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Qatar: As várias consequências da crise diplomática

A crise diplomática que se vive no Golfo Arábico pode trazer graves implicações ao povo qatari, à sua economia e às empresas internacionais que operam neste pequeno país.
6 Junho 2017, 11h35

O alegado apoio do Qatar ao terrorismo levou Arábia Saudita, Egito, Bahrein, Emirados Árabes Unidos (EAU), Líbia, Iémen e as Maldivas a cortar relações diplomáticas e comerciais com o Qatar. Os impactos foram sentidos imediatamente na bolsa local, que ontem fechou a cair 8%, e também no preço do petróleo, que aumentou na ordem dos 1,5%, de acordo com a Bloomberg.

Mas o que significa esta crise diplomática para a economia do Qatar e para as pessoas que lá trabalham e/ou têm os seus negócios? Além da produção de petróleo, o Qatar é conhecido pela sua companhia nacional de aviação, a Qatar Airways; a estação de televisão Al Jazeera; o patrocínio ao Barcelona e a organização do Mundial de Futebol de 2022.

O futebol é uma das indústrias afetadas por esta crise. Não apenas a realização do Mundial está ameaçada – ainda que a FIFA não tenha tomado uma posição, revelando-se “atenta” aos desenvolvimentos, como os primeiros efeitos já foram sentidos, com o clube saudita Al-Ahli a cancelar o acordo de patrocínio com a Qatar Airways.

A companhia aérea do Qatar é, aliás, um dos principais focos de preocupação na região. Depois de A Arábia Saudita, EAU, Bahrein e Egito terem anunciado que iriam cancelar todos os voos de e para o Qatar, bem como fechar o seu espaço aéreo aos voos da Qatar Airways, a Etihad (Abu Dabi) e a Emirates (Dubai), seguiram o exemplo, o mesmo acontecendo com a FlyDubai e a Air Arabia. Espera-se ainda que a Gulf Air (Bahrein) e a Egyptair anunciem em breve o fim das operações no Qatar.

Para a Qatar Airways, isto significa o fim de dúzias de voos diários para estes países. A companhia aérea já anunciou o fim dos voos para a Arábia Saudita: “A todos os passageiros com bilhetes de e para o reino da Arábia Saudita serão oferecidas alternativas, incluindo o reembolso total em qualquer bilhete não usado e uma alteração gratuita de rota para o destino mais próximo dentro da rede da Qatar Airways.”

Além da despesa acrescida que esta decisão acarreta, a impossibilidade de sobrevoar determinados países obriga a alterações de rota, o que acrescenta tempo, e – mais importante – custos aos voos da Qatar Airways, o que se refletirá inevitavelmente no preço dos bilhetes, o que significará uma descida mais que provável no número de passageiros. Ghanem Nuseibeh, diretor na consultora Cornerstone Global, diz isso mesmo em declarações prestadas à BBC: “Se uma viagem para a Europa, que costumava demorar seis horas, passa a demorar oito ou nove porque as rotas são alteradas, isso torna-a menos apelativa para os consumidores, que podem começar a procurar alternativas.”

E não é apenas por dificuldades nas viagens que as pessoas que estão no Qatar sentirão a crise diplomática. Segundo o governo saudita, as pessoas do seu país, do Bahrein, EAU, Líbia e Iémen estão proibidas de viajar, viver ou passar pelo Qatar, dispondo de 14 dias para sair do país. Já os diplomatas possuem apenas de 48 horas para deixar o país.

Ainda que não o tenha feito, se o Egito tomar a mesma decisão, estarão obrigados a sair do país os cerca de 180 mil egípcios que a BBC diz viverem no Qatar, em profissões como medicina, direito e construção. Uma perda de tão grande força laboral num país de 2,7 milhões de habitantes seria um grave problema para as várias empresas internacionais a operar neste Estado do Golfo Arábico.

O setor da construção seria um dos principais afetados. Um novo porto; um hospital; as estações e linha do Doha Metro, o projeto de metropolitano da capital do Qatar; e oito estádios para o Mundial de Futebol de 2022 são apenas alguns dos maiores projetos atualmente em curso no Qatar e que poderão sofrer atrasos significativos, devidos não apenas à falta de matérias-primas – que chegam ao país, na sua maior parte, pela fronteira da Arábia saudita, agora fechada – mas também pelo expectável aumento de preços.

O fecho da fronteira com a Arábia Saudita, a única fronteira terrestre do Qatar, acarreta problemas ainda mais graves do que atrasos nos processos de construção. Isto porque cerca de 40% da comida do Qatar entra no país através desta fronteira. Assim, assim que os camiões pararem de chegar, o país passará a depender dos transportes aéreos e marítimos, o que causará “uma inflação imediata dos preços, que afetará diretamente os habitantes locais”, diz Nuseibeh. “Se os produtos começarem a custar significativamente mais, o povo fará aumentar a pressão política sobre a família real, obrigando a uma mudança na liderança ou na direção das políticas do país”. O consultor aponta ainda que muitos dos qataris mais pobres fazem viagens diárias e/ou semanais à Arábia Saudita para comprar produtos mais baratos. Como esta fronteira estará fechada, tal será impossível, o que agravará bastante a sua já precária situação.

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