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Presidente da Adega de Monção critica falta de apoios público ao sector e à restauração

A produtora vitivinícola aumentou em 4% as exportações no ano passado, mas a pandemia provocou uma quebra de 15% nas vendas no mercado interno. Armando Fontainhas aposta na diversificação de mercados, mas considera que 2021 vai ser outro ano difícil.  
24 Abril 2021, 18h00

A Adega de Monção encerrou o ano passado com uma faturação de 13,3 milhões de euros, num exercício muito difícil devido à pandemia. “O crescimento tem sido sólido e numa tendência crescente a rondar os 6% em média nos últimos oito anos. Obviamente, temos que excluir o ano de 2020, sendo um ano completamente atípico com quebra do volume de faturação sem precedentes”, explica Armando Fontainhas, presidente da adega cooperativa, em declarações ao Jornal Económico.

Em 2020, a Adega de Monção não teve investimentos relevantes, “pois foi tudo suspenso dada a pandemia”. “Em relação aos investimentos previstos para 2021 e já aprovados pela assembleia geral da Adega de Monção, são de 438 mil euros e dividem-se em manutenção dos edifícios, sistemas de vigilância, painéis fotovoltaicos para diminuir na pegada ecológica e na Enoteca Adega de Monção”, revela Armando Fontainhas.

Os cooperantes da Adega de Monção possuem 1.236 hectares, divididos por Monção e Melgaço. Na região de Monção, a área de cultivo de vinha é de 958 hectares, sendo 191 designados para as castas tintas, 111 para a Trajadura e os restantes 656 para a Alvarinho. Já na região de Melgaço, a vinha tem uma área de 278 hectares, onde apenas 26 hectares são divididos para as tintas e a Trajadura e a maioria é ocupada pela casta rainha, o Alvarinho (252 hectares).

“A produção média anual da Adega de Monção ronda os 6,5 milhões de garrafas, o que corresponde a cerca de oito milhões de quilos de uva. Todos os anos submetemos uma candidatura conjunta, de diversos associados da Adega de Monção, ao programa Vitis para a renovação e reconversão de novas vinhas, com uma área em média de 60/70 hectares ano”, salienta o presidente da Adega de Monção.

A casta predominante na Adega de Monção é o Alvarinho, “como não podia deixar de ser, uma vez que é a casta rainha da sub-região de Monção e Melgaço”. “Trata-se da casta mais bem paga do país e propiciadora de vinhos únicos e de elevada qualidade. Além do Alvarinho, também vinificamos Trajadura e as castas tintas Alvarelhão, o Pedral e o Vinhão”, explica Armando Fontainhas.

A componente exportadora é outro ponto alto da atividade da Adega de Monção. “Somos o maior exportador da sub-região de Monção e Melgaço e esta componente tem vindo a ganhar terreno de ano para ano. Nunca é demais lembrar que a Adega de Monção é líder na restauração com o vinho verde Muralhas de Monção e que no vinho Adega de Monção tinto é a primeira marca de vinho verde tinto, sendo líder no mercado. Este ano de 2020, um ano complicado a todos os níveis, mostrou ser um ano positivo na nossa exportação com um crescimento de 4% face a 2019, uma tendência que se verifica nos últimos anos sendo cada vez mais o nosso foco”, assume Armando Fontainhas.

Os principais mercados de exportação são os Estados Unidos, Polónia, Reino Unido, França e Brasil, “mas ambicionamos apostar em mercados como a Polónia e a Rússia, pela sua dimensão e pela apetência a vinhos brancos, sendo que neste dois mercados trabalhamos com os dois principais players da grande distribuição”, adianta o presidente da Adega de Monção. “O Reino Unido tem vindo a mostrar cada vez mais interesse nos vinhos da nossa região, em especial da sub-região de Monção e Melgaço, pela sua elevada qualidade, e nós temos a possibilidade de trabalhar este mercado na grande distribuição, uma vez que alia a elevada capacidade produtiva à qualidade. No entanto, é fulcral continuar a apostar nos EUA e no Brasil, uma vez que são mercados com quem temos uma longa relação comercial e que têm bastante maturidade do mercado e capacidade de absorção do nosso produto. No mercado norte-americano, temos parcerias criadas para a conceção de vinhos com marcas dedicadas às cadeias de distribuição”, assinala Armando Fontainhas.

