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Propostas de Trump sobre imigração ameaçam o Partido Republicano

Ao contrário do que se passa na frente externa, o presidente dos Estados Unidos é muito cuidadoso com as repercussões da sua política caseira. A questão da imigração não está, por isso, fechada.
  • Kevin Lamarque/REUTERS
27 Janeiro 2018, 17h00

A intensão do presidente Donald Trump de retirar qualquer auxílio humanitário aos imigrantes ilegais mexicanos – estranhamente conhecidos como ‘dreamers’ e assim chamados na imprensa – está a gerar uma onda de rejeição, não apenas entre os democratas mas também entre os republicanos moderados, alguns deles com posições importantes na arquitetura estatal federal.

Segundo adianta a agência Associated Press (AP), este crescente desconforto pode vir a ser uma enorme dor de cabeça para Donad Trump – que tem demonstrado ser bem mais atento às consequências das suas decisões quando elas incidem sobre o interior das fronteiras norte-americanas, que com as que têm a ver com a política externa.

A expectativa, por isso, é a de que Trump acabe por fazer ‘marcha atrás’ na decisão – que mais uma vez encaixa numa das preocupações maiores do presidente: desfazer tudo o que o seu antecessor, Barack Obama, criou – dando margem, entre outras coisas, a que os ilegais possam aceder ao menos aos cuidados de saúde básicos.

Os candidatos alinhados com Trump no Nevada e na Virgínia rejeitaram abertamente as ideias do presidente sobre a matéria e preocuparam-se em chamar a atenção para a evidência de que, se o presidente persistir na sua linha dura, isso irá ter repercussões negativas mas para já difíceis de quantificar em termos de resultados eleitorais futuros.

Existe uma possibilidade real de desastre eleitoral, disse, citado pela AP, Mark Krikorian, diretor executivo do Centro de Estudos da Imigração, um organismo conotado com a extrema-direita.

Para a agência, o presidente nunca enfrentou um teste tão importante sobre uma questão tão significativa, que dominou a sua campanha e inspirou uma coligação de eleitores da classe trabalhadora que apoiou a sua mais que improvável eleição para a Casa Branca.

A sua liderança determinará o destino de centenas de milhares de imigrantes e se seu partido pode melhorar sua posição entre o crescente grupo de eleitores hispânicos. Eu também poderia alienar aqueles que o amam.

Corey Stewart, republicano no Senado da Virgínia e conhecido aliado do presidente, foi outra das vozes que se manifestou contrária ao endurecimento das decisões de Trump sobre a imigração.

É certo que o presidente já tentou amenizar as reações contrárias, ao afirmar que veria como aceitável ‘oferecer’ a cidadania norte-americana a 1,8 milhões de hispânicos a viver no país – ao mesmo tempo que, do outro lado, quer controlar de forma mais fina a possibilidade de os imigrantes legais chamarem familiares para se juntarem a eles nos Estados Unidos e o processo de seleção da chamada ‘lotaria’ da imigração – que, de forma dira aleatória, concede vistos de entrada a 50 mil pessoas por ano. Mas o Partido Republicano tem dúvidas que isso seja suficiente.

Grande parte do país, incluindo republicanos independentes e moderados, é a favor da proteção dos milhares de jovens que foram ilegalmente trazidos para o país quando eram menores de idade. Mas uma fação conservadora assinalável, encorajada pela retórica anti-imigração do presidente, nunca aceitará nada que seja considerado uma amnistia, adianta ainda a AP. E muitos pensam que dar cobertura legal a esses jovens migrantes é apenas isso.

A proposta da Casa Branca inclui um investimento de milhões de dólares em segurança nas fronteiras, mudanças significativas na política de imigração e um mecanismo para a naturalização dos quase 690 mil jovens imigrantes que estavam protegidos contra a deportação pelo programa DACA (de proteção aos jovens em causa), do tempo de Obama.

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