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Presidente do Kosovo renuncia para enfrentar acusação de crimes de guerra

Hashim Thaci é acusado pelo tribunal de Haia de diverso crimes, praticados enquanto líder guerrilheiro na guerra dos anos de 1990 contra a Sérvia. O Kosovo é independente desde 2008, mas os sérvios não o reconhecem como país autónomo.
5 Novembro 2020, 17h40

O presidente de Kosovo, Hashim Thaci, antigo líder guerrilheiro durante a guerra do Kosovo pela independência da Sérvia no final da década de 1990, renunciou ao seu mandato esta quinta-feira e enfrentará acusações da prática de crimes de guerra e crimes contra a humanidade num tribunal especial com sede em Haia.

Thaci, citado pelos jornais sérvios, disse que tomou a decisão “para proteger a integridade da presidência do Kosovo” e para preservar a verdade histórica sobre quem foram os autores e quem foram as vítima do conflito.

“Somos um povo que ama a liberdade e não somos vingativos”, disse Thaci numa entrevista coletiva em Pristina, capital de Kosovo. “É por isso que nenhuma reivindicação pode reescrever a história. O Kosovo foi a vítima. A Sérvia foi a agressora”.

Thaci foi indiciado pelo tribunal de Haia no passado verão, juntamente com outros nove ex-líderes rebeldes. O tribunal foi criado para julgar os alegados crimes de ex-líderes rebeldes kosovares de etnia albanesa. As acusações incluem assassinato, desaparecimentos forçados, perseguição e tortura.

Entre os acusados ​​está Kadri Veseli, ex-presidente do parlamento e atual líder de um dos partidos da oposição, que disse que tem programada uma ida a Haia e que renunciou a “todas as atividades políticas públicas”.

Thaci, um comandante do Exército de Libertação do Kosovo (KLA) durante a guerra, disse que estava orgulhoso de ter pertencido a essa força rebelde, que considerou ser “o valor mais sublime da nação albanesa”. E disse que a acusação é “o menor preço que temos que pagar pela liberdade do nosso povo”.

Por seu turno, o governo kosovar disse em comunicado que todos os réus devem ser considerados inocentes, a menos que o tribunal decida o contrário. “Ninguém pode julgar a nossa luta pela liberdade”, diz o comunicado, acrescentando que o KLA “lutou pela libertação do nosso país, para proteger a casa kosovar e não a terra estrangeira, e como tal tem o apoio da comunidade internacional”.

A investigadora da Amnistia Internacional nos Balcãs, Jelena Sesar, disse entretanto que a acusação de Thaci e de outros nove elementos dá esperança a “milhares de vítimas da guerra do Kosovo que esperaram durante mais de duas décadas para descobrirem a verdade sobre os horríveis crimes cometidos contra eles e  contra os seus entes queridos”.

Após a guerra, Thaci criou o Partido Democrático de Kosovo e foi ministro das Relações Exteriores, vice-primeiro-ministro e primeiro-ministro, sendo agora presidente, desde abril de 2016. As relações entre o Kosovo e a Sérvia continuam tensos 21 anos após o fim da guerra, apesar de nove anos de negociações mediadas pela União Europeia e apoiadas pelos Estados Unidos para que os dois países encontre uma plataforma de entendimento que permita uma vizinhança pacífica e cooperante. Recorde-se que o Kosovo declarou a independência unilateralmente em 2008 e que a Sérvia continua a recusar reconhecê-la.

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