Para este escrito havia muitas hipóteses por onde escrever!

A nível da Europa, então, a matéria era abundantíssima.

A Itália, onde alguns analistas dizem que estamos perante um governo de coligação extrema-esquerda/extrema-direita. Uma falsa designação, em meu entender, que não resiste a uma análise por superficial que seja. Mas um governo que pode abalar muito a UE, isso sim.

No país vizinho, há também quem fale de “geringonça”. Falta acrescentar falsa geringonça, porque não há qualquer semelhança (linhas mínimas acordadas entre os partidos como em Portugal). Apenas uma coligação negativa derrubou o governo de Rajoy, como por aqui já aconteceu por mais de uma vez, não dando origem, contudo, à formação de um governo. Só que, em Espanha, a legislação permite essa saída, na base da moção de censura dita “construtiva”. O que vai resultar deste derrubamento, tudo aponta para eleições gerais a curto prazo.

Havia ainda o acontecimento da ‘fake news’ do jornalista russo morto na Ucrânia, ressuscitado no dia seguinte. Não chegou a criar suspense. Uma ‘fake news’ (demasiado infantil) que muita gente cola ao envenenamento do espião duplo russo no Reino Unido atribuído a Moscovo e direcionado tudo no sentido de uma “invencione” da entourage Trump em grandes dificuldades internas. Só que o caso do espião russo arrastou a senhora May e demais países europeus a embalarem nas represálias económicas à Rússia, o que só veio aumentar e complicar os problemas europeus em termos económicos e de relacionamento diplomático.

Nas relações EUA/UE, havia os constrangimentos às importações do aço e do alumínio do senhor Trump contra todas as regras da Organização Mundial do Comércio e as correspondentes represálias europeias e respetivos efeitos que este abalo no comércio mundial vai provocar na economia no seu todo e em alguns países de economias mais frágeis em especial, em que Portugal deve estar atento, até porque já começam a aparecer sinais de desaceleração económica, decorrentes de todos esses factos conjugados e agravamento na ótica financeira.

Temas não faltavam para este um curto artigo desta natureza.

Mas fiquei pelo País e mesmo aqui também havia muito para agarrar. Desde o começo de “mexidas” de algumas placas partidárias neste período já pré-eleitoral, em que muita demarcação de políticas aprovadas começa a desenhar-se no sentido de, pelo menos, segurar o respectivo eleitorado, à luta dos professores, à concertação social, às greves anunciadas.

Neste contexto, decidi-me abordar as medidas avançadas por Rui Rio tendo em vista a solução das más perspectivas demográficas em Portugal. Um tema alvo nas futuras eleições.

Aliás, esta tirada de Rui Rio, um tanto apressada na minha leitura, por um lado encaixa-se já nessa onda e por outra é tentativa de resposta àqueles que no interior do PSD o acusavam de nada dizer de diferente do Governo, chegando Marques Mendes a ser algo ofensivo apenas com uma palavra a mitigar, “parece” uma muleta de Costa.

A medida bomba de Rui Rio, aquela que parecia causar impacto foi a de que, a partir de agora, se ele fosse primeiro-ministro, todos os pais portugueses iriam passar a receber dez mil euros por filho.

De um estudo de 200 páginas do “Conselho Estratégico do PSD” sobre este tema, temos de admitir que é muito pouco. As medidas apresentam-se desarticuladas e sem uma estratégia de fundo. Mesmo a medida bomba como lhe chamei dos dez mil euros não são nada assim. Mas existem outras medidas talvez até de maior interesse, as creches, o pagamento às grávidas e o aumento do tempo da licença de maternidade

Os 10 mil euros a atribuir por filho tiveram um primeiro impulso simpático. Mas esfumou-se rapidamente. As pessoas perceberam um certo embuste.

Vejamos alguns detalhes.

Os 10 mil euros são atribuídos de forma faseada até a criança perfazer os 18 anos.

Porém esta atribuição teria como contrapartida abolir o abono de família hoje vigente, considerado por Rio uma “forma arcaica” de apoio familiar.

Estas duas “medidas de política” PSD conjugadas traduzir-se-iam, na prática, nuns míseros tostões, inferiores em valor ao somatório dos abonos de família que ao longo do tempo uma família recebe hoje.

Socialmente, os 10 mil euros reduzidos ao são valor real são em si uma medida enviesada pois vai beneficiar principalmente aqueles que hoje não têm direito a abono de família por rendimentos excessivos ao montante legal exigido para a atribuição. Fazendo contas, é melhor ficar no que está seguro do que embandeirar pelo inseguro.

Penso que não é nesta linha que se minimizará o grave problema da demografia em Portugal.

Esta forma de atacar a questão já provou que não vai longe. Aliás, assemelha-se ao que algumas Autarquias têm feito: a atribuição de um subsídio por filho sem resultado algum concreto.

O caminho não é por aqui. Não é com subsídios desgarrados que de atinge o problema.

Sem emprego sólido dificilmente se convencem as pessoas a ter filhos. Daí que o acento tónico tenha de ser posto no desenvolvimento. E aqui nada foi dito.

Daí que seja necessário equacionar como já escrevi aqui (05/02/2018) sobre este mesmo assunto:

“O problema que se coloca então aos partidos e à governação vai num duplo sentido: conter os estragos que se acumularam, sendo muitos irreversíveis, como as mudanças societárias e de mentalidade. Ninguém hoje quer/deseja muitos filhos por vários motivos. E como pensar em organizar/preparar a sociedade para esta nova realidade sem perda de qualidade de vida? Ora isto traduz-se em que será necessário produzir mais com menos gente.

E será que a sociedade não necessita, para isso, de muitas decisões de fundo diferentes e inovadoras, inclusive em domínios tão distantes como a organização do trabalho, as qualificações técnicas, a cultura, novas mentalidades, espírito de iniciativa inovador, financiamentos ajustados a este novo tipo de empreendimentos…? E quanto tempo levarão estas e outras transformações?!”

No meu entender, estas medidas saíram antes do tempo sem estarem devidamente maduras. E isto porque o PSD de facto ainda não se reencontrou, tem líderes a mais no terreno. Rui Rio é o legal, Fernando Negrão é outro líder como se viu no debate da eutanásia e, depois, há os de bancada com muito peso. Montenegro na calha para a sucessão, colado a todas as medidas na crítica dura, e Marques Mendes no poleiro de speaker para a comunicação social.

Gente demais e a mais. Mas o problema é do PSD.

Agora querer marcar posição na pré-campanha com um slogan tão desprovido de conteúdo é um sinal de grande fragilidade.