O atual momento que se vive no Brasil é perigoso para o país, mas não só. É também para o mundo. No próximo domingo, o povo brasileiro irá novamente a votos, numa segunda volta das eleições presidenciais onde só existem duas opções: Bolsonaro e Haddad. O primeiro é deputado federal há três décadas e nunca tinha dado nas vistas. Poucos brasileiros o conheciam. Agora tornou-se o mais do que provável vencedor das eleições. O que aconteceu na maior democracia da América do Sul para uma pessoa como Bolsonaro estar à beira de se tornar o Presidente do Brasil?

Bolsonaro não é causa nem princípio. É consequência. Quase sem saber como nem porquê, conseguiu encarnar a reação epidérmica de uma enorme fatia do eleitorado brasileiro, que está desiludido e cansado de muitas promessas não cumpridas, da corrupção galopante, da violência e da insegurança que se vive nas ruas e de algumas ideologias fraturantes que o PT de Lula e de Dilma lhes quiseram impingir. Aliás, a maior força de Bolsonaro é ser o contrário de tudo o que o PT representa.

Claro que Bolsonaro é radical e tem um discurso perigoso. E que grande parte daquilo que defende não tem princípios democráticos nem conhece a lógica da liberdade. Mas, na verdade, os eleitores brasileiros não querem saber disso para nada porque a alternativa é um candidato menor, incapaz de se libertar da imagem de uma marioneta de Lula. O programa de Haddad é Lula. A sua política é Lula. Mas os brasileiros estão fartos de Lula e Dilma e da constante desculpabilização da corrupção que assaltou o país.

Nas últimas semanas, surgiram algumas vozes em Portugal – de Francisco Louçã a Freitas do Amaral – que defendem a necessidade de um apoio claro e inequívoco a Haddad, nomeadamente, através de um abaixo-assinado. Como democrata convicto que sou não aceito esta visão redutora. A defesa da democracia não assenta na eleição de corruptos. Bem pelo contrário. A corrupção mina a democracia, fá-la cair em descrédito e, pior, faz brotar políticos como… Bolsonaro.

Sejamos claros: o Brasil está a viver um filme de terror. Portugal, para já, está longe desse cenário. Mas em qualquer lugar ou circunstância, temos a obrigação de recusar a chantagem de que a alternativa à esquerda corrupta e alucinada é um populismo primário (ou vice-versa, bem entendido). Para um democrata, a verdadeira alternativa só pode ser a que sempre foi: uma ideologia moderada, defensora dos direitos fundamentais, sobretudo da liberdade económica e da segurança pública. Uma ideologia que nunca pode ceder à corrupção. Relativizá-la é um erro gravíssimo e uma das lições fatais deste drama que se vive no Brasil.

Se fosse brasileiro, tendo que votar nestas eleições, estaria seguramente preocupado em preparar o amanhã, na construção de uma alternativa democrática futura, que passe por uma ‘ficha’ limpa, credível, coerente e responsável. Julgo que esta alternativa vai ser essencial muito mais cedo do que muitos pensam.