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“Proliferação de eletrónica limitará a fraude mas não a elimina”

O tema da fraude é recorrente no setor automóvel, mas é convicção de responsáveis do setor que a proliferação da eletrónica, com destaque para o aumento de sensores, acabará por limitar a fraude na gestão de frotas, mas não a irá eliminar.
30 Setembro 2018, 12h00

“Seguramente! Já hoje se verifica a dimensão tecnológica na criminalidade automóvel e sobretudo na fraude”, afirma Gilda Lopes quando questionada sobre a mudança de paradigma nas motorizações dos térmicos para os elétricos e o impacto a nível de fraude. Diz: “Os veículos elétricos disporão de grande variedade de sensores e emissores, interagirão uns com os outros e analisarão o meio e a envolvência. Estarão por isso muito menos expostos ao erro humano. Serão verdadeiros computadores com rodas (enquanto estas perdurarem). Mas também estão integrados na rede mundial de internet e assim acessíveis do exterior enquanto se movem”, para de seguida frisar que “o fator de risco continuará a ser o humano, mas a manipulação deixará de ser analógica e passará a ser digital. Aumentará a sofisticação da fraude e com a “internet das coisas” o risco será global – tal como os nossos telemóveis e os computadores pessoais também os veículos passarão a estar expostos a ciberataques, espionagem digital, etc… Os custos de mitigação desse risco subirão astronomicamente”.

A gestora não acredita que o futuro veículo autónomo consiga reduzir substancialmente esse risco. Diz: “Com a automatização da condução, assistimos a mais instrumentos de controlo, menos decisão humana. Situações como: alteração de rotas estabelecidas, subtração e adição de carga, desvio de combustível e subtração de peças serão muito menos prevalentes. Poderíamos pensar então numa redução do risco de fraude automóvel. Mas não! O que vai acontecer é a adaptação do crime a essa nova dimensão tecnológica como já podemos observar na criminalidade automóvel em geral.

Por outro lado, com a crescente digitalização dos veículos também as fraudes serão mais sofisticadas e dessa forma, apetecíveis para o cibercrime organizado. Assistiremos a ataques consertados (do tipo Ransomware), que podem bloquear cadeias logísticas inteiras, inibidores de sinal para sequestro de carga, ou o florescer da contrafação de componentes digitais. O banal furto de combustível não se dará no depósito, mas na clonagem de carteiras de crédito de recarga (…). A globalização digital trouxe também a banalização da fraude.

A ALIGN´IN tem aplicado medidas preventivas para mitigar o risco perante seguradores, renta-a-car e leasings. “Temos sobretudo promovido a gestão de risco de perdas e recuperação de veículos perdidos, bem como, formação junto de empresas do sector automóvel e das forças policias em Portugal e no estrangeiro. O core da Align’in – Compliance Solutions é prevenir todo o tipo de vitimização corporativa, fraude, corrupção, etc… apoiamos investigações internas e aconselhamos as melhores práticas com a sua implementação. Para esse efeito apoiamos na avaliação de riscos. Queremos acrescentar valor e o mapeamento e classificação numa matriz é a única forma para avaliar o retorno do investimento em medidas de gestão de risco. Sugerimos alterações “procedimentais”, que previnam a usurpação de identidade ou falsificação documental, realizamos eventos formativos antifraude e gerimos procedimentos específicos para a recuperação de veículos perdidos. Aliás, a recuperação internacional de veículos perdidos, acabou por ser a atividade mais visível, apesar de não ser a mais importante, sobretudo por causa da espetacularidade operacional, mas que não tem nada de místico. Este ano recuperamos já mais de 50 veículos de/para mais de uma dezena de países. Destes apenas 4 vieram para Portugal.

Sobre as fraudas mais comuns a gestora diz que “os particulares continuam a ser muito vitimizados pelo furto quer de peças, quer de veículos. Assistimos a um recurso cada vez mais banalizado a geolocalizadores para monitorizar as vítimas e os intercetores/replicadores de sinal para furtar os veículos. Isto para não falar na manipulação de quilómetros e viciação de veículos. É preciso distinguir a natureza das diversas frotas – uma frota de aluguer de veículos de passageiros está exposta a riscos diferentes de uma frota de transporte de mercadorias.

Nas frotas de rent-a-car, é sem dúvida o abuso de confiança que causa danos mais graves, porém a apropriação indevida por vezes com o abandono do veículo é o mais comum. Já nos seguros e sobretudo no seguro automóvel apontamos os sinistros fraudulentos como o maior risco, nestes também se inclui a simulação de furto automóvel. Já no sector financeiro temos vindo a verificar estruturas do crime organizado a usarem da fraude na obtenção de crédito para depois converterem os veículos adquiridos.

Nas frotas de transporte de mercadorias então o panorama é muito mais colorido, pois aí em regra não é o veículo que é alvo, mas a mercadoria que transporta.

Os riscos de fraude que mais observamos decorrem da falta verificação documental, desconhecimento da gestão de topo e consequentemente a inexistência de um processo integrado para a prevenção e recção a perdas; falta de formação especifica anti-fraude generalizada e sobretudo de quem opera no “ground-floor”. Um dos problemas que verificamos em todos estes fenómenos, é que eles são sempre conhecidos nos escalões mais baixos das empresas. Mas tal como nos grandes casos de fraude financeira a integridade custa dinheiro e carece de transposição pratica.”

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