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Linha Retomar. Presidente da CIP acusa ministério das Finanças de ter “atitude mastodôntica”

“Lamentavelmente a Linha Retomar vem com um quadro demasiado limitativo”, disse António Saraiva que considera que, apesar dos critérios apertados de acesso à linha, os mil milhões de euros para um montante de créditos de 25 mil milhões não vão chegar”. O presidente da CIP vai mais longe e acusa o ministério das Finanças de ter uma “atitude mastodôntica”.
  • Cristina Bernardo
3 Outubro 2021, 11h41

O presidente da CIP, António Saraiva, disse,  em entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, que o acesso à Linha Retomar exige 8 critérios de avaliação e a medida “vai abranger apenas 10% dos códigos de atividade económica”, criticando a linha com garantias do Estado para ajudar as empresas que não conseguem pagar os créditos depois do fim das moratórias. “É quase como passar por o buraco de uma agulha”, ironiza o patrão dos patrões.

“Lamentavelmente a Linha Retomar vem com um quadro demasiado limitativo”, disse António Saraiva que considera que, apesar dos critérios apertados de acesso à linha, os mil milhões de euros para um montante de créditos de 25 mil milhões não vão chegar”.

O presidente da CIP vai mais longe e acusa o ministério das Finanças de ter uma “atitude mastodôntica”, impossibilitando grande parte das empresas de recorrerem à linha Retomar criada para ajudar as empresas após o fim das moratórias. O patrão dos patrões acredita que se o ministro da Economia tivesse outro “grau de liberdade, a linha vinha formatada de outra forma”.

António Saraiva lamenta também que o Governo tenha agido tardiamente, a uma semana do fim das moratórias e alerta que nesta altura “nem os bancos sabem ainda como vai funcionar o protocolo com o Banco de Fomento, para fazer chegar o dinheiro aos empresários”.

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal acredita, no entanto, que a maioria das empresas “está em condições de honrar os seus compromissos” com a banca agora que as moratórias acabaram. Mas há um conjunto de empresas que não têm condições de retomar o pagamento dos seus créditos.

O Banco Português de Fomento (BPF) anunciou uma linha de garantias públicas no valor de 1.000 milhões de euros para reestruturações dos créditos empresariais que estavam em moratória. As garantias vão cobrir até 25% do crédito em moratória que for reestruturado, até um máximo de 10 milhões de euros por operação.

Mas as empresas e a banca têm criticado as condições da Linha Retomar.  Isto porque os créditos reestruturados no âmbito deste programa vão ser classificados como “reestruturação” dos empréstimos,  por não estar prevista uma exceção dos reguladores para um tratamento diferenciado, o que significa que esses créditos vão contar para o rácio de Non Performing Exposure (NPE) o que vai exigir mais capital à banca e criará um estigma às empresas no sistema financeiro, dado que as empresas que recorrerem à reestruturação dos créditos, agora que as moratórias acabaram, ficam “marcadas” pelo menos durante dois anos na banca com consequências no acesso a financiamento bancário, como acontece com as outras reestruturações.

O presidente da CIP diz que o ministério da Economia tem problemas de relacionamento com o ministério das Finanças e acusa o ministro das Finanças de falta de diálogo com a CIP, para além de acusar João Leão de criar “uma política restritiva que prejudica as empresas”.

O Expresso deste fim-de-semana avançava que a contestação ao Ministro das Finanças João Leão está a subir dentro do PS. No mercado há rumores de que o ministro será um dos remodeláveis numa futura remodelação que António Costa faça.

Na mesma entrevista à Antena1, António Saraiva pede ainda ao Governo um sinal para as empresas no próximo Orçamento do Estado, à semelhança do que o primeiro-ministro fez ao anunciar uma mexida nos escalões IRS para os particulares. Considera que a negociação tem muito de tacitismo eleitoral e pouco de estratégica económica. Mas ainda assim espera que sejam tomadas medidas concretas, em sede de OE, nomeadamente o fim do pagamento por conta.

O presidente da CIP considera também que com o impacto da pandemia não faz sentido continuar a manter a meta dos 750 euros de salário mínimo em 2023. António Saraiva defende que o Governo tem de rever esta meta e diz que está disponível para negociar um aumento do salário mínimo, desde que não sejam aumentos irracionais. Os 705 euros de aumento para algumas empresas são excessivos.

Saraiva considera que o governo continua refém da esquerda parlamentar e lamenta a ausência de um centro direita parlamentar assertivo, consequente e presente, e refere que “a guerra fratricida” que se vive internamente no PSD não tem permitido fazer uma verdadeira oposição.

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