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Respostas Rápidas: em águas turbulentas, como irá reagir a Navigator?

A taxa anti-dumping imposta por Donald Trump às vendas de papel da empresa nos EUA teve um impacto forte: um tombo de 7,74% na cotação, só esta segunda-feira. Leia aqui o que poderá acontecer ao título e às contas de empresa nos próximos tempos.
  • Jonathan Drake/Bloomberg
14 Agosto 2018, 07h40

Qual foi o impacto no mercado da taxa que a administração Trump impôs à Navigator?

A notícia, anunciada na sexta-feira à noite pela própria Navigator sobre a imposição pelos EUA de uma taxa anti-dumping de 37,34% retroativa ao papel vendido pela empresa entre agosto de 2015 e fevereiro de 2017, recebeu uma reação imediata na abertura da bolsa esta segunda feira.

A cotação afundou rapidamente 18% para 4,08 euros por ação, mínimos de 12 de fevereiro deste ano, acabando por aliviar as perdas durante o resto da sessão para fechar a tombar 7,74% para 4,602 euros, valor tocado pela última vez a 13 de março.

Em termos de quantidade de acões transacionadas, a sessão também foi excepcional, com 3,23 milhões de títulos a mudar de mãos. Este ano, até à sessão de segunda feira, a média diária tinha sido de 635,16 milhões, numa série em que em apenas 12 sessões das 156 do ano tinha sido superado o valor de 1 milhão de ações transacionadas.

Em termos de capitalização bolsista a sessão custou cerca de 255 milhões de euros, segundo cálculos do JE baseados em dados da Euronext Lisbon, com o market cap a  descer para 3.301 milhões de euros.

Mas não foi só a ação da empresa liderada por Diogo da Silveira a sofrer o impacto. A Semapa, que controla quase 80% da Navigator, caiu esta segunda-feira 4,66% para 18,82 euros por ação, mínimos 4 de maio.

O que poderá acontecer ao título nos próximos dias?

A queda a pique acabou por ser atenuada com o decorrer da sessão, mas a possibilidade de as quedas continuarem é um cenário referido pelos analistas. Carla Maia Santos, senior broker da corretora XTB, sublinhou esta segunda-feira que “apesar da empresa portuguesa avançar com ‘reclamação’ aos EUA, enquanto não houver um fecho do tema, podemos continuar a assistir à fuga dos investidores da empresa”.

Durante a sessão, Paulo Rosa, trader da Go Bulling, previu (acertadamente) em comentários à Reuters que o título poderia encontrar algum suporte em redor dos 4,5 euros, pelo menos durante segunda-feira. Acrescentou, no entanto, que “nos próximos dias vai depender do que os analistas vão dizer sobre isto”.

Até agora, não há informação sobre cortes nem nos preço-alvo nem nas recomendações dos analistas para a Navigator. Segundo a informação apresentada no site de Investor Relations da empresa, datada de 18 de junho, a grande maioria dos nove analistas que acompanham o título colocava o price target acima dos 5 euros por ação.

Numa nota divulgada a 26 de julho, o BiG Research, do Banco de Investimento Global, colocava o preço-alvo em 6,39 euros por ação, quando a cotação estava nos 5,01 euros, com uma recomendação de Buy, sustentada por uma perspetiva positiva para os preços do papel.

Qual poderá ser o impacto nas contas e na estratégia da empresa?

Segundo os números divulgados pela própria empresa, ao câmbio atual, a taxa terá um impacto estimado de aproximadamente 66 milhões de euros no EBITDA – lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações – da Navigator e de 45 milhões nos lucros líquidos deste ano.

Nos números relativos ao desempenho do primeiro semestre, divulgados a 25 de julho, a Navigator referiu que o volume de negócios totalizou 817 milhões de euros, 0,5% acima do semestre homólogo, o EBITDA cresceu 14% para 226 milhões de euros e o resultado líquido aumentou 24% para 119 milhões de euros.

“As perspectivas para o sector da pasta mantiveram-se positivas ao longo do primeiro semestre de 2018, verificando-se uma pressão em alta no preço durante este período”, explicou nessa altura a empresa adiantando que não antecipava factores que possam vir alterar significativamente esta tendência positiva do mercado.

Alertou, no entanto, que “apesar da manutenção das expectativas positivas para o crescimento das principais economias mundiais, em particular para a economia norte-americana e europeia, existe também uma crescente volatilidade nos mercados, fruto dos receios das potenciais consequências do aumento das tensões comerciais.”

Os analistas do CaixaBank BPI Research recordaram esta segunda-feira que a empresa tem cerca de 10% das suas vendas expostas aos EUA, pelo que esta taxa de 37,34% sobre as vendas poderá representar cerca de 15% do EBITDA da empresa (mantendo-se tudo o resto constante).

No comunicado que divulgou no site da CMVM na sexta-feira, a Navigator informou que continua a defender que não existem fundamentos para a aplicação de medidas desta natureza às vendas dos seus produtos nos Estados Unidos e vai recorrer dessa decisão. “Como parte do recurso, a Navigator vai interpor uma providência cautelar para impedir a Alfândega dos EUA de aplicar a nova taxa sobre as importações efectuadas durante o primeiro período de revisão”, adiantou.

Explicou ainda que “recorrerá a todos os meios processuais disponíveis e está convencida que vai conseguir demonstrar perante os tribunais norte-americanos que a taxa para o período em causa é totalmente injustificada e, consequentemente, fazer com que o Departamento de Comércio reverta esta medida administrativa”.

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