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Queda da fertilidade é uma preocupação global, diz a Bloomberg

Os governos terão que pensar em maneiras de gerir o problema demográfico, seja através de benefícios patrocinados pelo Estado ou políticas de planeamento familiar, ou então têm de encontrar o seu próprio caminho para o crescimento económico sustentável num mundo com cada vez menos trabalhadores, consumidores e empresários, conclui a Bloomberg.
  • Robert Collins – Unsplash
3 Novembro 2019, 18h45

Pelo menos dois filhos por mulher  é necessário para garantir uma população estável de geração em geração. Na década de 1960, a taxa de fertilidade era de cinco nascimentos por mulher. Em 2017, esse rácio caiu para 2,43, próximo do limite crítico mínimo para a renovação populacional. A conclusão consta de um artigo da Bloomberg, intitulado “Global Fertility Crash”.

O crescimento populacional é vital para a economia mundial. Isso significa mais trabalhadores para construir casas e produzir bens, mais consumidores para comprar produtos e serviços e estimular a inovação e mais cidadãos para pagar impostos e atrair comércio.

Diz a Bloomberg que embora o mundo deva adicionar mais de 3 mil milhões de pessoas até 2100, segundo as Nações Unidas, esse provavelmente será o ponto alto. As taxas decrescentes de fertilidade e o envelhecimento da população significarão sérios desafios que serão sentidos mais intensamente em alguns países do que noutros.

A taxa de fertilidade usada pela Bloomberg refere-se a dados de 2017 compilados pelo Banco Mundial a partir de várias fontes, incluindo Nações Unidas, Eurostat, USA Census Bureau, Secretaria da Comunidade do Pacífico e vários departamentos nacionais de estatística. A taxa total de fertilidade representa o número médio de filhos que as mulheres têm num determinado país ao longo da vida. A taxa de substituição é de aproximadamente 2,1 filhos por mulher, mas pode diferir ligeiramente com base na taxa de mortalidade de cada país.

Segundo a análise, embora a taxa média mundial de fertilidade ainda estivesse acima da taxa de reposição – tecnicamente 2,1 filhos por mulher – em 2017, em cerca de metade dos países já tinha caído abaixo da taxa de reposição. Em países como os EUA e algumas partes da Europa Ocidental, que historicamente são atraentes para os migrantes, a flexibilização das políticas de imigração pode compensar as baixas taxas de natalidade, mas noutros países, intervenções políticas mais drásticas podem ser necessárias,diz a Bloomberg.

A maioria das opções disponíveis impõe um alto ónus às mulheres, que são precisas não apenas para gerar filhos, mas também para ajudar a preencher lacunas cada vez maiores na força de trabalho.

A Bloomberg refere que globalmente, as mulheres têm uma média de 2,4 nados vivos cada.

Os salários das mulheres na maioria dos países são inferiores a dois terços dos salários dos homens. Há 53% das mulheres que estão no mercado de trabalho. A maioria das mulheres é alfabetizada, mas nalguns países têm taxas abaixo de 50%.

As tentativas dos governos de gerir o crescimento populacional não são novidade, diz a agência noticiosa que cita os casos das generosas licenças de maternidade remuneradas nos países escandinavos ou o fim da política de filho único adoptado recentemente pela China.

Mas, alerta a agência, há um novo sentido de urgência e o desespero está a instalar-se na busca de maneiras de reverter as tendências atuais de queda de fertilidade.

A Bloomberg analisou os dados de fertilidade de 200 países e selecionou quatro que são paradigmáticos de alguma maneira: França, Arábia Saudita, China e Nigéria.

Sobre a França, a Bloomberg concluiu que as mulheres francesas, que adquiriram o direito ao sufrágio apenas em 1945, obtiveram rapidamente direitos e estatutos, equiparando-se aos homens. Estão hoje mais próximos da paridade com os homens ao nível dos salários e têm elevados níveis de educação em termos médios. Isso se deve em parte a benefícios generosos do Estado, como creches públicas que aceitam bebés a partir dos 3 meses, revela a Bloomberg.

No caso da Arábia Saudita, as restrições culturais das mulheres oriundas dos países ricos em petróleo põe-nas entre as que têm menores taxas de participação no mercado de trabalho, na comparação mundial, e também as que possuem menor poder económico. Mas, constata a Bloomberg, à medida que a Arábia Saudita se tornou num país mais rico, surgiu um fenómeno: maiores expectativas de vida e famílias mais pequenas. A taxa de fertilidade diminuiu para perto da taxa de reposição.

A China é outro caso à parte. Décadas de limites impostos pelo Estado ao tamanho da família e de uma cultura de mulheres a trabalharem levaram a um declínio acentuado na taxa de fertilidade da China. A recente política anti-discriminação de género proíbe os empregadores de pedirem o estado civil ou maternal das candidatas, um passo para manter as mulheres em empregos à medida que a população envelhece.

As mulheres na China têm uma média de 1,7 filhos, abaixo da taxa de reposição, e 69% das mulheres chinesas estão no mercado de trabalho.

No caso da Nigéria, as suas altas taxas de fertilidade faz deste país e dos países vizinhos da África sub-saariana a esperança de que contribuam para o aumento líquido da população mundial nas próximas décadas, revela a Bloomberg, que adianta que alimentar, educar e empregar esses números crescentes de população, nesses países, será difícil.

A Bloomberg realça que as mulheres na Nigéria têm uma média de 5,5 filhos ao longo da vida e apenas 41% das mulheres nigerianas são alfabetizadas. O agência dá destaque ao facto de um projeto de lei sobre igualdade de oportunidades e género ter sido suspenso no senado nigeriano desde que foi introduzido em 2010.

Na análise a Bloomberg, cita um estudo realizado no ano passado pela OCDE que concluiu que, para a maioria das grandes economias, o aumento da produtividade foi o factor mais importante do crescimento do produto interno bruto entre 2000 e 2017, em média. Mais do que o crescimento da população ou a mudança na taxa de emprego.

A Bloomberg constata que mais de 90% do crescimento potencial da China em 2017 veio de aumentos de produtividade, alguns degraus à frente dos EUA.

Na Arábia Saudita, no entanto, 62% do crescimento económico veio do crescimento populacional – e a Nigéria é ainda mais dependente do crescimento demográfico para o crescimento do PIB do que o reino árabe.

Já a França destaca-se por equilibrar o aumento da produtividade e da população com o crescimento do emprego, provavelmente impulsionado por um afluxo de imigrantes em idade ativa e os seus generosos benefícios estatais que os trabalhadores auferem.

A população é apenas um dos três fatores que influenciam as economias nacionais. Os ganhos de produtividade podem compensar algumas lacunas demográficas à medida que as populações diminuem, mas é uma maneira muito mais desafiadora de fazer crescer uma economia e pode não ser sustentável a longo do tempo: para a maioria dos países do estudo da OCDE, a contribuição relativa da produtividade ao crescimento caiu com o tempo, refere a Bloomberg.

Por fim, nenhum país ficará imune ao declínio demográfico. Os governos terão que pensar criativamente em maneiras de gerir o problema demográfico, seja através de benefícios patrocinados pelo Estado, políticas de planeamento familiar ou proteções contra a discriminação, ou então têm de encontrar o seu próprio caminho para o crescimento económico sustentável com cada vez menos trabalhadores, consumidores e empresários, conclui a Bloomberg.

 

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