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Ronaldo: o golpe do século e os milhões a caminho de Itália

Pode um jogador de futebol mexer com toda a economia de um país? Itália perdeu protagonismo no futebol mundial, mas a chegada de Ronaldo pode ser o ‘rastilho’ que a Serie A precisava.
28 Julho 2018, 20h30

“É o golpe do século no futebol mundial”. A frase de um dos mais conceituados treinadores de futebol de todos os tempos, Fabio Capello, constata que a contratação de Cristiano Ronaldo pela Juventus está longe de enquadrar-se apenas no domínio desportivo e que “o investimento terá retornos económicos para a Juventus” já que o português “é uma máquina de fazer dinheiro, para ele e para o clube”. Com 112 milhões de euros, a heptacampeã italiana (mais conhecida como a ‘velha senhora’) pode ter garantido um autêntico ‘jackpot’, não só para si própria mas também para todo o futebol italiano, ávido de reassumir o papel de destaque perdido algures dos anos 90. Pode um jogador mexer com toda a economia de um país? Para Bruno Janeiro, analista da Activotrade, em entrevista ao Jornal Económico, esta contratação e este investimento por parte da Juventus “insere-se sobretudo numa lógica financeira”: “Estamos a falar só da visibilidade que o Cristiano vai dar à Juventus e à Serie A (principal liga italiana), ou melhor, estamos a falar de tudo o que vem por acréscimo como as digressões que, se calhar, vão passar a ser feitas a outros continentes, como o asiático, de resto como é prática em clubes como o Real Madrid e o Manchester United, devido ao facto de terem jogadores reconhecidos a nível mundial”.

Abrir a ‘janela’ dos milhões de euros

Em junho de 2018, os direitos televisivos da Serie A foram vendidos à Sky e ao grupo de ‘media’ Perform por mais de 973 milhões de euros por temporada e até 2021. Para o período de 2019 a 2022, os direitos da Premier League valem o dobro desse montante pelo que, com o melhor jogador do mundo, os direitos televisivos da Serie A poderão vir a sofrer uma valorização significativa. De resto, é preciso não esquecer o contexto em que esta contratação se insere: “a seleção italiana ficou fora do Mundial 2018, algo que não acontecia há 60 anos, e o próprio futebol italiano tem estado um pouco desaparecido dos holofotes mediáticos, sobretudo quando comparado com outros campeonatos que têm o domínio do futebol europeu. Se nos lembrarmos do que era a Serie A há duas décadas quando clubes como o AC Milan e o Inter de Milão dominavam o futebol em Itália e eram grandes emblemas europeus, é notório que o único emblema que vai mantendo o futebol italiano nas últimas fases das provas europeias, em virtude do domínio que apresenta, apesar de alguma aproximação de emblemas como o Nápoles”, realça o analista da Activotrade.

Cristiano Ronaldo chega assim a uma Serie A que “gera pouco interesse”, destaca Bruno Janeiro, pelo que este investimento tem outros fins que não apenas o desportivo: “Não vejo a contratação do Ronaldo como algo comum quando se faz este tipo de investimento: que um jogador chegue a um clube para que dê o máximo em termos desportivos. O que se passa aqui, e creio que foi o que mais pesou, é aquilo que Cristiano pode dar em termos de visibilidade e no aspeto financeiro, não só para a Juventus mas para impulsionar todo o futebol italiano”. Para este analista, “todos os outros clubes vão beneficiar com isto”, uma vez que “vai haver um maior interesse em acompanhar aquilo que Ronaldo vai fazendo ao longo da temporada, isso implica um incremento dos espetadores que vão assistir aos jogos da Juventus, seja em Turim ou fora de casa, sobretudo nas partidas mais equilibradas”. E os resultados, a curto médio prazo, são inevitáveis, no entender de Bruno Janeiro: “vai ser inevitável que os direitos televisivos da Serie A sofram um incremento nos próximos anos, os patrocinadores vão necessariamente pagar mais para estar presentes na Serie A. A Juventus é diretamente afetada por tudo isto mas acredito que numa lógica financeira e de marketing, todos os clubes vão beneficiar desta maior visibilidade do futebol italiano. É uma jogada de mestre”.

O que ganha a família Agnelli?

A Exor é o maior grupo industrial e comercial privado de Itália e uma SGPS detida a 100% pela família Agnelli. Este grupo detém 64% da Juventus, 29% da FIAT, 23% da Ferrari, entre outras empresas com menos relevância em Itália. Desta forma, e apesar de estar completamente de parte a hipótese de uma intervenção direta por parte da Exor na contratação de Cristiano Ronaldo, a não ser através da recapitalização de perdas com um aumento de capital (tendo em conta a proibição decretada pelas regras atuais do Fair Play Financeiro no futebol), em Itália já se discute a possibilidade de estender este investimento a outros setores de atividade, nomeadamente de uma abordagem mais efetiva do construtor automóvel Fiat a mercados de enorme potencial como o asiático.

Para a Juventus, e de acordo com a análise de Bruno Janeiro, “a vinda de Ronaldo para Itália poderá impulsionar as vendas de 19 milhões de produtos físicos e de serviços com a marca Juve ao ano (números apenas ao alcance de clubes como o Manchester United e o Real Madrid)”. E ao nível dos direitos de imagem, merchandising, digressões pagas ao estrangeiro, nomeadamente à Ásia? A Juventus “pode perspetivar receitas que podem equivaler a uma verba entre os 400 a 500 milhões de euros”, conclui o analista da Activotrade.

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