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Raize valoriza 10% na estreia em bolsa

‘Fintech’ portuguesa Raize entra esta quarta-feira para o mercado Euronext Access, pondo fim a um ano e meio sem inclusões na bolsa. Os analistas apontam, no entanto, para os constrangimentos de negociar por chamada e da reduzida capitalização.
18 Julho 2018, 10h38

A Raize negociou na Bolsa de Lisboa pela primeira vez esta quarta-feira, às 10h30, e valorizou 10%. As ações entraram a valer 2 euros (um montante fixado na oferta pública inicial) e subiram para 2,20 euros. A capitalização bolsista da empresa disparou, assim, dos 10 milhões para os 11 milhões de euros.

Os títulos da empresa irão negociar por chamada duas vezes por dia (às 10h30 e 15h30) e na primeira chamada, foram colocadas 30 ordens correspondentes a 69.293 ações.

A posição dos analistas em relação à chegada da empresa à bolsa é consensual: uma nova empresa cotada é positiva para o mercado de capitais, mas a dimensão da fintech portuguesa é demasiado pequena para captar a atenção de grandes investidores.

Ao longo de seis meses, a Raize vai disponibilizar ações representativas de mais 10% do capital. A entrada no mercado Access da Euronext Lisbon acontece depois de uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de 750 mil ações (a um preço fixo de dois euros), equivalentes a 15% do capital.

“A expetativa sobre a entrada da Raize em bolsa é bastante positiva. É um exemplo de empreendedorismo, capacidade de criação de um negócio com um produto com imensos efeitos positivos para todos os envolvidos (beneficiários do capital; originadores do capital e intermediário do produto) que é um espelho da função financeira tradicional com um foco importante na economia real”, afirmou Salvador Amorim Alves, analista da Orey Financial.

Referiu também que mostra igualmente como o mercado de capitais português está “ávido de criação de projetos empresariais com componentes relevantes de sustentabilidade, boas práticas e impacto positivo na economia real”, acrescentando que há abertura para dar suporte financeiro a novas emissões com esta tipologia.

Operação pequena deverá limitar-se a particulares

Criada em 2015, a fintech que gere uma bolsa de financiamento a pequenas e médias empresas (PME) tem crescido em termos de negócio e número de investidores. Têm atualmente mais de 20.000 investidores que usam a plataforma Raize para financiar um universo de milhares de PME. Após ter atingido o breakeven na segunda metade do ano passado, no primeiro trimestre de 2018 conseguiu, pela primeira vez, registar resultados positivos.

Albino Oliveira, analista da Patris Investimentos, concorda que a operação é positiva para o panorama do mercado de capitais português, já que, ao entrar em bolsa, a Raize vai por fim a período de um ano e meio em que os únicos movimentos do mercado acionista português foram de saída. “É sempre importante ter empresas a entrarem em bolsa, especialmente com um modelo de negócio diferente do que estamos habituados”, disse.

A operação de colocação pública é especialmente importante dado que poderia ter escolhido uma operação privada, como aconteceu na última entrada em bolsa.

Em dezembro de 2016, a Patris Investimentos foi admitida à negociação no mercado Alternext, após três aumentos de capital através de colocações privadas. Antes da Raize, a última IPO tinha sido em fevereiro de 2014, da Espírito Santo Saúde.

Oliveira aponta, no entanto, para a pequena dimensão da empresa. “Tem um expressão reduzida na Bolsa de Lisboa e, por isso, não tenho expetativas muito elevadas. Poderá chamar a atenção de investidores particulares, mas não vai estar no radar dos institucionais”, afirmou o analista da Patris Investimentos.

Raize não tem acesso a negociação contínua em bolsa

Mesmo que apenas para particulares, Amorim Alves espera que a procura se mantenha robusta, em linha com o que aconteceu na IPO. A oferta foi totalmente subscrita em 369% por 1.419 investidores num valor total de 5,5 milhões de euros. O processo de rateio assegurou que todos os investidores de retalho receberam pelo menos 500 ações da empresa.

“A procura pela oferta inicial é um sinal bastante positivo do mercado de capitais português. Demonstra que há capital disponível para alocar a startups com projetos atrativos e que os investidores estão dispostos a suportar segmentos até de maior risco, devido à dimensão, quando o “investment case” é sólido”, afirmou o analista da Orey Financial.

Ambos concordam que irão, no entanto, pesar os contrangimentos do mercado onde se propõe negociar que trazem um risco de mercado adicional. A negociação a partir do mercado Access da Euronext irá acontecer apenas duas vezes por dia, o que “é um reflexo de ser uma empresa de baixa liquidez e é menos conveniente para os investidores”, segundo Albino Oliveira.

O mercado por chamada é um leilão que ocorre duas vezes por dia e em que são colocadas todas as ordens recebidas pelas corretoras ao longo do dia, o que significa que existe o risco de a ordem não ser executada e que há em que pode não haver negociação, como acontece com outras empresas. Para as empresas é mais prático e permite poupar, mas limita a capacidade de negociação dos investidores.

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