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‘Same again, please’: Fed deverá fazer novo corte de 25 pontos base na taxa de juro

Os analistas prevêem que o banco central norte-americano anuncie um novo corte na taxa diretora para 1,75%-2%. Depois disso é difícil dizer para onde irá a política monetária. Mas uma coisa é certa, Trump vai achar que o corte é curto.
18 Setembro 2019, 07h43

“Seria um choque se não reduzisse as taxas de juro de novo”, afirma Hann-Ju Ho, economista chefe do Lloyds Bank, sobre o resultado que se espera da reunião de dois dias da Reserva Federal (Fed) norte-americana, que termina esta quarta-feira.

A visão do banco britânico é partilhada pela maioria dos analistas e pelos mercados: o Federal Open Market Committee (FOMC) deverá anunciar um novo corte de 25 pontos base na federal funds rate para um intervalo de 1,75% a 2%. Segundo dados da agência Reuters, os operadores de mercado davam esta terça-feira uma probabilidade de 61% a um corte de um quarto de porcento.

James Knightley, economista-chefe internacional do banco de investimento ING, diz que a Fed vai manter a lógica de julho, quando anunciou um corte na taxa de juro, o primeiro em mais de uma década.

“[O corte] será justificado como um seguro para mitigar os ventos desfavoráveis que vêm do comércio e da economia global” explica. Alerta, no entanto, que o recente aumento das pressões inflacionárias na economia norte-americana e a robustez do setor do consumo (ao contrário da manufactura) deverão significar que quem espera uma mensagem mais dovish irá ficar desapontados.

Apesar do consenso sobre o corte nas taxas, várias nuances rodeiam a reunião do banco central liderado por Jerome Powell.

“Embora o crescimento doméstico pareça robusto, os riscos internacionais estão a aumentar – incluindo o agravamento das tensões comerciais EUA-China e o risco crescente de um hard Brexit”, sublinha Franck Dixmier, global head of fixed income, da Allianz Global Investors. “Nesta luta de poder entre crescimento doméstico robusto e aumento de riscos internacionais, não esperamos que a Fed assuma riscos”.

Hann-Ju Ho, do Lloyds, salienta no entanto, que “na última semana vimos alguns sinais de diminuição das tensões [EUA-China], com algumas notícias a indicarem que Donald Trump poderá considerar um acordo comercial interino e desmantelar alguns dos aumentos nas tarifas”.

Comité dividido e Trump a pressionar

Este sinais mistos da economia e da guerra comercial estão a causar divisões no seio do FOMC sobre o rumo das taxas de juro. James Knightley, do ING, recorda que Esther George e Eric Rosengren estiveram contra o corte das taxas em julho, posição que poderão repetir dados os acontecimentos desde essa altura e até podem vir a recolher o apoio de mais um ou dois membros.  Do outro lado do espectro, James Bullard e Neel Kashari vão provavelmente sugerir um corte de 50 pontos base, nem que seja para garantirem um corte de pelo menos 25 pontos.

Esta fragmentação do comité significa, segundo o Lloyds Bank, que o rumo das taxas não é claro e que a Fed irá provavelmente manter a porta aberta para uma política monetária mais acomodatícia com mais um corte até ao final do ano.

“Há também o risco do dot plot [o gráfico que ilustra as previsões dos membro do comité para a taxa diretora] não prever mais um aumento este ano”, refere Hann-Ju Ho. “Como é que iria o Presidente Trump responder a isso no Twitter?”

O presidente norte-americano tem aumentado a pressão para Powell cortar as taxas de juro, usando até o corte de 10 pontos base na taxa de depósito do Banco Central Europeu na semana passada como exemplo.

“Um corte de 25 pontos base não irá ser suficiente para agradar a Donald Trump, que acredita que enquanto as autoridades chinesas estão a fazer tudo para estimular o crescimento durante a guerra comercial, a Fed não está a dar o apoio que Trump precisa”, frisa James Knightley do ING.

“Apesar do ruído e da excitação que essas críticas criam, não deverão influenciar a posição da Fed, porque se o banco central ceder às exigências de Trump ele ficará incentivado a anunciar medidas comerciais ainda mais agressivas e que acabarão por criar mais riscos negativos para a economia através de disrupções na cadeia de fornecimento, mais custos e incerteza para as empresas”, vincou.

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