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Rui Pinto denunciou “práticas criminosas”, defendem advogados

Em comunicado, os advogados William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota dizem que Rui Pinto, de 30 anos, é um amante de futebol “indignado com práticas vigentes neste desporto” e que “decidiu contribuir para o conhecimento público da extensão dessas práticas criminosas”.
17 Janeiro 2019, 17h08

Os advogados de Rui Pinto, o alegado ‘hacker’ que terá acedido ilegalmente a e-mails do Benfica, defenderam hoje a sua conduta, por denunciar “práticas criminosas”, e vão opor-se à sua extradição da Hungria, onde foi detido.

Em comunicado, os advogados William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota dizem que Rui Pinto, de 30 anos, é um amante de futebol “indignado com práticas vigentes neste desporto” e que “decidiu contribuir para o conhecimento público da extensão dessas práticas criminosas”.

“O Sr. Rui Pedro Gonçalves Pinto tornou-se num importante denunciante europeu no âmbito dos chamados ‘Football Leaks’, relembrando-se que muitas revelações feitas ao abrigo destas partilhas de informação estiveram na origem da publicação, durante vários anos, de notícias que deram lugar à abertura de muitas investigações em França e noutros países europeus”, acrescenta o comunicado.

Os causídicos alegam que, ao longo deste processo, Rui Pinto “foi seriamente ameaçado, sendo o seu silêncio o objetivo de muitos intervenientes no mundo do futebol”.

Na sua opinião, “as autoridades portuguesas (…) ter-se-ão precipitado na detenção do seu cliente”, influenciadas pelas alegações do fundo de investimento Doyen Sports, que apresentou uma queixa-crime em Portugal contra Rui Pinto.

Os advogados manifestam “estranheza” relativamente à rapidez com que o mandado de detenção foi executado e, “juntamente com os seus colegas em Budapeste, opor-se-ão ao pedido de extradição”.

“Não pode deixar de se notar, em particular, o incrível paradoxo que resulta da tentativa de criminalização do seu cliente, quando, na verdade, o seu gesto cívico e as suas revelações permitiram a numerosas autoridades judiciais europeias um avanço histórico no conhecimento das práticas criminosas no mundo do futebol”, sublinham.

Os advogados dizem ainda que o seu cliente cumpre os critérios de proteção dos lançadores de alertas [whistleblowers], resultantes das últimas disposições da legislação europeia e de muitos países europeus.

“Ao contrário do que pretendem aqueles que têm vindo a perseguir o Sr. Rui Pedro Gonçalves Pinto, a importância da indústria do futebol não deve ser utilizada para manter na opacidade as práticas gravemente contrárias à lei que no mundo deste desporto se verificam”, completam.

Na quarta-feira, sem nunca confirmar o nome do suspeito, a Polícia Judiciária (PJ) anunciou a detenção de um cidadão português em Budapeste, em cooperação com a congénere húngara, mas fonte policial confirmou à Lusa tratar-se de Rui Pinto.

O diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica (UNC3T) da PJ, Carlos Cabreiro, disse ser “prematuro” associar o suspeito a crimes cometidos contra algumas instituições desportivas, como Benfica, FC Porto, Sporting ou Doyen, embora tenha adiantado que o mesmo “é detido por tentativa de extorsão, acesso ilegítimo e exfiltração de dados de algumas instituições, inclusive do próprio Estado”.

“Agora, seguir-se-ão os trâmites normais de transferência de detidos quando ocorrem no âmbito de um mandado de detenção. A extradição para Portugal acontecerá dentro de um prazo razoável, entre três semanas a um mês”, transmitiu o diretor da UNC3T.

De acordo com Carlos Cabreiro, o ‘hacker’ pode incorrer numa pena de prisão “até 10 anos”, embora “haja várias penas associadas aos vários tipos de crime”.

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