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Leiria quer ser ‘hub’ de empresas que apostem na transformação digital

Rui Pedrosa, presidente do Politécnico de Leiria, desta a área de I&D e o facto das empresas da região associadas ao Politécnico terem projetos ligados à cibersegurança, IA, IoT e 5G. Leiria passou também a dispor de um novo centro de negócios de base tecnológica no topo norte do estádio.
2 Agosto 2020, 19h00

Quais os exemplos de projetos recentes de parceria entre o Politécnico de Leiria e entidades privadas?
Pela sua relação com a Região e o tecido empresarial, o Politécnico de Leiria tem desde a sua génese uma forte colaboração em projetos de I&D+i com empresas. Entre 2008 e 2018, o Politécnico e Leiria foi a instituição de ensino superior com maior valor de financiamento captado (mais de 13M€) em projetos financiados no âmbito do QREN (SI&DT em Co-Promoção e Projetos Mobilizadores5) e do Portugal 2020.

O envolvimento em projetos com entidades privadas vai desde os projetos para o estudo ou desenvolvimento de processos e produtos até projetos em larga escala, envolvendo dezenas de parceiros, como os vários projetos mobilizadores em que o Politécnico de Leiria colabora com muitas empresas nacionais e em particular da Região de Leiria e do Oeste.

 

Qual a mais-valia do Politécnico de Leiria na área da Saúde?
Além da formação, o Politécnico de Leiria, conta múltiplas atividades de investigação e inovação ligadas à área da Saúde. A formação está, principalmente, associada à Escola Superior de Saúde (ESSLei) em várias áreas como a Enfermagem, a Fisioterapia, a Terapia Ocupacional a Terapia da Fala e a Dietética e Nutrição. Também existem ofertas únicas mais multidisciplinares com o Mestrado em Prescrição do Exercício Físico e o novo Mestrado em Design para a Saúde e Bem-Estar. No âmbito da investigação e inovação, tem destaque a Unidade de Investigação ciTechCare – Center for Innovative Care and Health Technology, um centro de investigação multidisciplinar, que liga a saúde à tecnologia, promotor de novos produtos e serviços nesta fileira.

O ciTechCare tem as suas instalações no Campus 5 do Politécnico de Leiria, com ligações físicas e humanas ao Centro Hospitalar de Leiria e conta também com parcerias com as principais instituições de saúde pública na Região.
O ecossistema do Campus 5, centrado no ciTechCare mas com forte ligação à ESSLei, pretende funcionar como um hub de inovação em saúde para o desenvolvimento de projetos piloto realizados em parceria com unidades prestadoras de cuidados de saúde e empresas locais. Atendendo às condições existentes e ao investimento que se pretende captar para a infraestrutura, o objetivo é que este hub de inovação em saúde seja parte integrante de um Centro Académico Clínico da Região, que seja uma referência, regional e nacional, na geração e transferência rápida de soluções inovadoras, que envolvam as empresas de Região de Leiria, para as quais a área da Saúde é atualmente uma área estratégica de desenvolvimento de negócio.

 

Quais são as especializações que têm sido mais solicitadas para a escola acompanhar os projetos de empresas públicas e privadas?
O Politécnico de Leiria tem hoje, aproximadamente, 13 mil estudantes distribuídos pelas cinco escolas superiores e a capacidade de captação de estudantes, nacional e internacionalmente, tem acontecido de um modo transversal. Do ponto de vista da investigação, a existência de unidades de investigação em áreas do conhecimento ligadas a todas as escolas tem permitido uma relação com projetos de entidades públicas e privadas em muitos setores de atividade. A título de exemplo, destaca-se a colaboração com as autarquias, com os setores económicos mais fortes da região como os moldes, os polímeros, a indústria agroalimentar, o turismo, a economia do mar, entre outros.

 

Leiria tem condições para se tornar um hub de empresas que apostem na transformação digital? Que aporte pode dar o Politécnico de Leiria?
É óbvio o potencial da Região de Leiria neste âmbito. Desde logo pelo desenvolvimento das empresas da Região e da sua concertação em torno deste ponto. Sinal disto mesmo é o grupo de trabalho criado no âmbito da associação empresarial de Leiria, NERLEI, para o desenvolvimento desta área, no qual o Politécnico de Leiria está envolvido desde a sua génese e que foi fundamental para a proposta da criação de um novo centro de negócios de base tecnológica no topo Norte do Estádio de Leiria, já aprovado e em fase de desenvolvimento pelo Município de Leiria.

