Em 2014, a consultora Mckinsey fez um estudo em oito países da Europa, entre os quais Portugal, sobre a relação entre o emprego, a empregabilidade e as qualificações – “Education to Employment Getting Europe’s Youth Into Work” – e concluiu que em Portugal as instituições de ensino, os empregadores e os alunos vivem de costas voltadas. Nele se perguntava às instituições de ensino se consideravam que os jovens no final do seu ciclo de formação estavam preparados para o mercado de trabalho, 80% respondeu que sim. A mesma pergunta foi feita aos jovens e apenas 48% responderam afirmativamente. No caso dos empregadores, que são quem decide se aqueles jovens entram ou não no mercado de trabalho, esse valor caiu para 33%.

No mesmo estudo, 30% dos empregadores afirmavam não ter preenchido postos de trabalho por não encontrarem candidatos com as competências certas – uma dificuldade que afectava principalmente as PME. Por outro lado, apenas um terço dos empregadores dizia ter contactos regulares com instituições de ensino. Convém encarar a realidade e assumir que o país tem um problema na sua relação entre o sistema educativo e a economia real. Impõe-se questionar sobre se os perfis de qualificações com que estamos a formar “a geração mais qualificada de sempre” são os mais ajustados às necessidades do país.

O paradigma de ensino ainda dominante no nosso sistema educativo data do séc. XIX e foi criado para responder às necessidades impostas pela revolução industrial, que carecia de uma força de trabalho que transmitisse os valores capazes de garantir a produção em série: assiduidade, pontualidade, obediência e silêncio. A forma como a escola, e em particular a sala de aula, se organiza replicou o modelo de organização do trabalho das fábricas, onde a matéria-prima (os livros) é fornecida aos trabalhadores (os alunos) que ocupam uma posição fixa na linha de montagem (mesas dispostas em filas) e onde o chefe de secção (o professor) distribui as tarefas (a matéria, os exercícios, os exames). O mundo actual exige que estimulemos e potenciemos os cérebros dos nossos jovens e das suas múltiplas inteligências, em vez de os paralisarmos através da imposição de um mesmo padrão. A revolução dos cérebros é absolutamente urgente.

O último relatório PISA, que regista uma melhoria nas competências dos alunos portugueses, confirmando uma tendência que vinha de avaliações anteriores, sinaliza que ainda assim persistem forças de bloqueio que impedem maiores avanços e mais céleres, designadamente ao nível da escola pública. O relatório refere que uma das razões dos progressos registados se prende com a “flexibilidade” demonstrada pelos professores no cumprimento do plano curricular face à especificidade e aos ritmos de aprendizagem dos alunos. O relatório da OCDE diz, “preto no branco”, que nas instituições de ensino privado essa “flexibilidade” é muito maior do que na escola pública, cuja acção dos professores está fortemente condicionada pelas imperativas orientações emanadas do Ministério da Educação.

O grande desafio está no reforço da autonomia das escolas e da flexibilização dos planos curriculares, o que implica mudar o actual paradigma informacional e mecanicista de ensino, como plataforma de distribuição massiva de informação do professor para o aluno, para um modelo construtivista, relacional e motivacional em que o processo de aprendizagem é sempre interpretativo e dedutivo. Em suma, transformar o actual sistema de ensino num efectivo sistema de aprendizagem, centrado na aquisição das competências necessárias para a sociedade e a economia do séc. XXI, como o pensamento criativo e crítico, a capacidade de resolver problemas, o trabalho colaborativo e a capacidade de comunicação. Mas esta é uma revolução que poucos sabem, querem e estão preparados para fazer.