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PSI 20 inicia época que é uma antecâmara para o pior trimestre

Galp inicia segunda-feira a época de contas do primeiro trimestre. Quedas vão dominar, mas nada que se compare com o que vem aí, dizem analistas.
25 Abril 2020, 09h00

A Galp Energia costuma inaugurar a época de resultados do PSI20. Quando o fizer novamente na segunda-feira, apresentado os números do primeiro trimestre, deverá ser na tecla que vai marcar o tom da earnings season: prejuízos repentinos e palavras de alarme sobre o futuro.

A petrolífera deverá registar uma quebra de cerca de 26% no lucro líquido (ajustado para stocks) para 76 milhões de euros nos primeiros três meses do ano, segundo a média das estimativas de 18 analistas, divulgada no site da empresa. O EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização)é estimado a cair cerca de 3% para 480 milhões.

A tendência de queda deverá marcar a época. “As previsões apontam para uma queda do PIB já no primeiro trimestre, o que dever-se-á espelhar também nos menores lucros das empresas relativamente ao trimestre homólogo do ano passado, a refletir o lockdown iniciado no mês de março”, referiu Paulo Rosa, economista sénior no Banco Carregosa.

Vincou que “o mercado está ansioso pelo início da divulgação de resultados do primeiro trimestre, não pelos números em si , mas pelo outlooks para os trimestres seguintes e para o resto do ano”.

Segundo Paulo Rosa, as empresas poderão ser cautelosas perante a incerteza que paira na economia. “Provavelmente, ainda haverão mais profit warnings, e serão mais numerosos caso exista uma segunda vaga da Covid-19.”.

A Galp já sinalizou estas tendências. No trading update divulgado a 8 de abril, informou que no retalho, a venda de produtos petrolíferos a clientes desceu 13% face ao ano anterior, com a venda de gás natural a afundar 24%, com estas quebras a acontecerem devido à Covid-19.

“A diminuição de vendas de produtos petrolíferos e gás natural refletem as condições do mercado verificadas a partir de março”, explicou. Nessa altura, a empresa liderada por Carlos Gomes da Silva não fez um profit warning, mas anunciou que vai reduzir as despesas e o investimento em mais de 500 milhões de euros por ano durante 2020 e 2021.

”Considerando a queda acentuada da procura e dos preços dos produtos petrolíferos, a Galp encontra-se a desenvolver ações com vista a reduzir significativamente as despesas nos próximos trimestres”, disse. Oanuncio ocorreu ainda das quedas a pique dos preços do petróleo esta semana, que até levaram a cotação do barril de crude WTI para terreno negativo pela primeira vez.

“A Galp deverá sentir um forte impacto da queda abrupta do petróleo devido à guerra entre a Rússia e a Arábia Saudita e à quebra do consumo, que tornou a exploração mais cara pois não houve escoamento e houve custos adicionais com o armazenamento de barris de petróleo”, disse David Silva, analista da corretora Infinox.

Além do setor petrolífero, tendo em conta os impactos directos do coronavírus nos diferentes setores da economia, o analista acredita que as empresas que poderão sair mais penalizadas no primeiro trimestre deverão ser do setor da restauração, hotelaria ou construção uma vez que houve uma forte quebra do consumo.

“No setor da restauração e hotelaria estarão a Ibersol e a Sonae Capital, devido ao encerramento de estabelecimentos comerciais, ginásios e muitos planos de férias e estadias a serem cancelados; na construção está em foco a Mota-Engil não só pelo abrandamento do setor, mas também pela sua exposição internacional em que poderá ver muitos projetos ficarem em stand-by ou a decorrem a um ritmo mais lento”, sublinhou.

Paulo Rosa, do Banco Carregosa, adiantou que a maior parte das casas financeiras aponta o segundo trimestre como o mais afetado e que terá maior queda do PIB, com retoma no segundo semestre.

“Tudo irá depender principalmente da retoma da procura, mas também do regresso à normalidade das empresas e da produção”, vincou. “Um regresso faseado e gradual poderá levar mais tempo a que os lucros das empresas voltem aos níveis do final de 2019.”
“Tudo dependerá da forma com a economia recuperará: em V, em U, a antecipar uma segunda vaga da Covid-19 e logo uma recuperação em W. Ou uma contração económica mais cavada, mais significativa, que para já não é antecipada pelas principais casas financeiras mundiais e organismos mundiais, como FMI e OCDE, e consequentemente uma recuperação mais lenta em L, e logo uma retoma dos lucros das empresas mais diferida no tempo”, concluiu.

Artigo publicado no Jornal Económico de 24-04-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor

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