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Portugal debate em Sevilha orçamento para projetos espaciais

O ministro português da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor, participa hoje e amanhã, em Sevilha, na reunião que vai decidir o orçamento com que a empresa GMV vai desenvolver tecnologia espacial durante os próximos três anos
27 Novembro 2019, 14h43

O orçamento e a atividade da empresa GMV, dedicada, entre outros, ao desenvolvimento de projetos tecnológicos ligados ao espaço e à Agência Espacial Europeia – ESA, vai ser debatido na reunião ministerial que se realiza em Sevilha, a 27 e 28 de novembro, onde participa o ministro português da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor. A GMV tem um papel de destaque na missão Hera cujo destino vai ser decidido esta semana em Sevilha, na reunião ministerial da ESA – na qual se definem as políticas e financiamento do próximo triénio. A missão Hera está articulada com a missão Dart, da NASA, e visa o sistema binário de asteroides constituído por Didymain (asteroides com 780 metros de diâmetro) e Didymoon (com 160 metros de diâmetro).

Numa primeira fase, a sonda Dart da NASA irá colidir com o asteroide Didymoon. A sonda Hera da ESA irá em seguida analisar a cratera, a constituição do asteroide e o desvio da órbita provocado pelo impacto. “Será a primeira vez que a humanidade conseguirá alterar a trajetória de um asteroide de forma artificial”, admite a GMV, considerando que este projeto “será precursor para a defesa planetária”.

O âmbito dos países participantes na GMV ultrapassa as representações estatais na Comissão Europeia, atendendo a que o Canadá faz parte da ESA. Entre os projetos que aguardam novas dotações orçamentais encontram-se a Missão Hera e o vaivém Space Rider.

“É importante que os projetos obtenham financiamentos acima do limiar mínimo dos valores orçamentados, porque se os financiamentos não chegarem aos mínimos, as missões em causa não avançam”, explicou ao Jornal Económico a diretora de Espaço da GMV, Teresa Ferreira. Portugal tem participado nestes projetos desde 2005, com dotações anuais que rondam os 18 milhões de euros.

A GMV é a maior empresa que opera em Portugal ligada ao setor espacial. Trata-se de uma sociedade anónima com perfil muito familiar, criada em 1984, em Madrid, atualmente gerida por Mónica Martínez. A sua composição acionista é a de uma multinacional de base tecnológica, com 2000 colaboradores e atividade desenvolvida em quase todos os continentes.

Em Portugal emprega cerca de 100 pessoas, das quais mais de 50 trabalham na área do Espaço. A sua atividade é desenvolvida em função da dotação que cada país e organização participante lhe atribui no âmbito das reuniões ministeriais que lhe são consagradas – como a reunião que esta semana é feita em Sevilha –, onde se debatem orçamentos e atividades para um triénio ou para períodos de quatro anos.

Entre os projetos da GMV encontra-se o sistema de controlo automático para o módulo orbital do vaivém espacial Europeu – Space Rider – cuja exploração comercial está prevista para 2025. Para além do módulo orbital – que ficará alguns meses a orbitar a Terra –, o módulo de reentrada do Space Rider irá aterrar nos Açores. Além disso, na área de New Space, a GMV especializou-se em tecnologia com vista a uma exploração comercial, “verde e segura” do Espaço, nomeadamente na área de micro-lançadores e remoção de lixo espacial.

A GMV aposta fortemente na utilização de tecnologias espaciais para fornecer produtos e serviços aplicados na Terra. A GMV tem em Portugal “uma das maiores equipas europeias a fornecer serviços baseados em navegação por satélite e deteção remota, através da participação em grandes programas europeus como Galileo e Copernicus”, refere a empresa.

Para Portugal o retorno deste investimento tem sido feito na base de dois euros por cada euro investido. “O volume de negócio gerado por ano ronda os 40 milhões de euros”, refere Teresa Ferreira, explicando que na União Europeia há países, como França e a Alemanha o retorno dos investimentos efetuados tem fatores entre 4 e 6, enquanto Portugal tem um fator 2.

“Há muitos projetos em curso em Portugal e o enquadramento legal mudou, com a aprovação da Lei do Espaço e a criação da Agência Espacial Portuguesa, o que significa que o potencial desta área também deverá aumentar, elevando o retorno do investimento a médio prazo”, comenta Teresa Ferreira. “Agora, para a atividade desenvolvida em Portugal nesta área, importa continuar a crescer na cadeia de valor para fornecer subsistemas e não apenas tecnologia”.

Entre o investimento global concretizado, é muito importante a parte do investimento público, mas os projetos comerciais são igualmente relevantes para a evolução tecnológica de muitos sectores industriais, entre eles o sector automóvel. “Um exemplo é o desenvolvimento dos sistemas de navegação por satélite, que teve um avanço considerável no programa Galileo no âmbito da ESA e atualmente é uma tecnologia fundamental para o sector automóvel, que utiliza o sistema desenvolvido pelo GNSS – Global Navigation Satellite System e que tem sistemas homólogos na Rússia (o Glonass), na China (o Beidou) ou nos EUA (o GPS). Mas há outros exemplos, como o sistema de vigilância de fronteiras, como o utilizado pela Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex), sediada em Varsóvia, na Polónia.

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