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Quantos votos vale Theresa May: 202 ou 325?

A diferença dos votos na primeira-ministra britânica (123) em dois dias seguidos são quase 19% da Câmara dos Comuns. May vai usar o número 325 para viajar até Bruxelas em mais uma etapa do seu ‘Cântico Negro’.
  • Christopher Furlong/REUTERS
17 Janeiro 2019, 07h32

Num quadro que continua a ser de grande incerteza, a primeira-ministra Theresa May – que sobreviveu à moção de censura trabalhista, como era esperado (325 votos contra e 306 a favor) – tem até à próxima segunda-feira, 21 de janeiro, para regressar à Câmara dos Comuns com qualquer coisa que aparente ser mais ou menos diversa do acordo que não passou na última terça-feira.

Ninguém neste momento pode dizer de que constará essa diferença ou mesmo se haverá hipótese de haver diferenças. As declarações dos principais países da União Europeia – Alemanha e França incluídas – depois da derrota do acordo do Brexit no Parlamento britânico foram lidos como reações bem menos ‘fechadas’, quando comparadas com a ‘secura’ das declarações de Jean-Claude Juncker e de Donald Tusk (presidentes da Comissão e do Conselho, respetivamente).

É aí que reside agora toda a esperança: numa movimentação solidária (chame-se assim) das principais forças europeias (dos 27) na tentativa de criar condições para Theresa May ter ela própria condições para, na próxima votação na Câmara dos Comuns, agregar em seu torno 325 e não 202 votos.

O presidente francês, Emmanuel Macron, traçou ontem o ‘road map’ de May para os próximos dias e, de substancial, explicou que à primeira-ministra britânica resta pedir mais tempo. Ou seja, o Reino Unido precisa – diz a França e vários outros países – de mais tempo e de ‘riscar’ o próximo dia 29 de março do seu calendário. Tudo leva a crer que o Palácio do Eliseu estará preparado para aceitar e para tentar convencer os seus pares em aceitarem também.

Claro que isso trás um problema novo: os britânicos votam nas eleições europeias que se realizam em maio, ou a Comissão engendra uma forma de promover uma abstenção total do Reino Unido? Não há nenhuma indicação dos órgãos da União Europeia sobre a matéria. Como aliás não há qualquer indicação sobre coisa nenhuma: tanto a Comissão como o Conselho estão ‘confortavelmente’ à espera que Theresa May lhes explique como vai resolver a situação, escudando-se no argumento de que o acordo (o que foi rejeitado pelos britânicos) não é negociável.

Os analistas mais otimistas (em grande minoria) afirmam que May acabará por conseguir da União Europeia um prolongamento do prazo do Brexit para ter mais tempo para negociar o acordo. Ora, se a União aceitar o prolongamento do prazo isso só pode querer dizer que, afinal, está aberta à revisão do acordo.

Mas, pelo menos até à próxima segunda-feira, a incerteza mantém-se em todas as frentes. Principalmente na frente interna britânica – que caiu numa fantasia ‘regiana’: “Não sei por onde vou/Não sei para onde vou/Sei que não vou por aí!”, escrevia José Régio em ‘Cântico Negro’, publicado em 1926, o ano em que nasceu a futura Isabel II de Inglaterra.

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