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Robert A. Iger: O homem que deu Força, Pixar, Fox e Marvel ao Rato

Depois de conduzir uma sucessão de negócios milionários que fizeram da Disney a dona da maior parte dos sonhos do mundo, o próximo (talvez último) desafio do gestor que a preside desde 2005, e assim continuará a fazer até 2021, é o Disney+, serviço de streaming concorrente da Netflix.
25 Maio 2019, 17h00

Em semana de divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2019 da Disney, que ultrapassaram ligeiramente expetativas do mercado, com receitas de 14,9 mil milhões de dólares (13,3 mil milhões de euros), o presidente do conselho de administração e da comissão executiva da montanha que o rato pariu, Robert A. Iger, andou mais ocupado com “Vingadores: Endgame”. E não só por a sequela de “Vingadores: Guerra do Infinito”, filme mais rentável a nível mundial em 2018, estar a um passo de ultrapassar “Avatar” como o maior êxito de bilheteira de sempre.

No pensamento de Iger têm estado aqueles que não podem ir a um centro comercial descobrir se os super-heróis da Marvel que sobreviveram à morte de metade dos seres vivos do universo no filme anterior conseguiram ou não derrotar o temível vilão Thanos. “É com o maior orgulho que revelo, a todos quantos perguntaram, que “Vingadores: Endgame” está a ser levado para quase 40 instalações militares dos Estados Unidos na Europa e nos Estados Unidos. Milhares de homens e mulheres ao serviço dos Estados Unidos irão ver (e apreciar) o filme nestas próximas semanas”, escreveu aos 112 mil seguidores da sua conta de Twitter. A mesma em que vai promovendo alguns dos próximos chamarizes de receitas, como o episódio final da terceira trilogia de “Star Wars” e em que assumiu o compromisso da empresa em participar com cinco milhões de dólares na reconstrução da catedral de Notre Dame de Paris.

Controlar a informação nem sempre tem sido fácil para o gestor de 68 anos, que é presidente executivo da Disney desde 2005 (e do conselho de administração desde 2012) e já apontou data de saída, confirmando que passará o testemunho ao próximo sucessor de Walt Disney em 2021. Mesmo que não faltem analistas a salientar que merece continuar a receber depois dessa data cada cêntimo de um salário anual de 65,6 milhões de dólares (58,6 milhões de euros), estar numa posição tão elevada da pirâmide de rendimentos suscita críticas, nomeadamente de Abigail Disney. Nada mais nada menos do que a sobrinha-neta do homem que passa por ser pai do Rato Mickey, e que escreveu um artigo no “The Washington Post” a defender, por entre elogios a Iger, que era imoral ter alguém a receber 1424 vezes mais do que o salário médio dos trabalhadores da empresa.

Partindo do princípio que cumpre a promessa, e não se deixa convencer a voltar a prolongar o contrato, Iger tem mais dois anos para conduzir ao sucesso a sua mais recente aposta: o serviço de streaming Disney+, que juntará filmes e séries originais com o enorme catálogo da Disney para apertar a concorrência à Netflix a partir de 12 de novembro.

Conteúdos não faltam, e em boa parte por responsabilidade direta de Iger, que na última década e meia conduziu uma sucessão de negócios multimilionários que alteraram de forma drástica a paisagem da indústria do entretenimento. Primeiro veio a compra da Pixar, em 2006, por 7,4 mil milhões de dólares, reforçando ainda mais o domínio na animação, seguindo-se a Marvel Entertaiment em 2009 (quatro mil milhões), a Lucasfilm em 2012 (60 milhões mais cara do que a Marvel) e a 21st Century Fox, numa operação concluída já neste ano, por impressionantes 71,3 mil milhões de dólares. Trocando por aquilo que miúdos (e graudos) gostam, o Rato Mickey tem agora a companhia do Woody e do Buzz de “Toy Story”, do Homem-Aranha, do Capitão América e restantes Vingadores, de Luke Skywalker e até de Bart Simpson e Peter Griffin.

“Com os filmes da Marvel e de ‘Star Wars’, a Disney comprou universos ficionais completos que podem gerar gerar novos conteúdos lucrativos em todas as direções. Uma personagem de um filme da Marvel pode inspirar uma nova diversão num parque temático da Disney, inspirar uma série televisiva e estar no centro de um jogo de vídeo, tudo sob a chancela da Disney”, lia-se num artigo da revista ‘Time’ em que o presidente da empresa aparecia na capa.

É graças a esses negócios que os próximos anos da Disney estão recheados de êxitos globais à espera de acontecer, das quatro sequelas de “Avatar” (em 2021, 2023, 2025 e 2027) ao novo spin-off do universo “Star Wars” (com uma trilogia reservada para 2022, 2024 e 2026), passando por novas abordagens ao universo dos X-Men. Assim se dominará a época das festas, ano após ano, sem dar hipóteses à concorrência, e potenciando visitas aos parques temáticos espalhados pelo Mundo, que receberam mais de 150 milhões de pessoas em 2018.

Mas também é possível que Robert A. Iger, que aos 68 anos continua a gostar de ser tratado por Bob, possa ter horizontes completamente diferentes na próxima década. Depois de ter deixado de ser conselheiro de Donald Trump em junho de 2017, devido à retirada dos EUA do Acordo do Clima de Paris, vem sendo apontado como o tipo de gestor de grande empresa que pode vir a ter ambições políticas. Mais precisamente como o tipo de candidato presidencial democrata business friendly que começa a ser raro. E que se ajeita com um sabre laser, ainda por cima.

Artigo publicado na edição nº1988, de 10 de maio do Jornal Económico

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