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Respostas Rápidas: o que está por trás das manifestações no Irão?

Pelo menos 20 pessoas já morreram e centenas foram detidas desde quinta-feira nas maiores manifestações no Irão desde 2009. Conheça aqui as causas e as reações à turbulência.
2 Janeiro 2018, 11h02

Quando, e porquê, começaram as manifestações?

A primeira manifestação ocorreu na quinta-feira, 28 de dezembro, em Mashad, a segunda maior cidade do país, quando centenas de iranianos saíram às ruas para protestar contra subidas nos preços da alimentação e as dificuldades económicas em geral.

O acordo assinado pelo presidente Hassan Rouhani com as grandes potências mundiais em 2015 previa que o abrandar do programa nuclear do país e o levantar da sanções económicas trouxesse benefícios para a população, mas muitos iranianos dizem que a situação económica não se alterou e que a corrupção e a má gestão estão a prejudicar o país.

Segundo dados do Centro de Estatística do Irão, citados pela Reuters, o desemprego está nos 12,4%, após uma subida de 1,4 pontos percentuais em um ano, deixando 3,2 milhões de iranianos sem emprego num país com uma população de 80 milhões.

O líder supremo iraniano, Ayatollah Ali Khamenei, tem frequentemente criticado o Governo de Rouhani e disse na quarta-feira que o país está a lutar contra “os preços elevados, a inflação e a recessão”.

As manifestações começaram devido aos problemas económicos, mas rapidamente se tornaram em protestos contra o próprio regime, com vídeos publicados nas redes sociais a mostrarem os manifestantes a gritarem “morte ao ditador”, referindo-se a Rouhani, que está no poder desde 2013.

Como é que escalaram os protestos?

A partir de Mashhad, as manifestações espalharam-se por várias cidades. Segundo Ali-Asghar Naserbakht, vice-governador da província de Teerão, citado pela agência ILNA, mais de 200 pessoas foram detidas no sábado, 150 no domingo e 100 na segunda-feira. Naserbakht adiantou que a situação na capital está sob controlo e que não foi pedida uma intervenção da Guarda Revolucionária em Teerão.

Esta terça-feira, a televisão estatal iraniana informou que pelo menos nove pessoas morreram em confrontos entre manifestantes e forças de segurança.  De acordo com a mesma fonte, seis pessoas foram mortas durante um ataque contra uma esquadra da polícia na cidade de Qahdarijan. Entre as vítimas está um rapaz de 11 anos e um membro da Guarda Revolucionária.

As manifestações são as maiores desde 2009 no Irão, quando as autoridades esmagaram protestos após uma eleição presidencial na qual Mahmnoud Ahmadinejad venceu um segundo mandato presidencial. Enquanto milhões de iranianos participaram nesses protestos, os da última semana têm sido menores em escala.

“Mas o que tem sido maior do que em 2009 é a escala geográfica. Em 2009, foi principalmente em Teerão, enquanto agora começou em cidades muito religiosas como Mashhad e Qom, e espalhou-se a cidades mais pequenas”, disse Karim Sadjadpour, analista especializado na questão do Irão no Carnegie Endowment for International Peace, em Washington, à rádio pública norte-americana PBS.

“A outra diferença é que os slogans destes protestos têm sido muito mais intensos do que os de 2009. Nessa altura eram sobre um processo eleitoral, enquanto agora as pessoas estão a pedir as cabeças dos líderes e o fim da república islâmica”, explicou.

Rouhani já fez um apelo à calma e reconheceu que os iranianos têm “o direito de criticar as autoridades” embora tenha deixado um alerta. “O governo não vai tolerar aqueles que danifiquem propriedade pública, a violação da ordem pública, e que criem agitação na sociedade”, afirmou.

Quais foram as principais reações internacionais?

Esta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, apelou a uma mudança no Irão. No Twitter o governante norte-americano disse que o país está a falhar a todos os níveis e que o povo foi reprimido.

Trump acrescentou que “o povo tem fome de alimentos e de liberdade” acrescentando que “a grande riqueza do irão é confiscada tal como os seus direitos humanos” e que “é tempo de mudança”.

Foi também no Twitter, que John Kerry, antigo secretário de Estado da administração de Barack Obama e que foi um dos principais negociadores do acordo de 2015, reagiu. “Com humildade sobre o quão pouco sabemos sobre o que se está a passar no Irão, isto está claro: é um momento iraniano e de mais ninguém”, escreveu. “Mas os direitos das pessoas para se manifestarem pacificamente e darem voz às exigências são universais e os governos em todo lado devem respeitar isso”.

A vizinha Turquia reagiu esta terça-feira através de um comunicado do ministério dos Negócios Estrangeiros.

“Acreditamos que o Presidente [iraniano, Hasan] Rohani deve evitar a violência e as provocações. Deve ter em conta que as pessoas têm direito a manifestar-se pacificamente”. O Ministério reconheceu, no entanto, que “a lei não pode ser violada e a propriedade pública não deve ser prejudicada”.

“Desejamos que se garanta a paz no país e que prevaleça o senso comum para prevenir a escalada de acontecimentos, e que se evite a retórica provocadora e as intervenções externas”, acrescentou.

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