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Resíduos. Conseguirá Portugal atingir as metas de 2020?

Portugal está longe das metas de reciclagem para 2020, ficando nos 29% quando o objetivo é 50%
14 Junho 2016, 08h00

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revelou recentemente o relatório “Resíduos Urbanos 2014”, no qual sublinha que “embora nos últimos anos tenha sido feito um esforço considerável na modernização dos equipamentos de triagem e no reforço das redes de recolha seletiva, o país está longe de alcançar os objetivos de reciclagem para 2020”. Considerando, por isso, que será este “talvez o maior dos desafios” do novo PERSU 2020 (Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos).

Sobre as referidas metas estabelecidas para Portugal, importa esclarecer que são fixadas em diretiva europeia e apontam, para o 2020, um aumento mínimo de 50% em peso relativamente à preparação para reutilização e reciclagem do lixo, incluindo papel, cartão, plástico, vidro, metal, madeira e materiais biodegradáveis. No entanto, segundo a APA, a taxa de reciclagem em 2014 não foi além de 29%, ou seja, ficou “bastante aquém da meta definida para 2020”.

Tendo presente o curto intervalo de tempo até que a meta seja aplicável, a APA sublinha que “exigirá um esforço considerável” e garante que o crescimento na reciclagem deverá ser obtido através de uma “aposta forte na recolha seletiva” e com maior eficiência na triagem e recuperação de recicláveis em unidades de Tratamento Mecânico e Biológico (TMB).

Ao analisar a evolução deste dossiê, a APA revela algumas preocupações, apesar de reconhecer que foi feito um esforço significativo para aumentar o número de infraestruturas de recolha seletiva, como sejam os ecopontos e ecocentros.

Assim, se por um lado a preocupa que este aumento não tenha tido “reflexos proporcionais nas quantidades” obtidas, por outro, considera que as metas são igualmente ameaçadas pelo facto de mais de metade dos 23 Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos (SGRU) recolherem seletivamente menos de 10% dos resíduos que produzem.

 

Os investimentos feitos no sentido do aumento da deposição seletiva não têm tido os devidos reflexos nos

comportamentos da população, conclui a APA.

 

Lixo: Imperativo atingir 7,6%

Neste relatório, há também uma chamada de atenção e um ponto de situação em relação ao lixo. Segundo a APA, é igualmente necessário reduzir o lixo produzido, assumindo como objetivo principal atingir, no mínimo, 7,6% em peso por habitante em dezembro deste ano, para chegar aos 10%, em 2020, na comparação com 2012.

Os últimos dados disponíveis para 2014 referem uma inversão do comportamento dos anos anteriores e o total de lixo aumentou 2,5%, para 4,5 milhões de toneladas, face a 2013. Na análise da quantidade de resíduos produzidos por habitante, o resultado é uma redução de 0,49%, longe dos 7,6% a atingir este ano.

Esta situação leva a APA a defender que é indispensável apostar “ainda mais” nesta área e embora o PERSU 2020 já integre ações nesse sentido, a agência sublinha que, para cumprir a meta de prevenção definida para 2016, será necessário um decréscimo de produção de 7,1%, em dois anos. “O que é um objetivo muito ambicioso”, alerta. Mais de metade do lixo produzido (53,3%) é biodegradável e 73% é reciclável, a maior parte com possibilidade de valorização, justificando, para a APA, o investimento em medidas para a sua recuperação.

Outra tarefa a cumprir refere-se à deposição de resíduos biodegradáveis em aterro, que deve descer até 35%, em 2020 (face a 1995). Portugal caminhava nessa direção, de 88%, em 2008, a 53%, em 2013. Em 2014, porém, as quantidades de materiais direcionados para os aterros estabilizaram nos 52%. A APA considera que “a concretização da meta de 2020 está fortemente dependente da construção das infraestruturas de TMB previstas”. Também em 2014, apenas nove dos 23 SGRU depositaram em aterro menos de 80% do lixo produzido. Três deles utilizam a incineração como destino direto e seis SGRU cumprem a meta individual de deposição máxima de resíduos urbanos biodegradáveis em aterro, definida para 2020.

Embalagens recicladas. 442 mil toneladas em 2015

Os portugueses encaminharam para reciclagem 442 mil toneladas de embalagens, em 2015, mais 6% do que no ano anterior, com a maior subida a pertencer ao plástico, e a única descida a ser apresentada pelo papel e cartão.

Assim, tal como explica a Sociedade Ponto Verde (SPV), entidade que compila e estuda estes dados, em 2015, registou-se um crescimento de 32% do plástico, ao atingir 115.701 toneladas de material recuperado, no fluxo urbano que inclui embalagens de origem doméstica, do pequeno comércio e canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés).

Nesta sua análise, a SPV realça ainda o papel da recolha seletiva, com os eco pontos e o sistema porta a porta que, também durante 2015, cresceu 5%, para 320.629 toneladaso. No global dos dois fluxos, o urbano e o não urbano, a SPV enviou para reciclagem 729 mil toneladas de embalagens, um valor semelhante ao conseguido no ano anterior.

Sobre a quebra do papel e cartão, que foi na ordem dos 12%, levou a uma descida do segundo para o terceiro lugar na lista dos materiais de embalagem encaminhados para reciclagem, por troca com o plástico que, assim, subiu uma posição. No entanto, segundo as contas da SPV, as 111,8 mil toneladas de papel e cartão, enviadas para tratamento, seriam suficientes para embrulhar mais de quatro mil Torres de Belém.

Em conclusão, a SPV sublinha que os resultados globais obtidos se devem às campanhas de sensibilização que desenvolveu, nos quase 20 anos de atividade, e que contribuíram para que, atualmente, sete em cada dez lares portugueses façam a separação das suas embalagens usadas.

A SPV acredita que, nos próximos anos, a reciclagem de embalagens usadas continuará a aumentar em Portugal, contribuindo realmente “para um futuro melhor para as gerações vindouras”.

Por Sónia Bexiga/OJE

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