempos de quotas, aumentou o número de barris diários exportados em 8% na primeira metade do mês, quando comparando com a média de agosto. Os dados de observadores do setor são contraditórios aos avisos sauditas de cumprimento dos acordos da OPEP, que adiou de setembro para o final do ano o prazo para o Iraque corrigir esta sobreprodução.

A situação iraniana prende-se com as sanções americanas, que visavam a capacidade exportadora de crude do país. Os iranianos, de acordo com vários órgãos de monitorização de navios petrolíferos, têm vindo a acelerar as exportações no mês de setembro, numa tentativa de salvar a economia.

Antes do rasgar do acordo nuclear pelos EUA, o Irão exportava 2,5 milhões de barris por dia. Uma estimativa feita por observadores do setor aponta para um mínimo de 100 mil barris exportados por dia em maio. A estimativa da TankerTrackers, citada pela Reuters, é que, neste momento, o Irão exporte entre 400 mil e 1,5 milhões de barris, um intervalo grande e que exemplifica a dificuldade em rastrear a atividade petrolífera iraniana. O país deixou de reportar informação sobre a indústria em 2018, na sequência das sanções internacionais.

Um ponto a favor da cotação do crude na próxima semana é a possível greve dos profissionais do setor na Noruega, perante o impasse na negociação coletiva relativa aos trabalhadores de plataformas offshore. Com uma produção de 4 milhões de barris de crude e equivalentes por dia, o que inclui derivados do petróleo e gás natural, a produção norueguesa pode recuar 900 mil barris caso a greve avance.

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