Governar é, frequentemente, a difícil arte de tentar defender o bem comum através da escolha entre dois males. Será este o raciocínio subjacente ao investimento de 200 milhões de euros que a Santa Casa está a preparar-se para realizar no Montepio. Se a banca fosse um negócio pujante e o Montepio uma oportunidade única, não faltariam interessados em investir na instituição. Mas, infelizmente, não só a banca é um negócio pouco rentável nos dias que correm, como o Montepio ainda tem problemas por resolver.

Do ponto de vista do Governo, a entrada da Santa Casa permite resolver esses problemas do banco, evitando males maiores. Em primeiro lugar, porque a Santa Casa é uma instituição que, dependendo do Estado, não lhe pertence, o que significa que o seu investimento no Montepio não será considerado uma ajuda pública. Em segundo lugar, porque a Santa Casa é uma das poucas instituições em Portugal que têm centenas de milhões de euros disponíveis “à ordem”. Não por acaso, há um ano, o Governo chegou a equacionar a entrada da Santa Casa no Novo Banco, numa altura em que o futuro deste era incerto.

Assim, mesmo não concordando com a utilização da Santa Casa para capitalizar o Montepio – é, como alguém disse, tirar aos pobres para dar aos ricos -, compreende-se o racional por detrás da operação. Entre dois males, o Governo opta pelo que considera ser o menor deles.

O que não se compreende é toda a oratória sobre o Montepio como “banco social”. Mas o que é um “banco social”? Um banco que tem outros princípios que não apenas os de uma gestão sã e prudente? Um banco que é menos exigente na hora de conceder crédito? Um banco mais “compreensivo” para algumas empresas ou IPSS? A que se refere a Associação Mutualista, liderada por Tomás Correia, quando fala no Montepio como um “banco social”, chegando ao ponto de afastar José Félix Morgado por alegadamente não ter “perfil social”?

Na verdade, existem entidades no setor financeiro que têm um forte papel na área social. E se isto é um “banco social”, então Portugal já tem um. Chama-se CaixaBank, é catalão e é o maior acionista do BPI.

O CaixaBank é igual a todos os outros bancos, faz uma gestão rigorosa e existe para fazer lucro. De seguida, entrega os lucros ao seu principal acionista, a Fundação La Caixa, que todos os anos investe 500 milhões de euros em projetos de âmbito social. Em Portugal, serão 50 milhões de euros por ano.

Se a Associação Mutualista pretende que o Montepio seja um “banco social”, tem de começar por permitir que a instituição seja bem gerida e dê lucro. Para que “banco social” não seja, no fim de contas, sinónimo de socialização de prejuízos.