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Problemas na banca “surpreenderam-me pela dimensão”, assegura presidente da CIP

Em entrevista ao programa “Primeira Pessoa”, o palco das grandes entrevistas do Jornal Económico (com Shrikesh Laxmidas, Diretor Adjunto do Jornal Económico e o jornalista João Marcelino), António Saraiva, presidente da CIP falou do caminho que Portugal deve seguir para se tornar mais competitivo.
  • Cristina Bernardo
12 Março 2019, 07h45

Voltando a falar a economia nacional, e no contexto global de abrandamento, incluindo a zona euro muito devido à guerra comercial entre os EUA e a China que tem avanços e atrasos. Como vê as perspetivas da economia portuguesa neste contexto? Estamos a abrandar, certamente, mas até onde vai este abrandamento este ano?

Estamos a abrandar. Vivemos numa economia global, o mundo deixou de ser bipolar e multipolar. Temos várias tensões – a guerra comercial – mas depois há outros fatores como é o ‘flop’ da cimeira dos EUA com a Coreia do Norte. Criam-se expectativas e estas são goradas, o mundo reage.

Há o Brexit.

O Brexit e a ameaça que tem sob a economia portuguesa também. A desagregação do próprio modelo europeu porque a União Europeia em vez de se criar como uma verdadeira união, ela própria insere fenómenos de desagregação que são preocupantes a esta escala global e nós estamos inseridos neste espaço económico. Todos estes sinais fazem perigar a estabibilidade da economia portuguesa porque somos uma economia pequena e aberta ao mundo.

Felizmente temos tido os ‘astros alinhados’ devido às taxas de juro, o preço do petróleo, a estabilidade que tem existido ou o crescimento de alguns dos nossos parceiros económicos, algo que também está em arrefecimento. Recordo que 75% das nossas exportações destinam-se à Europa. A Europa está, como conseguimos observar, em declínio; a própria Alemanha começa a dar sinais de abrandamento, o Brexit tem os seus efeitos. Apresentamos um estudo em que demonstramos que mesmo com acordo, as exportações portuguesas poderão sofrer um decréscimo de 15% e sem acordo, esse valor poderá ir até 25%. O Reino Unido é o nosso primeiro mercado de exportação de serviços e o quarto nos bens. Os efeitos são óbvios, e já estamos a senti-lo porque 9% da redução do turismo no Algarve e na Madeira está a sentir é oriundo do Reino Unido. Mas temos de olhar para isso como uma oportunidade, não podemos ver apenas uma ameaça no Brexit e temos de a ver como uma oportunidade e é esse o sinal que temos dado aos nossos associados, porque se o Reino Unido sair, também há empresas que saindo do Reino Unido querem atuar em outras geografias.

Têm estado a trabalhar nisso com o Governo?

Sim, temos estado a trabalhar com o Governo. Há uma estrutura liderada por Bernardo Trindade, precisamente para este efeito. Penso, sem querer criticar, que já poderíamos ter feito mais e que a nossa diplomacia económica podia ter sido mais ativa do que tem sido. Esperemos para ver porque há aqui resultados que não se vêem no imediato e só se vêem a médio prazo, mas temos também uma oportunidade em que Portugal tem de jogar neste jogo de atração de investimento porque há oportunidades, como a Alemanha, Itália e Espanha estão a fazer, e Portugal em pleno pode atrair essas oportunidades.

Tendo em conta as limitações estruturais que temos na economia e que estivemos a falar há pouco, estamos mesmo na linha da frente para conseguir apanhar essas oportunidades?

Portugal está hoje no radar do investimento, assim nós façamos o trabalho de casa que são aquelas variáveis que já referi como a justiça económica, a burocracia, uma taxa de IRC mais atrativa. Apesar de tudo, Portugal está no radar do investimento, independentemente se sejam investimentos de mão de obra intensiva, se veio para ficar, se rapidamente saem como no caso da Google ou da Mercedes e do seu centro tecnológico. O investimento é todo bem vindo independentemente da raça e cor. E estamos a atrair investimento. A Web Summit, felizmente, pôs Portugal no radar. Lisboa e Portugal estão na moda, não só em termos turísticos mas também de investimento. Temos as empresas estrangeiras que estão em Portugal: a Bosch, a Mercedes, a Auto-Europa. Aqueles que cá estão e que são casos de sucesso e querem aumentar o investimento que têm em Portugal mas outros que começam a aparecer. Temos é de melhorar o ambiente e mexer nessas variáveis para que ainda possamos atrair mais e melhor investimento.

Esse é o caminho para que a economia, apesar das ameaças externas que são hoje mais visíveis e mais imediatas do que foram num passado remoto. Portugal está num triângulo virtuoso, porque é um país com 89 quilómetros quadrados, com África, América e Europa.

Não tenho ouvido falar de política, que aborda as questões mais técnicas. Isso significa que a geringonça não tem impactado muito no funcionamento da economia portuguesa? E que o PS tem mantido um caminho europeísta e liberal do ponto de vista do funcionamento?

Apesar dos sinais de reversões, de leis laborais e de privatizações, teve uma entrada de leão mas de facto, e é como o Tsipras na Grécia, enquanto não se está na cadeira da responsabilidade, as grandes teses e teorias são uma coisa e quando assentamos na realidade que isso provoca e as medidas são adaptadas. De facto, este Governo ao longo da legislatura, e o PS é como sabemos um partido europeísta, adaptou à realidade e apesar de estar refém, não deixou de desenvolver uma política que acabou por não ameaçar muito, e os investimentos não deixaram de se fazer. A estabilidade económica não deixou de ser encontrada. Vamos ver o que o novo ciclo político nos vai trazer, que quadro parlamentar nos trará as eleições de outubro. Para nós, empresários, a estabilidade é o fator preponderante.

Se tivesse que escolher, preferia um Governo maioritário do PS do que um Governo hipotecado à extrema esquerda?

Gostaria que houvesse condições para termos um Parlamento, de onde sairá um Governo, com condições para fazer as reformas necessárias ao país, sejam elas quais forem, da constituição a outras, e pôr o país a crescer independentemente das cores que esse Parlamento, maioritariamente, vier a ter.

Era a voz politicamente correta que eu esperava. Como olha para a questão dos escândalos que tem abalado a confiança dos portugueses na banca?

Com preocupação porque estes escândalos trazem à sociedade portuguesa sinais errados do que, em democracia, o país deve desenvolver. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Não podemos dar sinais como temos vindo a dar, de laxismo, de má gestão.

Surpreende-lhe os dados que foram reconhecidos? Não tinha ideia?

Uma coisa é o que nós pensamos e intuímos que há algo que está mal. Outra coisa é a verdadeira dimensão do que está mal e os interlocutores dessas ‘maldades’. Surpreendeu-me pela dimensão, embora seja um leitor atento e já o esperasse.

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