A Adega de Monção tem vindo a investir na aquisição e instalação de painéis fotovoltaicos e diversos investimentos na linha de produção nos últimos anos. “Este esforço permite uma melhoria da componente da embalagem e, consequentemente, uma maior flexibilidade e utilização de diversos tipos e formatos de rotulagem nos produtos. Assim, conseguimos criar novos produtos em segmentos premium. Investimos, para isso, numa nova máquina rotuladora e num fim de linha totalmente automatizado”, destaca este responsável. No campo da Investigação & Desenvolvimento (I&D) foram feitos investimentos em parceria, com a empresa Yeast Wines Lda, na produção do Alvarinho Deu La Deu Terraços, “um investimento inovador que nos permitiu produzir um Alvarinho com leveduras 100% autóctones e que resultou em diversos prémios nos concursos”. Em parceria com a Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD) e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), a Adega de Monção tem em curso o projeto Terr@no no âmbito da zonagem agroecológica da sub-região de Monção e Melgaço. “Com este investimento, esperamos obter melhor conhecimento ao nível mais fino da parcela de cultivo, por forma a maximizarmos a qualidade do produto final e o rendimento do viticultor”, defende Armando Fontainhas.

“Temos pequenos investimentos indispensáveis como a manutenção da capacidade produtiva e temos planeado o investimento da enoteca que será executado quando acharmos oportuno. Também está planeada a aquisição de novos painéis fotovoltaicos que aumentem a nossa capacidade instalada, que atualmente é de 75Kw, de maneira a diminuirmos de forma gradual a nossa pegada ambiental”, acrescenta este responsável, sem esquecer “o impacto na sustentabilidade social que a nossa empresa tem nos territórios de Monção e Melgaço”.

Sobre a vertente do enoturismo, “temos um programa de visitas e provas que, neste momento, devido às condicionantes da pandemia, está suspenso”. “Contudo, temos desenhado um circuito interno de visita às instalações e loja de venda ao público, tudo recentemente intervencionado com obras de requalificação. Além disso, temos em carteira e aprovado pelos cooperantes, a construção de uma enoteca, que servirá de sala de provas e local de receção de clientes, jornalistas e turistas”, anuncia o presidente da Adega de Monção.

No entanto, a realidade é o que é, sendo impossível fugir ao impacto negativo da Covid-19. “O facto de sermos um produtor com uma enorme representação na restauração, fez com que tivéssemos uma quebra evidente, de 15%, no mercado nacional. A Adega de Monção é líder de mercado neste segmento com as marcas Muralhas de Monção e Alvarinho Deu La Deu, nos monovarietais Alvarinho. No que diz respeito à exportação, verificámos um aumento de 4%. Esta crise sanitária resultou num comportamento igual em todo o mundo, nos mercados do vinho. A quebra foi e é acentuada no canal Horeca [Hotelaria, Restauração, Cafetaria] e no ‘off trade’ vemos uma estabilização com crescimentos pontuais”, resume Armando Fontainhas.

“Tendo uma enorme presença na restauração com as marcas Muralhas de Monção e Alvarinho Deu La Deu e estando esta fechada há tantos meses, é natural que o impacto direto nas vendas da empresa sejam elevados. Contudo, tentamos diversificar ao máximo e apostar na exportação, nomeadamente o ‘off-trade’ nestes mercados externos que tem corrido bem, mas é um trabalho que necessita do seu tempo. Estamos a concretizar parcerias com marcas específicas para alguns mercados, como o Reino Unido e os Estados Unidos, que permitem a colocação dos nossos vinhos noutros canais de distribuição, retirando peso ao canal ‘on trade’ que se encontra fechado”, resume o presidente da Adega de Monção.

Para 2021, “a perspetiva é de um ano muito difícil e com a certeza de que, a seguir à crise sanitária, vamos assistir a uma crise económica, pelo que para este ano perspetivamos um cenário negativo”, prevê o presidente da Adega de Monção, criticando a falta de apoios públicos ao sector. “A enorme falta de apoios públicos ao nosso sector é um importante tema que deve ser abordado. Nesta fase de crise, não nos foi permitido candidatar aos apoios do Adaptar! e os apoios de 2020, no que diz respeito à destilação e armazenamento, foram curtos e nem nos permitiam candidatar às duas modalidades. Claro que a escassez de apoios ao setor da restauração, tão prejudicado nesta pandemia e a quem tanto devemos, também nos afetou bastante e é importante debelar. Esta falta de apoios vai ter elevados custos em falências, desemprego e perca de um saber acumulado, que será difícil recuperar”, alerta Armando Fontainhas.

A Adega de Monção tem uma estrutura bastante curta e tem-se mantido nos 30 colaboradores, a que se juntam 1.680 cooperantes, “que representam o mesmo número de famílias nos concelhos de Monção e Melgaço, o que se traduz em muitas centenas de postos de trabalho indiretos”. “A Adega de Monção investe e distribui, anualmente, quase nove milhões de euros para 1.680 famílias de Monção e Melgaço. Somos o sustento económico que permite uma qualidade de vida superior à média dos restantes concelhos do país. Estes pagamentos são distribuídos em três momentos, no pagamento dos primeiros 50% da colheita antes do Natal, o pagamento dos restantes 50% antes da Páscoa – e na distribuição de excedentes em junho”, garante o presidente da Adega de Monção.

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