Outros sinais importantes são os projetos de I&D desenvolvidos neste âmbito com as empresas da região, por exemplo para a criação de novos produtos e sistemas de gestão para a indústria, bem como projetos ligados às áreas da Cibersegurança, Inteligência Artificial, IoT e 5G, entre outros, com aplicação a áreas como a Indústria dos Moldes e Plásticos, a Saúde e o setor primário. Estes projetos têm tido um papel transformador do tecido empresarial e ajudado a capacitar ainda mais os estudantes e diplomados do Politécnico de Leiria envolvidos no desenvolvimento destes projetos e que acabam muitas vezes por integrar os quadros das empresas promotoras.

Algo a que temos assistido cada vez mais é o interesse demonstrado por muitas empresas nacionais e internacionais em se estabelecerem na Região, pela qualidade de vida que podem proporcionar aos colaboradores e pela riqueza do ecossistema que inclui uma instituição de ensino superior com uma forte formação na área. Neste âmbito o Politécnico de Leiria tem atualmente mais de 2000 estudantes nas áreas das TICE – Tecnologias da Informação, Comunicação e Eletrónica, oferecendo cursos de todos os níveis, incluindo as mais diversas áreas da engenharia, como a Engenharia Informática e a Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, mas também pós-graduações em parceria com a Procuradoria-Geral da República, a Polícia Judiciária e um curso técnico superior profissional em parceria com a Delloite no âmbito do programa Brigth Start, bem como os mestrados diferenciadores de Cibersegurança e de Fabricação Direta Digital. Neste âmbito, este ano foi acreditado um Doutoramento em associação com a Universidade do Minho em Fabricação Digital Direta que liga diretamente à transformação digital e à relação com as empresas.

 

Um dia poder-se-á falar de um “Silicon Valley” em Leiria?
Atualmente temos em Leiria empresas a desenvolver para todo o mundo projetos altamente inovadores e de grande exigência tecnológica. Tecnicamente não há nenhuma barreira para que uma empresa de Leiria seja fornecedora de uma multinacional francesa ou dos maiores estúdios de Hollywood, como acontece atualmente. Os projetos em curso irão aumentar a visibilidade e a massa crítica na Região, o que ajudará a atrair os investimentos para projetos cada vez mais diferenciadores. Leiria é um grande hub de inovação industrial onde o empreendedorismo e a inovação são as grandes marcas identitárias da Região.

 

Que papel pode ter o Politécnico de Leiria no apoio às empresas ao nível da descarbonização? Há projetos nesse sentido?
Destaco, entre muitos, alguns projetos, como o S4Agro – Soluções Sustentáveis para o Setor Agroindustrial, ou o REINOVA – SI (Re-industrialization of the agro-food sector – Sustainability and Innovation), para lançar novos produtos no setor agroalimentar, em resposta às novas tendências de produtos naturais, obtidos por processos sustentáveis e por princípios de economia circular e de eco-inovação. Também a participação do Politécnico de Leiria nos laboratórios colaborativos SmartFarm e Built Colab estão diretamente associados ao desenvolvimento de projetos promotores de descarbonização.

 

Para além das parcerias com empresas, qual tem sido o trabalho do IPL na vertente do puro ensino, nomeadamente na internacionalização dos seus cursos?
O Politécnico de Leiria tem já uma longa tradição na internacionalização não só ao nível das atividades de formação e da mobilidade de estudantes, professores e técnicos, como ao nível das atividades de cooperação para o desenvolvimento e de projetos internacionais de investigação e inovação. Tem-se procurado que este processo de internacionalização e de colaboração com parceiros internacionais cresça de um modo consistente, sustentável e transversal a todos os campos.

Em 2014, com a criação do novo estatuto do estudante internacional, aumentou significativamente a possibilidade de atrair estudantes estrangeiros para ciclos de estudo completos (Licenciatura e Mestrado) o que veio incrementar a vinda de estudantes de outras nacionalidades e aumentar a multiculturalidade das turmas, escolas, e das próprias cidades onde o Politécnico de Leiria está inserido. Esta multiculturalidade traz muitas oportunidades e desafios, por um lado, ao nível da monitorização e melhoria contínua da qualidade do ensino e, por outro, ao nível da preparação dos nossos diplomados para atuarem num mercado de trabalho cada vez mais globalizado.

 

Estão previstos novos mestrados no Politécnico de Leiria? Em que áreas?
No próximo ano letivo vamos ter três novas ofertas, o mestrado em Gastronomia, o mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica e o mestrado em Design para a Saúde e Bem-Estar. No entanto, a transformação gradual dos mestrados em estruturas modulares promotoras de requalificação e qualificação avançada, são hoje uma prioridade para o Politécnico de Leiria e, em si, uma inovação.

