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Plataforma de eletrónicos recondicionados entra em Portugal e quer educar sobre economia circular

“Atingir o estatuto de unicórnio representa o reconhecimento dos investidores no nosso trabalho e, sobretudo, na missão e nos valores que nos movem e, por isso, traduz um trabalho contínuo que queremos continuar com a mesma força e em cada vez mais países a nível global”, confessou um dos fundadores do Back Market ao “JE”.
7 Julho 2021, 07h40

A plataforma Back Market, dedicada a produtos eletrónicos recondicionados, entrou este ano no mercado português e reuniu uma ronda de investimento no valor de 276 milhões de euros. Esta ronda foi liderada pela General Atlantic e contou com o apoio da Generation IM, da Aglaé Ventures, Eurazeo, Goldman Sachs Growth Equity e Daphni.

Ao Jornal Económico, Thibaud Hug de Larauze, CEO do Back Market, explica que obter o estatuto de unicórnio nunca foi um objetivo, sendo o propósito da empresa “sensibilizar e educar” para a importância da economia circular na tecnologia, uma vez que a indústria da tecnologia é uma das grandes poluidoras mundiais. Com este investimento, a empresa passou a estar avaliada em 2,7 mil milhões de euros.

Atualmente, a empresa opera em 15 mercados distintos, planeando ainda a expansão para dois novos países, e aumentar o investimento em Portugal.

O Back Market entrou agora em Portugal. Quais as perspetivas para este mercado?

Portugal é um país muito importante para o Back Market, assim como foi Espanha quando abrimos em 2016, sendo hoje um dos nossos maiores mercados. Daqui para a frente, esperamos conseguir crescer como temos crescido em Espanha e, sobretudo, começar a educar e  sensibilizar os portugueses para a necessidade da economia circular de produtos tecnológicos.

Qual a importância dos dispositivos recondicionados no mundo atual?
O mundo digital representa quase 4% das emissões globais de carbono e o grande impacto da tecnologia na quantidade de lixo produzido  prende-se com a produção de dispositivos novos. Estima-se que, em 2040, a tecnologia de comunicação seja responsável por 14% do carbono emitido e, por isso, é urgente alterar os hábitos de consumo, incentivando a um mais consciente e sustentável consumo de dispositivos eletrónicos.Soluções como o Back Market promovem a compra e utilização de dispositivos recondicionados, que são aparelhos usados de séries profissionais que passam por rigorosos testes de qualidade antes de chegarem ao consumidor e se apresentam como uma solução de alto impacto para reduzir o consumo. Os nossos consumidores conseguem, por isso, comprar os mesmos produtos com uma elevada qualidade ao mesmo tempo que contribuem para a sustentabilidade do planeta. Além disso, os produtos que o Back Market promove possibilitam ainda democratizar o acesso a tecnologia, dados os preços significativamente mais baixos (de 30% a 70% mais baratos).

A plataforma recebeu 276 milhões de euros numa ronda da Séria D. Qual o destino deste investimento?
Esta nova ronda de investimento serve essencialmente para três pontos chave, nos quais assenta o trabalho do Back Market: primeiro, para investir na qualidade e satisfação do consumidor; depois, para investir em serviços e vendedores ajudando-os a serem mais eficientes e aumentarem as suas vendas; por fim, para investir na nossa estratégia com vista a acelerarmos ainda mais a internacionalização da marca.

Com a mais recente ronda de financiamento reforçaram o estatuto de empresa unicórnio. Qual o sentimento de atingir esta meta ao fim de sete anos?
O nosso objetivo nunca foi chegar a esse estatuto. Sempre pretendemos, sobretudo, sensibilizar e educar os consumidores para um assunto que é cada vez mais urgente – a importância da economia circular na tecnologia. Ao longo do tempo, fomos conseguindo cumprir esta meta, o que nos deixa muito orgulhosos. Atingir o estatuto de unicórnio representa o reconhecimento dos investidores no nosso trabalho e, sobretudo, na missão e nos valores que nos movem e, por isso, traduz um trabalho contínuo que queremos continuar com a mesma força e em cada vez mais países a nível global.

Quais os próximos mercados onde esperam entrar?
O objetivo do Back Market é internacionalizar para o máximo de países possível. Neste momento, já estamos presentes em 15 países e, em breve, abriremos portas na Suécia e ainda no Canadá.

Como é realizada a análise da qualidade dos produtos recondicionados?
A análise de qualidade dos produtos é essencial para a satisfação dos consumidores, pois é através destes testes que conseguimos mudar as opiniões negativas acerca dos recondicionados e, consequentemente, reduzir o consumo de dispositivos novos. Cada aparelho é minuciosamente analisado, desde os botões ao carregador, passando pelo sistema de localização, pela câmara e até bateria. Para realizar estes testes, temos uma equipa especializada que faz dezenas de visitas mensais a lojas de recondicionados, bem como encomendas anónimas para conseguirmos garantir que quem adere ao Back Market cumpre os padrões de qualidade que exigimos. Quando alcançados os padrões de qualidade, todos os vendedores parceiros são continuamente monitorizados: os indicadores de qualidade são seguidos, as incidências são analisadas diariamente e as vendas são limitadas se o vendedor não cumprir os níveis exigidos.

Que padrões exigem aos aparelhos eletrónicos que vão ser recondicionados?
Quando um vendedor pretende vender aparelhos no Back Market, começamos por lhe pedir comentários detalhados sobre os produtos e  sobre todo o processo pelo qual passaram para chegar à venda final. Além disso, e como já mencionado anteriormente, os nossos próprios especialistas fazem encomendas anónimas todas as semanas para verificar pessoalmente a qualidade dos produtos dos vendedores. Se percebermos que a pontuação de qualidade de um vendedor diminui, o produto é imediatamente colocado em período de prova e o nosso serviço de qualidade começa a vigiá-lo e ajuda-o a encontrar uma solução adequada.

Atualmente, quais as principais diferenças entre adquirir um aparelho novo e um recondicionado? Qual o nível de poupança?
Em primeiro lugar, claro que o preço é algo que interessa famílias ao consumidor – se uma pessoa comprar um produto recondicionado ao invés de comprar um produto novo, poupa cerca de 30% a 70%. Além disso, ambientalmente, optar por comprar produtos eletrónicos através de economia circular, nomeadamente produtos recondicionados, representa um grande impacto para a saúde do planeta. Para fazer um só smartphone novo, têm de ser retirados da natureza diversos recursos como o lítio, o tântalo e o cobalto, o que intensifica a pegada global em 18m2 de solo, 12.760 litros. Além disso, a compra de um aparelho recondicionado economiza em média 30 kg de CO2 e 44 quilos de matérias-primas em comparação com um novo, se tomarmos o exemplo de um smartphone. Considerando tudo o que envolve a produção de um novo aparelho tecnológico, devemos tentar dar-lhe o máximo tempo de vida possível e, por isso, não faz sentido comprar sempre dispositivos novos – é preferível  comprar recondicionados e contribuir para um menor desperdício.

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