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Plano Ferroviário Nacional só em 2022 mas intenções do “instrumento de pressão política” já são conhecidas

Governo promove debate público sobre futuro da ferrovia nacional, que deverá ser legislado em 2022. Objetivos passam por ligar todas as cidades de distrito e as cidades com mais de 20 mil habitantes. Viagem Lisboa-Porto poderá ser feita em 1h30. Linha da Beira Baixa entre a Covilhã e a Guarda vai ser reaberta nos próximos dias.
  • O ministro das Infraestruturas da Habitação, Pedro Nuno Santos, discursa no encerramento da apresentação do plano ferroviário nacional, no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
19 Abril 2021, 17h55

As primeiras orientações do documento que vai delinear o futuro da ferrovia nacional foram conhecidas esta segunda-feira, mas o documento anunciado hoje só será legislado em 2022. Até lá, o Plano Ferroviário Nacional (PFN), que ainda passará por um grande debate público, é um manifesto de intenções e de compromissos já em marcha que o Governo pretende tornar num “instrumento de pressão política”, “o mais consensual possível”, procurando ser um alicerce da coesão territorial de Portugal.

A ideia foi transmitida pelo Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, na apresentação do PFN, nas instalações do LNEC, em Lisboa. O primeiro passo foi esta apresentação, que culminará dentro de um (até março de 2022) numa proposta de lei que terá de ter o ‘Ok’ da Assembleia da República. Por isso, o governante garantiu que o PFN será “usado para insistir junto do poder político para a sua concretização”.

Para secundar a elaboração do PFN, o Governo vai criar o centro de competências ferroviário ainda este ano. “Se vamos voltar a ter ferrovia em Portugal, se vamos expandir a rede, se vamos comprar comboios, não há nada num comboio que não consigamos fazer, não há nenhuma razão para que Portugal se limite a comprar lá fora”, afirmou o ministro,

“A ferrovia é a indústria do futuro”, disse. A afirmação é prometedora, sobretudo observando os objetivos do PFN: Terceira travessia do Tejo; novas ligações a Espanha; ligações a capitais de distrito ou densificação da rede. Uma das ideias mais ambiciosas é ligar todas as capitais de distrito e as cidades com mais de 20 mil habitantes com uma rede ferroviária.

Acrescem a modernização da linha ferroviária, a resolução dos estrangulamentos no acesso às áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, bem como a criação de um eixo de alta velocidade entre Porto e Lisboa. Desta forma. estima-se que a viagem Lisboa-Porto, que atualmente tem uma duração de, sensivelmente, três horas, possa durar menos de duas horas em 2030, mais precisamente em 1h15 segundo o Pedro Nuno Santos.

“Será de facto um marco histórico no sistema ferroviário nacional“, indicou Carlos Fernandes, vice-presidente da Infraestruturas de Portugal, por sua vez, num debate sobre o que caminho de ferro pode oferecer a Portugal.

Outro exemplo é o percurso entre Lisboa-Leiria. Atualmente, da capital à cidade do Lis levam-se cerca de três horas de comboio. Isto porque não há uma ligação direta. Agora, o PFN pretende determinar a modernização da Linha do Oeste. “Com o plano podemos fazer Lisboa a Leiria de comboio em apenas 35 minutos“, referiu Pedro Nuno Santos.

O PFN tem o desafio de ter de responder à modernização da ferrovia nacional, ao mesmo tempo que tem de criar novas linhas. Lembrando que há quase 100 anos que não se constroem linhas em Portugal e que muitas foram entretanto desativadas. o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado, adiantou que estão em curso obras de modernização nos principais corredores ferroviários do país e, “pela segunda vez em 90 anos”, está a ser construída uma linha nova.

Assim, tendo em consideração “a reflexão sobre os serviços para os quais a infraestrutura será utilizada”, Jorge Delgado  referiu que os investimentos em causa vão ainda permitir a circulação de comboios com maior comprimento e a utilização de linhas eletrificadas e com sinalização eletrónica instalada.

A propósito do PFN, o programa Ferrovia 2020 foi relembrado. Foi este o programa que permitiu a construção de um primeiro troço “que pode ser classificado como uma linha de alta velocidade em Portugal” – os 80 quilómetros de linha em construção entre Évora e Elvas. Acresce que, “dentro de dias”, incluído no programa, vai ser reaberta a Linha da Beira Baixa, entre a Covilhã e a Guarda, e também estarão concluídas as obras de modernização da Linha do Minho entre Viana do Castelo e Valença.

Fora dos planos do Governo terá ficado o distrito de Bragança, que não aparece nas orientações para as principais empreendimentos ferroviários do PFN.

O que o caminho de ferro pode oferecer ao país? A questão foi o mote de um debate entre especialistas sobre a ferrovia nacional. Para os especialistas presentes no debate, o PFN vem aumentar a competitividade da ferrovia, nomeadamente no que diz respeito ao transporte de mercadorias.

O Plano Ferroviário Nacional iniciou hoje o período de consulta pública junto das entidades competentes, incluindo cinco sessões regionais. Esta auscultação decorrerá entre abril e julho. Os contributos podem ser enviados através desta página na internet.

De julho a outubro, feita a consulta pública, será concretizada a redação do PFN, seguindo-se apresentação e discussão do mesmo, entre outubro e dezembro, com nova consulta pública.

Só depois de uma renovada apreciação, o plano será entregue ao Governo, que o deverá aprovar em Conselho de Ministros entre janeiro e março de 2022.

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