O retrato de 2025 traçado pelo estudo “Consumer Sentiment Survey 2025”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG), mostra famílias portuguesas cada vez mais pressionadas pela dificuldade em poupar e pelo aumento da fatura com necessidades básicas, que continua a limitar o consumo não essencial. Ao mesmo tempo, assiste-se a uma transformação gradual do perfil de investidor, com mais mulheres e indivíduos com formação superior a diversificarem os seus portefólios e a procurar ativos de maior risco. Esta realidade revela não só os desafios da conjuntura económica, mas também sinais de mudança nos comportamentos financeiros, que poderão vir a redefinir padrões de consumo e investimento no país.
Os portugueses continuam a não conseguir poupar, com 64% a amealhar menos de 10% do seu salário líquido e 36% a não conseguir guardar nem 5% do que recebe, percentagens que agravaram face a 2024 (61% e 38%, respetivamente), segundo o estudo realizado pela Boston Consulting Group (BCG).
Por outro lado, 18% dos inquiridos pela BCG admite poupar entre 10% a 20% do seu salário, uma descida de dois pontos percentuais (pp.) face ao ano passado, 8% reserva 20 a 30% (menos 1 pp. do que em 2024), e apenas 2% consegue economizar mais de 50% do que aufere, sem alterações face ao período anterior.
Quando conseguem poupar, 60% dos portugueses destinam essa fração dos rendimentos para responder a potenciais imprevistos, 40% para acumular para a reforma e 31% para viajar, de acordo com o “Consumer Sentiment Survey 2025”.
Segundo o estudo, comprar casa é uma prioridade para 22% dos inquiridos, seguida de comprar um carro (15%) e gastar noutros bens de consumo (12%), esta última registando uma ligeira subida em comparação com o ano passado.
“A poupança em Portugal continua fortemente concentrada em depósitos e instrumentos de baixo risco. Ainda assim, observamos sinais encorajadores, com mais portugueses a procurarem diversificar as suas poupanças e investir com uma perspetiva de longo prazo. Este é um caminho que importa acelerar para fortalecer a resiliência financeira das famílias.” afirma Tiago Kullberg, Managing Director e Partner na BCG Lisboa.
No que concerne aos hábitos de consumo, verificam-se algumas alterações face ao ano passado, diz consultora.
Este ano, 58% dos portugueses revelam ter sentido um aumento nos gastos com alimentação, 36% com farmácia e saúde, 35% com o veículo pessoal, 35% com a renda da habitação e 36% com restauração.
“O aumento da despesa em necessidades básicas provocou uma queda acentuada dos gastos noutras categorias, nomeadamente entretenimento fora de casa (-34%), roupa e acessórios (-31%), viagens e férias (-27%), perfumaria e maquilhagem (-21%) e bebidas alcoólicas (-19%)”, segundo o estudo.
Apesar de a maior parte das variações em gastos terem afetado todas as faixas etárias, o aumento de gastos com farmácia e saúde foi principalmente sentido pela população sénior, enquanto os mais jovens foram os que mais sentiram uma subida da fatura com renda e veículo pessoal.
Mais abertura ao risco, mas perfil conservador prevalece
O estudo revela ainda que, no geral, os portugueses continuam a ter um perfil de investimento conservador, preferindo alocar as poupanças em produtos de baixo risco.
No entanto, a BCG nota um aumento do número de portugueses que investem em ativos financeiros com risco para 20%, uma diferença de 3 pp. em relação ao ano passado. Com um em cada quadro pessoas com ensino universitário a afirmar investir em ações ou obrigações, relevando um perfil menos conservador, este aumento é particularmente visível nas mulheres que subiram 4 pp. face a 2024, passando para 15%.
Apesar disso, os homens continuam a ter mais propensão para investir em ações e obrigações, tendo a diferença entre os dois sexos até aumentado de 8 pp. para 10 pp.
Por outro lado, a população sénior mantém-se como a mais conservadora, mas com sinais de maior diversificação, enquanto até entre os menos escolarizados se observa um aumento do investimento em risco.
O estudo tem como base um inquérito a 1.000 portugueses em todo o território de Portugal continental, conduzido em agosto de 2025, com base em 44 perguntas relacionadas com o sentimento dos portugueses para com os seus hábitos de consumo, poupança e investimento.
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