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Reino Unido: tudo em aberto até ao último instante

Os britânicos vão hoje tentar explicar à Europa se querem exercer o seu direito de Brexit. Uma maioria absoluta dos conservadores será definitiva nesta matéria, mas uma maioria simples pode não resolver nada. E a diferença para os trabalhistas já foi maior.
12 Dezembro 2019, 07h52

Dizem os jornais ingleses que as sondagens estão desacreditadas, mas aparentemente nenhum político deixa de olhar para elas mal acorda todos os dias de manhã – e esse foi até ontem o pior momento do dia de Boris Johnson, ainda primeiro-ministro do Reino Unido: os dados apontam para que o ‘gap’ entre conservadores e trabalhistas era maior há apenas uma semana. Ou seja, hoje, dia de eleições, está tudo em aberto e o país vacila entre a maioria absoluta dos conservadores ou a maioria simples – que, segundo os analistas deixará o país mais ou menos como está desde 2016: sem capacidade para resolver de vez o seu destino próximo.

O dia de ontem foi o último da campanha eleitoral e os líderes de todos os principais partidos convergiram nos pungentes, quase emocionados, apelos para que ninguém fique em casa – como sucedeu, recorde-se, no dia 23 de junho de 2016, quando o ‘sim’ ao Brexit ganhou o referendo, em parte porque as camadas mais jovens e mais europeizadas do Reino Unido (para quem um visto, um passaporte ou uma fronteira são coisas esquisitas) acharam coisa melhor para fazer que exercer o seu direito de voto.

Boris Johnson destacou-se nesse desiderato: revelando uma imaginação de que nunca ninguém duvidou, o primeiro-ministro desdobrou-se em manobras, algumas delas muito cómicas (tendo mesmo arranjado um aborrecimento com o ator Hugh Grant), para convencer os seus eleitores que a vantagem dos conservadores não é tão extensa que dê margem para militâncias ociosas.

A outra linha de força da campanha conservadora esteve concentrada na diabolização do programa eleitoral dos trabalhistas liderados por Jeremy Corbyn – mas, a acreditar nas sondagens, e contra todas as expectativas dos analistas, os britânicos ficaram razoavelmente pacíficos com as ‘ameaças’ de nacionalizações, fiscalidade persecutória dos mais afortunados e intensa gastação de dinheiros públicos em áreas tão pouco modernas como a segurança social e o serviço nacional de saúde.

Os trabalhistas, e principalmente Jeremy Corbyn, mantiveram-se iguais a si mesmo – iguais ao que são desde que são liderados por Corbyn, entenda-se: o presidente do partido não se desviou uma vírgula do enunciado que foi apresentado como o programa do partido e não cedeu a retirar-lhe as partes consideradas mais de esquerda radical, como há muito não se viam nos países europeus e em ‘casa’ de um partido com possibilidades de chegar à governação.

Com os restantes partidos a ‘riscarem’ cada vez menos, os britânicos vão a votos num dia que será decisivo para o seu futuro próximo. Ou não. Se os conservadores vencerem com maioria absoluta, o Brexit passará a ser uma certeza. Mal a rainha lhe dê posse, Boris Johnson apressar-se-á a correr à Câmara dos Comuns pedir o apoio geral ao acordo com Bruxelas e tentará (a 1 de janeiro ou o mais tardar a 31 do mesmo mês), sair finalmente do agregado dos 28.

O problema é que, se a maioria conservadora for apenas simples, fica tudo na mesma: os trabalhistas insistirão num novo referendo – mesmo que seja apenas sobre o acordo que está em cima da mesa – e o país continuará a afundar-se em debates e discussões que até agora, mais de três anos depois, se revelaram completamente estéreis e muito pouco proveitosas.

Seja como for, logo no dia seguinte está marcada uma reunião geral do Conselho Europeu para debater os resultados das eleições – e para os chefes de Estado ou de governo dos 27 perceberem o que se seguirá. E o que se seguirá volta ao mesmo: com uma maioria absoluta é o Brexit, com uma maioria simples é o regresso à confusão total, num quadro em que Bruxelas já esgotou a paciência e a capacidade de ceder aos caprichos dos britânicos. Em princípio, tudo ficará esclarecido no final da noite de hoje.

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