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Rating de Portugal não melhora antes de 2018, diz presidente do IGCP

Cristina Casalinho, presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), diz em entrevista que as expectativas das agências de rating “têm sido suplantadas”, mas que a dependência lusa de financiamento externo leva a que a melhoria no rating não aconteça “em menos de 12 meses”.
31 Julho 2017, 10h16

“Nunca em menos de 12 meses”. É este o quadro temporal que Cristina Casalinho, presidente do IGCP, aponta para a melhoria do rating da dívida pública portuguesa. Em entrevista ao Eco, Cristina Casalinho classifica como “modestas” as expectativas geradas pelas mais recentes indicações da agência de notação Fitch, suportando assim a sua previsão de o mínimo de um ano para que a notação da dívida portuguesa saia do grau especulativo.

Cristina Casalinho recorda que, em maio de 2014, quando Portugal saiu do programa de auxílio financeiro, “a Fitch também melhorou o outlook e depois durante 23 meses manteve essa perspetiva positiva sem que daí adviesse uma melhoria de rating”. Ainda assim, no IGCP, “desta vez estamos um bocadinho mais otimistas”, afirma a presidente, justificando: “os dados da economia portuguesa e os progressos são muito substantivos”.

Apesar do otimismo, Casalinho relembra que há fatores negativos que ainda não foram eliminados, como o stock da dívida, “algumas pontas soltas no setor financeiro que as agências gostariam de ver atadas, alguns processos concluídos ou pelo menos mais avançados antes de darem um passo final”.

De acordo com a presidente do IGCP, em setembro haverá mais indicações acerca da evolução da notação da dívida portuguesa. A Moody’s pronuncia-se no dia 1 e, 15 dias depois, será a Standard & Poors a fazer o mesmo. Lembrando que, se nenhuma destas agências sinalizar a alteração da notação dívida, “este calendário será adiado”, Cristina Casalinho aponta que, “se houver alguma caracterização da evolução recente da economia portuguesa é a de cumprimento e suplantação de metas em praticamente todos os níveis: macroeconómico, orçamental”.

Cristina Casalinho relembra, ainda assim, que não se pode “nunca esquecer que o nível de endividamento em Portugal é elevado”, um dos aspetos sempre “muito salientado pelas agências de rating”. E há ainda que acrescentar à equação uma elevada necessidade de financiamento externo, aliada a um nível de PIB relativamente baixo.

Questionada sobre o impacto da transmissão de obrigações do Novo Banco para o BES feita pelo Banco de Portugal, Cristina Casalinho acredita que a mesma teve impacto na apreciação que alguns investidores fizeram, ou fazem, do risco português. E acredita que este impacto não se tenha circunscrito à Pimco e a BlackRock. “Quando aconteceu a resolução do BES, também houve investidores que ficaram bastante desgostosos com a solução, com algum desapontamento, desilusão, pela decisão do Banco de Portugal”. Destes, alguns deixaram de investir em dívida portuguesa, outros nunca investiram ou pelo menos não investem há alguns anos.

“Noutros não terá tido grande impacto. Há tratamentos muito diferentes desse acontecimento, mas que foi um acontecimento significativo, foi”, diz a presidente do IGCP, que acrescenta que não tem havido comunicação com estes fundos de investimento nos últimos tempos, mas que seria “importante” fechar este diferendo “para melhorar a imagem. É sempre boa uma discordância ou um desacordo ser sanado”.

A razão é simples: para que comprem dívida, os investidores procuram uma validação das suas perceções, por isso é importante que não existam conflitos, para oferecer uma perceção de estabilidade. E, no entender de Cristina Casalinho, muitos investidores tinham uma perceção errada de Portugal, algo que está a inverter-se, com o IGCP tem vindo a “constatar por parte de vários investidores, de geografias diversas”.

Esta alteração é também fruto de um esforço suplementar feito pelo IGCP desde 2016, para o qual “o Ministério das Finanças deu um contributo imprescindível”, diz a presidente da Agência. O objetivo é levar o investidor a apostar no nosso país, pois o mercado português é marginal, “não é um mercado em que um investidor tenha necessariamente de investir”. E, para tal, há que dar ao investidor “uma convicção muito firme”, pois “a possibilidade de mau desempenho é mais considerável. E isso é um fator desincentivador”.

Para garantir o investimento, há também que colocar a dívida onde o investidor procura, o que justifica que, durante o primeiro semestre do ano, os leilões de dívida tenham tido prazos menos habituais: “Era onde havia procura. A metodologia que é usada no IGCP nas emissões através de leilão é relativamente standard e comum. Há aspetos em que há alguma especificidade, mas mais ou menos os países seguem a mesma metodologia”, conclui Cristina Casalinho.

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