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Respostas Rápidas: O que se passa na fronteira entre Bielorrússia e Polónia?

A Polónia e a União Europeia acusam a Bielorrússia de organizar o fluxo de migrantes de forma a “entupirem” a fronteira mais próxima do bloco, na Polónia, através de informações falsas que prometem facilidade em chegar e obter a cidadania num dos países do bloco europeu.
24 Novembro 2021, 17h30

Milhares de pessoas do Médio Oriente têm tentado chegar à Europa através do território Bielorrusso, mas sem sucesso. O grande objetivo dos migrantes é pisar solo do bloco europeu, mas os entraves multiplicam-se: desde o preço dos voos, às restrições da Covid-19, passando também pelas relações diplomáticas entre alguns países.

A Polónia e a União Europeia acusam a Bielorrússia de organizar o fluxo de migrantes de forma a “entupirem” a fronteira mais próxima do bloco, na Polónia, através de informações falsas que prometem facilidade em chegar e obter a cidadania num dos países do bloco europeu.

Para agravar a crise, a Turquia proibiu recentemente o embarque de cidadãos vindos do Iraque, Síria e Iémen, potenciando a alegada “estratégia” da Bielorrússia.

Qual a origem da crise migratória?

Em 2020, as autoridades bielorrussas simplificaram os requisitos de obtenção de visto para 76 países, entre os quais vários afetados por graves conflitos sociais e militares, como na Síria, Iraque, Líbia ou Afeganistão. Devido a esses mesmo conflitos, milhares de pessoas tentam todos os dias fugir dos seus países e, muitas vezes, procuram as rotas mais fáceis e baratas para chegar à Europa.

Nesse sentido, a Bielorrússia tem conduzido uma campanha onde promete aos refugiados oportunidades de emprego e facilidade em obter um local onde viver, sempre com o selo da União Europeia. A ser verdade, seria uma medida honrosa e demonstrativa do espírito do bloco, que procura ajudar pessoas em situações de conflito, ainda que sem muito sucesso nos últimos anos devido à diferença de posições de alguns países que compõem a União Europeia.

As viagens para a Bielorrússia podem custar entre oito a 17 mil euros e, segundo as acusações da UE, o país, incluindo as autoridades, estarão a tirar partido das ofertas promovidas pelas agências de viagem.

Como é que os migrantes chegam à fronteira com a Polónia?

Muitos dos voos são operados pela Belavia (companhia de Bielorrússia banida de voar na União Europeia devido às sanções), Turkish Airlines e Qatar Airlines, e outra companhia aérea de baixo custo conhecida como Fly Dubai.

Até há pouco tempo, o visto de refugiado, caso o passageiro precisasse, era concedido no próprio aeroporto no momento do embarque. Nas portas de embarque dos voos, é impossível distinguir passageiros como migrantes ou refugiados. Eles têm dinheiro, todos os seus documentos estão em ordem, as suas roupas são muito parecidas. Então, na maioria das vezes não há razão para impedir alguém de embarcar no voo.

O que acontece a seguir não está completamente esclarecido. Alguns vídeos que têm circulado nas redes sociais mostram passageiros a serem transportados de forma organizada do aeroporto de Minsk até à fronteira com a Polónia e Lituânia. A grande dúvida permanece sobre quem terá a responsabilidade logistica pelo transporte, ainda que a UE suspeite que se trate diretamente do governo bielorrusso.

Os refugiados conseguem atravessar a fronteira?

No início da crise migratória, os guardas polacos e lituanos da fronteira deixavam as pessoas passarem e depois encaminhavam-nas para instalações especiais, de forma a regularizarem a estadia no país e em solo europeu. No entanto, após algum tempo e, com o aumento do fluxo de migrantes, Lituânia e Polónia começaram a desconfiar se a vizinha Bielorrússia estaria a reencaminhar os migrantes de forma propositada.

Após centenas e depois milhares de pessoas tentarem cruzar a fronteira todos os dias, a Polónia e a Lituânia decidiram encerrar a passagem na fronteira e começaram a fortificar a área com cercas de arame farpado.

Atualmente, a fronteira permanece encerrada e só pode ser atravessada de forma ilegal, o que não impediu vários refugiados de tentarem a sua sorte. Apesar do reforço de segurança, a fronteira entre a Bielorrússia e Polónia estende-se por 400 quilómetros, o que “facilita” a procura por um local não vigiado e passível de ser atravessado.

A Bielorrússia incentiva os migrantes a atravessarem a fronteira ilegalmente?

A julgar por dezenas de declarações dos próprios refugiados e pelos vídeos que autoridades lituanas e polacas têm divulgado, o órgão de fronteira da Bielorrússia está mesmo a incentivar e a apoiar diretamente os refugiados a atravessarem a fronteira ilegalmente.

Ainda assim, o governo local tem rebatido as informações/acusações. “A Bielorrússia está a cumprir o seu maior dever de impedir a migração ilegal. As razões (para este novo fluxo) podem ser encontradas no apoio dos países da UE às revoluções ‘coloridas’ (o termo usado para descrever revoltas populares contra certos governos) nas regiões onde vidas foram destruídas ou há guerras”, diz o governo de Aleksandr Lukashenko.

Qual é o destino final mais procurado pelos migrantes?

Tanto a Polónia quanto a Lituânia são considerados, assim como a Bielorrússia, países de trânsito para refugiados e migrantes. Muitos deles têm como destino final a Alemanha, França, Áustria e Países Baixos onde, tendencialmente, já têm familiares ou conhecidos.

De acordo com as autoridades alemãs, pelo menos cinco mil pessoas já chegaram a território germânico via Bielorrússia.

Confirma-se o envolvimento da Rússia na crise migratória?

As autoridades de diversos países da União Europeia afirmam que sim, ainda que não tenham apresentado provas. O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, disse que “este ataque que (o presidente bielorrusso) Lukashenko está a perpetrar tem o seu cérebro em Moscovo. O cérebro é o presidente Putin”.

Por sua vez, as autoridades russas refutam categoricamente as acusações. O secretário de imprensa do presidente russo, Dmitry Peskov, considerou as palavras de Morawiecki irresponsáveis ​​e inaceitáveis.

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu ao presidente Putin que intervenha na crise, situação que a União Europeia considera “um ataque híbrido” com o objetivo de destabilizar o bloco europeu.

A Rússia elogiou o tratamento “responsável” do seu aliado bielorrusso na questão da fronteira e disse que está a acompanhar a situação de perto.

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