 

O que significa para o Politécnico de Leiria o facto da Comissão Europeia ter aprovado a candidatura da Regional University Network – European University (RUN-EU), liderada pelo Politécnico de Leiria, no âmbito da iniciativa Universidades Europeias, com a atribuição de financiamento do programa ERASMUS+?
A aprovação significa que o Politécnico de Leiria é hoje uma Universidade Europeia, liderando a Regional University Network (RUN-EU). Trata-se de mais um fator determinante na afirmação do Politécnico de Leiria enquanto instituição de ensino superior pública global e multicultural ao serviço da sociedade, que forma os seus estudantes com valores de cidadania para as profissões de hoje e do futuro. Reitero que as instituições de ensino superior que fazem parte da RUN-EU compartilham uma visão e um compromisso comum, focado na transformação da sociedade no contexto dos desafios regionais e globais emergentes e, em particular, para o desenvolvimento regional sustentável.

 

O que justifica a eventual alteração do nome do Politécnico de Leiria?
A luta e apoio da região para a alteração da designação do Politécnico de Leiria para Universidade Politécnica de Leiria são estratégicos. Somos reconhecidos externamente como universidade europeia, vamos arrancar em 2020/2021 com o primeiro doutoramento em associação do País entre politécnicos e universidades, com a Universidade do Minho, o Doutoramento em Fabrico Digital Direto para as Indústrias dos Polímeros e Moldes, mas falta Portugal assumir definitivamente a designação de Universidades Politécnicas. É fundamental para uma perceção social nacional e internacional do que fazemos e do que somos.

 

O Politécnico de Leiria fez um recente estudo sobre hábitos em Portugal durante a pandemia. Que conclusões relevantes foram retiradas?
Um estudo liderado por Raul Antunes, docente do Politécnico de Leiria, recentemente publicado no International Journal of Enviromental Research and Public Health, pretendeu compreender os estilos de vida da população adulta portuguesa durante a pandemia da Covid-19. O estudo incidiu sobre os estilos de vida da população adulta portuguesa durante a pandemia, nomeadamente no que se refere a hábitos de sono, hábitos alimentares e níveis de atividade física, bem como procurou compreender os níveis de ansiedade e a perceção de satisfação das necessidades psicológicas básicas durante o confinamento.

Destacou-se a importância de identificar quais os grupos que podem enfrentar mais dificuldades na adoção de comportamentos saudáveis, como atividade física, escolhas alimentares saudáveis e rotinas de sono. Mulheres e adultos mais jovens podem precisar de mais atenção, porque parecem praticar menos atividade física e devido à presença de níveis mais altos de ansiedade.

Os resultados enfatizaram a importância de continuar a divulgar a mensagem de ficar fisicamente ativo durante a pandemia, levando em consideração que a interação com o ambiente é limitada.

Concluiu-se igualmente da importância de se trabalhar no sentido de criar estratégias para promover hábitos alimentares saudáveis, não comendo mais ou com mais frequência, mas escolhendo cuidadosamente o que comer.

 

A escola tem algum projeto a ser desenvolvido com vista a gerar soluções para contrariar o efeito da pandemia na economia da região?
O Politécnico de Leiria esteve plenamente envolvido e comprometido, desde o primeiro momento, na criação do Gabinete Económico e Social da Região de Leiria, para dar uma resposta rápida e eficaz à crise económica e social provocada pela pandemia. Durante o período de confinamento e na evolução posterior respondemos sempre “presente” aos múltiplos apelos que recebemos dos parceiros económicos e sociais. Vamos continuar com esta postura institucional de abertura, resiliência e construção.

 

Em que projetos inovadores, ao nível da digitalização, novas tecnologias e redes sociais, está o Politécnico de Leiria envolvido?
Para além dos já referidos destaco o SmartOcean, o Parque de Ciência e Tecnologia do Mar, que visa acolher empresas na área da investigação e da economia do mar, em Peniche e que representa um investimento superior a 3,5 milhões de euros. Saliento ainda o Parque de Ciência e Tecnologia da Indústria a criar na Marinha Grande. Os parques de ciência e tecnologia e os centros empresariais de base tecnológica constituem projetos estratégicos para a transformação da região e contam com o envolvimento e apoio incondicional do Politécnico de Leiria. Destacar também o papel determinante do Politécnico de Leiria na criação da incubadora de inovação social (Leiria Social Innovation hub) liderada pela incubadora IDD.

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