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“Professores estão exaustos”. Fenprof quer investigação sobre professores que morreram em trabalho

Mário Nogueira mencionou que “é bom que se perceba se tem a ver com o excesso de trabalho a que estavam sujeitas”, uma vez que “podemos [os professores] estar a chegar a situações limite”.
16 Julho 2019, 15h38

O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, anunciou esta terça-feira, que vai pedir ao Ministério Público (MP) que investigue as causas relacionadas com os três professores que morreram enquanto trabalhavam.

“Quando as coincidências são muitas, podem de facto não ser coincidências, e nós temos de saber disso. Iremos pedir ao MP que averigue e tiraremos as conclusões. Há uma coisa que é verdade, os professores estão exaustos. Há um estudo que diz que mais de 70% dos professores apresentam níveis elevados de burnout“, sublinhou Mário Nogueira.

O dirigente da Fenprof estava a fazer o balanço do ano letivo, da legislatura e a apresentar perspetivas para o futuro, quando referiu o caso da professora, de Manteigas, que “em plena sala de aula, fulminantemente, caiu para o lado”.

“Pode ser coincidência ou não, mas essa professora era titular de todas as turmas do 7.º ao 12º anos de inglês, seis níveis diferentes de preparação de aulas diariamente”, disse, apontando ainda o caso de uma outra colega no Fundão. A professora do Fundão “estava a corrigir 60 provas aferidas, a lançar as notas dos seus alunos e a fazer vigilâncias de exames. Aparece morta em cima do teclado do computador em pleno lançamento das notas”, declarou.

“O professor enviou por email, cerca da 1h00, os dados pedidos pela escola. No outro dia não apareceu, a medicina legal concluiu que teria morrido por essa hora”, mencionando o caso de um professor de Odivelas.

“Há uma coisa que é verdade, os professores estão exaustos e chegam ao final do ano, às vezes ao final do primeiro período, já completamente cansados, já muito desgastados”, afirmou, revelando que uma escola do distrito de Braga que “a propósito da implementação do regime de educação inclusiva realizou 56 reuniões ao longo do ano”.

Mário Nogueira explica que “isto é uma coisa absolutamente absurda. Os professores têm de estar disponíveis para os alunos, mas estão sobrecarregados com projetos, reuniões e outras tarefas que nada têm a ver com o trabalho com alunos”.

“Os professores estão completamente massacrados com todo um trabalho burocrático. É uma coisa curiosa, num ano letivo em que há estudos que indicam que os professores estão numa situação de desgaste, de burnout e de exaustão emocional como nunca, com 24% dos professores em situação grave de burnout que estas mortes aconteçam”, frisou. “O mínimo que se deve fazer é perceber se é uma coincidência, iremos solicitar que se averigue através dos exames da medicina legal, tentar perceber se houve ou não sobrecarga destes colegas que literalmente morrem a trabalhar”, frisou.

Mário Nogueira mencionou que “é bom que se perceba se tem a ver com o excesso de trabalho a que estavam sujeitas”, uma vez que “podemos [os professores] estar a chegar a situações limite”.

Fazendo o balanço da legislatura em relação à educação nas escolas portuguesas, Mário Nogueira deu nota negativa.

A Fenprof “avalia negativamente o resultado final de quatro anos de subfinanciamento da educação, assim como a ação do Ministério no que respeita à sua relação com os professores e educadores que fica marcada por desrespeito e abusos”. “Finalmente, por ausências repetidas e consequente falta de elementos de avaliação, o ministro da Educação chumba por faltas. É o que acontece a quem foge à escola para andar atrás da bola”, sustenta.

O líder da Fenprof pediu que os partidos clarificassem as suas posições para a próxima legislatura, sendo que a federação vai enviar perguntas aos partidos e depois divulgar aos professores. A estrutura sindical irá promover uma iniciativa no dia 2 de setembro, em defesa do rejuvenescimento da profissão docente e lançará também um abaixo-assinado de forma a repor os principais objetivos de luta dos docentes para o próximo ano letivo.

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