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Presidente do Benfica admite ter alertado um acionista da SAD para comprar a Imosteps ao Davidson Kempner por 8 milhões

José António dos Santos, conhecido como ‘Rei dos Frangos’, um dos donos da Valouro e maior acionista individual da Benfica SAD, comprou por 8 milhões a dívida da Imosteps (de Luís Filipe Vieira) que o Novo Banco vendeu ao fundo norte-americano Davidson Kempner, depois de ter tentado comprar antes do Nata II por 10 milhões, o que foi recusado pelo banco.
10 Maio 2021, 18h43

Na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Novo Banco, Luís Filipe Vieira foi confrontado pelos deputados com a dívida da Imosteps – Promoção Imobiliária. Esta sociedade tem 50% de uma empresa detida pelo Novo Banco, BCP e a Promovalor e grupo madeirense AFA, a Oata.

A deputada do BE confrontou Luís Filipe Vieira com um documento do Banco de Portugal que diz que “de acordo com o Novo Banco, parte dos créditos concedidos pelo Novo Banco foram alocados ao serviço de dívida da empresa e à transferência de determinados montantes para contas pessoais dos acionistas. Foi identificada, entre outras, uma transferência para Luís Filipe Vieira”.

“De certeza que eu nunca levantei um tostão para mim”, respondeu o presidente do Benfica.

A Imosteps tinha uma dívida à Promovalor de 8 milhões, disse Mariana Mortágua que pergunta se esses 8 milhões emprestados à Oata foram para emprestar à Promovalor.

Em 2012 a Imosteps comprou 50% da Oata e “foi um favor que fez ao BES”. Comprou esses 50% à Opway (que era do GES) pagando um valor da qual o empresário não se lembra.

A Oata, por sua vez, era dona de uma sociedade americana, a Mural, registada no offshore do Delaware. “Nunca tive uma offshore“, garantiu ainda Luís Filipe Vieira, salientando que foi o BES e o BCP que montaram algumas sociedades em offshore.

Por sua vez a Mural era dona de cinco sociedades imobiliárias no Brasil, proprietárias de terrenos: cemitérios em Piabas e Guaritiba, mais 102 mil metros quadrados de área edificável, segundo um documento interno do Novo Banco. Muitos desses terrenos eram problemáticos e a sua rentabilização duvidosa – num deles, por exemplo, estava uma favela.

Depois de ter comprado os 50% da Oata à Opway a Imosteps recebeu 54,3 milhões de crédito para apoiar investimento, nomeadamente a Oata recebeu 43 milhões de suprimentos, segundo Mariana Mortágua. Os restantes cerca de 11 milhões não foram esclarecidos pelo empresário que remeteu a resposta para o sócio no Brasil.

Sobre a Imosteps, Luís Filipe Vieira contou que a dívida já existia dentro do banco – era uma dívida da Opway. A Opway tinham um terreno no Brasil, e “pensavam que tinham um determinado ativo, com um determinado valor e que podiam ter lá um tipo de construção. Mas aquilo estava numa zona que era considerada reserva ecológica”. Depois o presidente do Benfica e da Promovalor contou que como  estavam no Rio de Janeiro,  Ricardo Salgado pediu-lhe se podiam “olhar para aquilo”.

“Empenhámo-nos naquela situação, estava numa zona que depois viria a ser considerada reserva ecológica, havia outros detentores de terrenos ali, e conseguimos chegar a acordo com o Prefeito de, noutra área, conseguimos 102 mil m2 de construção, o que quer dizer que aquilo tem um valor”, relatou.

“Quando chegámos a Portugal, caiu o BES  – qualquer pessoa dentro do BES sabe esta história, é uma dívida que eu não considero minha”, disse Luís Filipe Vieira, considerando que resolveu “um problema ao banco”, disse adiantando que “quando começamos a discutir com o Novo Banco a reestruturação da dívida chegámos a tentar reestruturar também a Imostep, nós sabemos o valor que aquilo tem, mas nunca houve vontade alguma de incluir a Imostep na reestruturação”, contou o empresário.

A dívida da Imosteps foi vendida pelo Novo Banco  ao fundo norte-americano Davidson Kempner (no Nata II) por cerca de 5 milhões de euros, aproximadamente 10% do valor da dívida da Imosteps. Esta empresa, que é controlada por Luís Filipe Vieira, tem ativos no Brasil, e ficou fora das reestruturações de 2015 e de 2017 feitas pelo Novo Banco.

“Uma dívida que não foi minha, foi avalizada por mim e por meu sócio”, disse o empresário que sugere que encontrou (sugeriu) um comprador para essa dívida e “resgatámos os avales”. O presidente do Benfica disse que alguém comprou a Imosteps. “Quem comprou, pagou 8 ou 9 milhões de euros”, referiu.

O empresário José António dos Santos – conhecido como ‘Rei dos Frangos’ -, e um dos donos da Valouro e maior acionista individual da Benfica SAD, comprou por 8 milhões de euros a dívida da Imosteps que o Novo Banco vendeu ao fundo norte-americano Davidson Kempner, depois de ter tentado comprar antes do Nata II por 10 milhões, o que foi recusado pelo banco.

Luís Filipe Vieira admitiu esta segunda-feira na comissão parlamentar de inquérito (CPI) do Novo Banco que foi um fundo de capital de risco (fundo Iberis Semper) e José António dos Santos quem ficou com a dívida da Imosteps e os ativos dessa empresa.

“Não conheço o fundo, mas a pessoa que pôs o dinheiro conheço, conheço a pessoa”, disse Luís Filipe Vieira sobre o investidor que foi José António dos Santos.

“Eu acho que ele fez um ótimo negócio”, disse Luís Filipe Vieira, defendendo que ao adquirir esses créditos da Imosteps José António dos Santos ficou com uma carteira de terrenos de 102 mil metros quadrados no Rio de Janeiro.

José António dos Santos, além de sócio da Valouro e maior acionista individual da Benfica SAD, é sócio de Luís Filipe Vieira e da sua filha em duas empresas imobiliárias em Portugal.

José António dos Santos também assumiu a dívida de que o presidente do Benfica era avalista numa pequena empresa de pneus da Amadora, a David Maria Vilar.

Já a deputada Mariana Mortágua perguntou a Luís Filipe Vieira qual é o património por trás do aval pessoal. O Novo Banco terá pensado em executar o aval, mas nunca o fez porque Luís Filipe Vieira tem apenas em seu nome uma casa descrita como um palheiro com área coberta de 160 metros quadrados e um logradouro, segundo um documento da comissão de acompanhamento do banco. Disse que não era verdade essa informação sobre o seu património, “não vivo aí e tenho mais de uma casa, mas não tenho necessidade de lhe dizer o meu património porque não está em incumprimento com o banco”, disse ao mesmo tempo que reconheceu que o Novo Banco nunca fez um levantamento do seu património.

“Tenho outros negócios e uma boa reforma. Entretanto recebi dois milhões e tal de euros que recebi do fisco”, disse Luís Filipe Vieira que como presidente do Benfica não recebe porque é um cargo não remunerado.

“Tenho sociedades com outras pessoas, que não estão penhoradas pelo Novo Banco, nem têm de estar”, disse o empresário à deputada do Bloco que lembrou que só à Imosteps o banco vendeu a dívida de 54 milhões com uma perda de 52 milhões.

“A dívida não era minha”, frisou.

 

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