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Qatar: Bloqueio aumenta preços e riscos de incumprimento

Com as fronteiras terrestres e marítimas fechadas, os mais de 200 mil milhões de euros que valem os projetos que suportam a realização do Mundial de Futebol no Qatar estão em risco. As rotas alternativas aumentarão os preços dos materiais necessários e poderão ser oportunidade para os portos vizinhos.
9 Junho 2017, 12h13

Segundo os dados da Bloomberg, o Qatar está a gastar cerca de 500 milhões de dólares (447 milhões de euros) por semana para conseguir trazer o Mundial de Futebol para o mundo árabe pela primeira vez na história.

A nação mais rica do mundo per capita tem em curso projetos avaliados em cerca de 210 mil milhões de euros: a construção de oito estádios para o Mundial, mais um sistema de metropolitano e comboio e ainda uma nova cidade, com capacidade para 200 mil habitantes. Além disso, existem planos para duplicar o tamanho do aeroporto de Doha, a capital do Qatar, por forma a conseguir servir um máximo de 53 milhões de passageiros anualmente.

Para já, a construção prossegue, mas a crise diplomática que se vive na região coloca em causa a conclusão destes projetos. O encerramento da sua única fronteira terrestre (com a Arábia Saudita) e dos portos dos EAU, dos quais depende significativamente – o Qatar representa quase um terço das exportações não petrolíferas dos EAU no terceiro trimestre de 2016, diz a Autoridade Federal de Estatísticas e da Concorrência dos EAU –, impede que os materiais necessários cheguem aos locais de obra. E os que chegam, vêm através de rotas alternativas, o que “tem um custo mais elevado que o formato atual de importação”, diz à Bloomberg Neil Davidson, analista sénior da londrina Drewry Shipping Consultants.

O Qatar sofrerá as maiores consequências deste bloqueio, mas as empresas sauditas e dos EAU não estarão isentas de consequências. “Jebel Ali [porto do Dubai] deverá ser o mais afetado, uma vez que é o hub principal de exportação para o Qatar”, diz Davidson à Bloomberg, acrescentando que o porto omanita de Sohar, tal como o iraniano de Bandar Abbas, são os que “mais terão a ganhar com a situação”.

A previsão de Davidson está já a realizar-se. O gestor de uma empresa de materiais de construção (que pediu para não ser identificado) disse à Bloomberg ter ordenado que os seus camiões parados na fronteira saudita seguissem para Omã, a mais de 500 km de distância. Daí, o plano é conseguir embarcar os materiais num ou vários portos daquele país em direção ao Qatar e enviar por via aérea os materiais “presos” em Jebel Ali.

Este caso não é único. Novamente pedindo para não ser identificado por causa da tensão política no país, outro gestor reporta à Bloomberg os seus esforços para enviar 47 contentores de materiais de Jebel Ali para Omã ou Kuwait, e daí para o Qatar, e o trabalho que deu conseguir que um porta-contentores proveniente da China alterasse a sua rota para aportar primeiro no Qatar e assim evitar o bloqueio.

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