[weglot_switcher]

Respostas rápidas. O conflito entre Israel e o Hamas vai continuar?

São os piores confrontos desde há vários anos entre Israel e a Palestina. O que pareciam ser apenas escaramuças motivadas pelo Ramadão resultou numa operação militar de largo espectro cujo fim não está à vista.
14 Maio 2021, 12h21

Mais uma vez, o Ramadão foi palco para o aumento da violência em Israel, entre o exército do Estado hebraico e o movimento Hamas, que controla a Faixa de Gaza. O movimento – que não está totalmente alinhado com a Fatah, que domina a Autoridade Palestiniana e tem como centro de atuação a Cisjordânia – é considerado terrorista, até porque, acusa Israel, é financiado pelo regime iraniano.

Com um forte potencial de alastrar ao Líbano – como quase sempre – mais este conflito tem como motivo profundo uma circunstância nova: as eleições na Palestina.

Qual a razão de mais uma escalada de violência entre Israel e a Palestina?

As eleições gerais palestinianas, previstas para este mês – e as presidenciais, que deveriam suceder em junho – são o motivo profundo dos confrontos. Israel sabe que as novas eleições (que se realizariam 15 anos depois das últimas) vão acabar por conferir ao Hamas uma posição de força que o Estado hebraico não está interessado em ter dentro das suas fronteiras.

Israel permitirá a realização das eleições?

Em princípio, a questão nem sequer se coloca: Israel não tem nada que permitir ou deixar de permitir as eleições. Mas o certo é que tem feito tudo para que elas não aconteçam. Desde logo, quando há cerca de dois meses tentou convencer a Autoridade Palestiniana, responsável pela organização do escrutínio, a deixar de fora o Hamas.

A Autoridade Palestiniana aceitou?

Não. Pelo menos formalmente. Pouco tempo depois desta tentativa de intromissão nas eleições por parte de Israel, alguns altos responsáveis da Autoridade Palestiniana vieram dizer que não estavam reunidas condições mínimas para a sua realização – indo de modo indireto ao encontro dos desejos de Israel.

Que motivos foram invocados?

A vontade de Israel impedir que os muçulmanos a viverem em Jerusalém exercessem o seu direito de voto – alegando que Jerusalém, toda a Jerusalém e não apenas a parte ocidental da cidade, é hoje a capital de Israel.

Jerusalém é a capital de Israel?

Não.

As eleições vão realizar-se?

Possivelmente não, dado que a Fatah está neste momento muito dividida, com vários movimentos originários no seu seio a concorrerem independentemente do movimento, o que fará com que a sua influência desapareça.

O que dizem os palestinianos disto tudo?

Que a Autoridade Palestiniana, e por maioria de razão a Fatah, é um movimento envelhecido, datado e que já não corresponde aos anseios da população da Palestina. O perigo da erosão do movimento é real.

A guerra é para continuar?

Claro. Israel recusou um apelo ao cessar-fogo enviado pelo Hamas com a intermediação do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo e, ao contrário, aumentou o contingente, tendo mesmo decidido acionar as suas forças terrestres para entrar na Faixa de Gaza. Depois dessa decisão, estamos perante uma espécie de guerra total: os ataques aéreos costumam ser de defesa fácil, com os palestinianos a recorrerem aos abrigos de proteção. Mas, com a guerra a pé, esses abrigos estão ao alcance do fogo israelita – sendo certo que o número de baixas tenderá a aumentar.

A Cisjordânia está ao abrigo dos confrontos?

Não. Apesar das fracas relações entre o Hamas e a Fatah, a verdade é que os palestinianos no terreno acabam por responder com violência à violência, mesmo quando ela está a acontecer apenas num dos dois enclaves. Já esta sexta-feira, 14 de maio, registaram-se confrontos na Cisjordânia entre palestinianos e as tropas israelitas.

Quantos mortos a lamentar?

Neste momento, há a registar 128 mortos, dos quais 9 israelitas e 118 palestinianos.

Que faz a comunidade internacional?

O presidente da Turquia, Recep Erdogan, tem liderado o combate político à intervenção do exército israelita, apelando a que o mundo islâmico e os seus parceiros internacionais recusem aceitar a política israelita para com os enclaves palestinianos. Entretanto – e para além dos apelos ao cessar-fogo e ao diálogo, uma maneira como outra qualquer de os estadistas passarem o tempo livre – os Estados Unidos pediram uma reunião urgente para a próxima segunda-feira do Conselho de Segurança da ONU.

O que poderá resultar daí?

É uma grande incógnita. Nunca o Conselho de Segurança emitiu qualquer decisão lesiva para Israel, dado que os Estados Unidos usam sempre o seu direito de veto (que todos os cinco membro têm) para que isso não aconteça. O que é surpreendente desta vez é que são os próprios Estados Unidos a convocarem o encontro – querendo isso dizer que a administração Biden pode não ter uma posição tradicional face a mais um estado de sítio no Médio Oriente.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.