Há diferença?

É a mensagem que os líderes da Fed e do BCE têm vindo a repetir nos últimos meses: Jerome Powell disse na quarta-feira no Congresso dos EUA que a política fiscal é mais poderosa do que a política monetária e que esta última não pode ser a única forma de dar impulso à economia. Mario Draghi já tinha defendido algo semelhante em Sintra, pedindo estímulos fiscais.

A discussão é interessante e ganha nova relevância num contexto em que a eficácia marginal da política monetária está em causa. A abundância de liquidez no sistema e as taxas muito baixas – mais de metade da dívida soberana da zona euro está com rendimentos negativos – não está a incentivar o crédito e o investimento como seria provavelmente a expectativa. O BCE e a Fed preparam-se para cortar ainda mais as taxas, mas que resultados que se podem realisticamente esperar?

Os bancos centrais acenam, por isso, com a necessidade de introduzir mais dinheiro nas economias por via fiscal. Mas, na verdade, como são estas instituições a financiar indiretamente os governos através da compra de dívida soberana ou criando condições para qua as taxas de juro permaneçam muito baixas, este convite a gastar mais (ou a receber menos) implica a monetização da dívida e a fusão entre a política monetária e fiscal.

E por isso é que hoje parece que as políticas monetária e fiscal – outrora independentes, sobretudo em regimes de padrão-ouro ou semelhantes – parecem ser apenas duas faces de uma mesma moeda.