Antes de entrarmos na época natalícia das perspectivas para 2019, impõe-se olharmos para o passado recente.

Ao longo dos últimos anos, temos sido constantemente bombardeados com notícias positivas, seja do crescimento económico, da diminuição do desemprego ou da subida dos salários. Até as más notícias são percepcionadas como boas, uma vez que são transmitidas com sorrisos, embora muitas vezes com má-fé. Estamos perante um optimismo resistente, é um facto.

Um exemplo deste fenómeno, foi a divulgação dos números da emigração. Em 2017, entre emigrantes temporários e permanentes, Portugal viu sair cerca de 80.000 pessoas. Se compararmos com os 110.000 do tempo da troika ninguém diria que estamos muito melhor. No entanto, existe agora um factor que distorce os números – a imigração. A grande alteração foi o interesse dos estrangeiros por Portugal, seja devido aos vistos gold, seja devido às oportunidades de investimento, decorrentes do turismo ou da captação de estudantes estrangeiros.

Mas algo que não parece preocupar ninguém é o facto de a população nativa estar a diminuir. Em suma, Portugal está a morrer. Mas regressemos à análise do passado recente.

Na educação nada mudou, pelo contrário, as greves e os protestos aumentaram, devido à falta de meios humanos e à insuficiência das condições salariais.

Na saúde, volta-se a adivinhar o caos com o pico de gripe nos próximos meses, as cirurgias acumulam-se, as consultas demoram meses ou anos e a necessidade de recursos humanos atinge níveis críticos. As greves de enfermeiros dizem tudo, mas têm pouco impacto e visibilidade.

Na justiça, o tempo de decisão, os custos e os vastos recursos, apenas acessíveis a alguns, afastam cidadãos e empresas, com consequências ao nível do investimento e criação de riqueza.

Se qualquer um destes problemas tivesse origem no sector financeiro, teríamos de imediato mais regulação, mais supervisão e restrições à comercialização de algum produto financeiro que ainda não esteja regulado com necessidade de assinar páginas e páginas de advertências. Como é o Estado a incumprir, basta prometer investimentos a perder de vista para acalmar alguns pessimistas.

Na prática, o sistema de ensino e de saúde foram efectivamente privatizados sem qualquer ganho para o contribuinte, uma vez que uma família que consiga ter algum poder de compra quererá ter um seguro de saúde e um ensino privado.

Quanto às perspectivas, depois deste cenário torna-se difícil prever algo de positivo a não ser a capacidade que os portugueses têm de, diariamente, se esforçarem para cumprirem com as suas obrigações fiscais tendo pouco ou nada em troca.

A não ser que a Europa recupere rapidamente o seu crescimento e que a China chegue a um acordo comercial, 2019 será um ano de forte abrandamento na economia nacional. Não arriscaria a ousadia de um deputado brasileiro ao dizer “pior que está não fica”, porque a realidade está à vista.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.