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Receitas televisivas: Portugal é uma ‘gota’ num continente de milhões

A receita dos direitos televisivos é a que mais cresce atualmente na Europa. Em Portugal, a UEFA traçou um cenário negro no qual, em teoria, um clube inglês teria liquidez para comprar a totalidade dos direitos televisivos na Liga portuguesa.
10 Março 2019, 10h00

É um cenário negro para Portugal este que a UEFA traça no estudo que foi divulgado no passado mês de janeiro. O último relatório da autoridade máxima dos clubes a nível europeu olhou para a Liga nacional a vários níveis e comparou-a com outras ligas do ‘Velho Continente’.

No que diz respeito às transmissões televisivas, Portugal é destaque pela negativa por ser única grande liga europeia onde os clubes vendem os seus direitos televisivos individualmente, e isso reflete-se, naturalmente, na diferença de receitas dos três ‘grandes’ para os restantes: o rácio de receita televisiva de um clube grande para um emblema de média dimensão em Portugal é superior a 1.500%, sendo que, nas 24 ligas onde a venda de direitos é centralizada, essa diferença, em média, é de 240%.

Se o ‘bolo’ de 126 milhões de euros, referente às receitas televisivas em Portugal em 2017, fosse dividido de forma igual pelos clubes da Liga, cada clube português receberia sete milhões de euros. Se o mesmo princípio fosse aplicado noutras ligas europeias, cada emblema turco receberia mais do dobro (16 milhões), sendo que, em Inglaterra, cada clube teria direito a 146 milhões de euros.

Este valor seria mais do que suficiente para que, por hipótese, um emblema britânico adquirisse a totalidade do ‘bolo’ de direitos televisivos em Portugal e ainda sobravam 20 milhões de euros. O tema foi debatido na última edição do Jogo Económico, que teve como convidado Luís Vilar, docente na Universidade Europeia, para o qual  “esta é uma  é uma realidade drástica”, do futebol português”, onde Benfica, FC Porto e Sporting, são os principais responsáveis.

“Quando olhamos para os ‘três grandes’ [do futebol português], percebemos que esta rubrica dos direitos de transmissão televisiva corresponde a 30%, mas quando olhamos para [os ‘clubes] pequenos’, representam cerca de 90% a 95%, ou seja, há uma sobredependência dos ‘clubes pequenos’ em relação aos direitos de transmissão televisiva”, sublinhando que “tem de haver maior equilíbrio entre as equipas” que “não podem defender no último terço do campo, ou fazer 30 faltas por jogo.”

João Marcelino, jornalista e comentador do programa, alinha pelo mesmo pensamento de Luís Vilar, já que “quem não quer a centralização dos direitos de transmissão televisiva em Portugal, são o Benfica, o Futebol Clube do Porto, o Sporting e agora até o [Sporting] Braga”, pelo facto dos clubes grandes terem “muito medo que lhes falte o dinheiro para depois competirem lá fora”. O jornalista traça ainda uma realidade negativa do futebol nacional.

“A verdade é que muitos dos clubes em Portugal, não têm praticamente adeptos. O problema é que os dirigentes em Portugal olham pouco para o negócio e estão sempre preocupados com a vitória no dia seguinte”, sublinha João Marcelino. Por sua vez, o também comentador do Jogo Económico, e advogado, Luís Miguel Henrique, não acredita “que possa existir um acordo [entre os clubes] porque não há vontade e muito menos que seja rápido. Para haver um acordo, terá de ser imposto de forma coerciva”.

Artigo publicado na edição nº 1977, de 22 de fevereiro, do Jornal Económico

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