[weglot_switcher]

Populismo cresceu com globalização e digitalização, diz Paulo Rangel

Segundo Rangel, a ascensão do populismo decorre de “duas tendências do início do século XXI que mudaram as sociedades e o espaço público”, “a globalização e a digitalização”.
1 Novembro 2018, 22h15

A ascensão do populismo é um problema do Ocidente, e não apenas europeu, e resulta da globalização e da digitalização, que criaram um sistema próximo da democracia direta, defendeu hoje em Lisboa o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel.

“Penso que é errada a análise que vejo por todo o lado, especialmente na Europa, de que a crise política tem a sua origem na própria União Europeia, nos seus partidos, nas suas instituições, […] numa ideia um pouco imperial e um pouco federal da Europa”, disse Rangel a uma audiência de estudantes portugueses e espanhóis reunidos em Lisboa para a “Escola Europa”, organizada pelo Partido Popular Europeu (PPE), de que é vice-presidente.

“Estas duas grandes mudanças criaram um fosso entre dois grandes grupos de pessoas: […] os info-incluídos, integrados nesta revolução, e os info-excluídos, esquecidos por aquele grande grupo”, disse.

Deu como exemplo, por um lado, “jovens que estão a perder algo, ganham 500 ou 600 euros, mas sentem-se incluídos, porque o seu sonho é o cosmopolitismo” e, por outro lado, “pessoas, muitas vezes mais velhas, que utilizam tudo, mas que não estão confortáveis com o desenvolvimento”.

Na sua opinião, esta “análise sócio-político-económico-cultural” explica o apoio do eleitorado britânico ao ‘Brexit’, mas também a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e outros casos de ascensão do populismo.

Politicamente, prosseguiu, “a revolução tecnológica” abriu caminho a “um sistema muito próximo da democracia direta”, em que cada um decide de acordo com o seu interesse, porque não representa os outros, mas apenas a si mesmo.

“E isto é completamente diferente do sistema representativo. […] em que represento o interesse da comunidade”, disse.

Esse sistema, foi crescendo com a perda de prestígio dos partidos políticos, nomeadamente devido a casos de corrupção, e dos meios de comunicação, fatores que juntos, eliminaram a mediação política e a mediação social.

Com as redes sociais, explicou, “deu-se a ilusão de democracia direta”, em que cada um pensa “que está a participar ativamente, a mudar a história com a sua palavra”.

“Mas é uma ilusão, porque o que está a mudar é o algoritmo do Facebook. É uma mediação, mas uma mediação que não é transparente nem visível. E por isso estamos a avançar da democracia direta para a demagogia”, frisou.

A resposta dos partidos europeístas a esta demagogia crescente, avançou Paulo Rangel em resposta a questões dos estudantes, passa por “revolucionar a comunicação”.

“Temos [de ter] um plano para a comunicação que é necessário e que penso que é fácil: olhar para os políticos populistas que têm êxito e copiar o seu exemplo de comunicação. Chegar às pessoas com uma mensagem simples”, disse.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.