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Santander “detém uma almofada de liquidez de 11 mil milhões”

O Banco Santander Portugal revela ao Jornal Económico, que não tem exposição a dívida italiana e tem solidez de balanço e de capital que permite acomodar os impactos adversos desta crise. A instituição liderada por Pedro Castro e Almeida diz que tem “assistido a uma crescente utilização das plataformas digitais”.
  • Cristina Bernardo
3 Abril 2020, 14h18

O Jornal Económico questionou os bancos sobre o impacto que sofrerão com o lockdown económico decretado pelo Estado como medida de contingência para travar a propagação da pandemia com o novo coronavírus. O Banco Santander Portugal disponibilizou rapidamente os canais digitais para o formulário da moratória do crédito. São mil milhões de euros em capital que vão ficar suspensos, segundo o banco liderado por Pedro Castro e Almeida.

O banco admite a crescente utilização das plataformas digitais e diz que 2020 será um ano extremamente desafiante. O Santander Totta considera no entanto que a solidez de balanço e de capital permite acomodar os impactos adversos da situação, e que o banco tem a capacidade de beneficiar da fase de recuperação que se seguirá ao surto pandémico.

Nas respostas à questões do JE, o Santander revela que o banco detém uma almofada de liquidez de 11 mil milhões de euros, da qual uma parte é dívida portuguesa e que em Portugal não tem qualquer exposição à dívida italiana.

Já há uma estimativa do número de pedidos e do montante que vai estar suspenso até 30 de setembro de 2020? 

As medidas anunciadas pelo banco no apoio às famílias e empresas portuguesas já estão disponíveis para os nossos clientes. Tendo em conta o contexto de emergência, o Santander disponibilizou rapidamente nos canais digitais o formulário da moratória, no sentido de facilitar o acesso, por parte dos clientes, a esta medida. A moratória do Banco permite que as famílias Portuguesas não amortizem neste período quase mil milhões de euros de capital.

A situação de isolamento social e eventual decretação do estado de emergência pode por outro lado fazer disparar os clientes bancários online. Já há números que confirmem essa tese? Quanto esperam que cresça o número de clientes e o número de transações online?

Como esperado, temos assistido a uma crescente utilização das nossas plataformas digitais.

A moratória pública prevê a capitalização dos juros suspensos? O Decreto-Lei dá a opção de um cliente pedir ao banco apenas a suspensão do pagamento do capital do empréstimo, mantendo, durante os seis meses, o pagamento de juros para evitar a capitalização?

A Solução de Moratória Santander para particulares consiste numa carência de capital durante um período de 6 meses, sendo que o cliente pagará apenas juros durante esse período. Esta Solução inclui as tipologias de crédito à habitação não abrangidas pela Moratória do Estado (incluindo o crédito à habitação própria secundária ou para arrendamento e outro crédito hipotecário) e o crédito pessoal, com um processo de adesão simplificado. As prestações de capital que não forem pagas agora serão pagas nos 6 meses seguintes ao fim do prazo atual dos empréstimos, que aumentam por igual período, para não sobrecarregar o valor das restantes prestações.

Na moratória do Estado para particulares, o capital relativo ao período de carência, assim como os juros relativos a este período (que serão capitalizados), serão amortizados posteriormente numa extensão de 6 meses ao período atual do contrato de crédito.

Na moratória do Estado para empresas, a solução que o Santander apresenta permite às empresas optar por duas alternativas: suspensão de reembolsos de capital nos empréstimos, ou suspensão de reembolsos de capital e juros, com capitalização destes no valor do financiamento com referência ao momento em que são devidos à taxa do contrato em vigor.

Os bancos vão ter mais tempo para reduzir os rácios de NPL? A meta dos 5% foi adiada ou vai ser?

Os bancos dispõem de margem para que as moratórias de crédito não se traduzam na consideração desses empréstimos como NPL e, consequentemente, os bancos tenham de mudar o seu foco de apoio à economia, às famílias e às empresas. No caso do Santander, já cumpríamos a meta dos 5%, pelo que a primeira decisão é a mais relevante, para podermos avançar com as moratórias.

A suspensão temporária das prestações dos créditos a empresas e particulares afectados pelo Covid que impacto terá nos indicadores dos bancos? Há um custo estimado?

Não há ainda estimativas, pois dependerá dos clientes que acedam às mesmas. No caso da moratória do Santander, extensiva a todos os clientes particulares, estes continuarão a pagar os juros, havendo uma moratória de capital. Neste sentido, o impacto em resultado é nulo.

As piores perspetivas económicas podem degradar a qualidade dos ativos dos bancos e aumentar as imparidades. O malparado pode aumentar? A banca está já a fazer estimativas nesse sentido?

A decisão do BCE e da EBA, em permitir que os créditos a quem tenha sido concedida uma moratória não sejam computados como NPL (na componente de default subjectivo, ou unlikely to pay) evita um aumento do crédito em incumprimento. O impacto apenas pode ser avaliado em função da duração dos efeitos económicos da pandemia, pois se se assumir que a recuperação ocorrerá num futuro próximo, os clientes (ou a sua esmagadora maioria) terão condições de continuar a cumprir.

Quanto é que os bancos estimam perder em termos de negócio com o lockdown económico?

A avaliação dependerá da duração do choque. Há fatores mitigantes, como sejam as moratórias e as linhas de crédito para liquidez, que podem contribuir para a manutenção dos volumes de crédito.

Até que ponto a atual circunstância põe os planos estratégicos dos bancos em stand-by? 2020 é um ano perdido em termos de recuperação da rentabilidade e da limpeza do balanço?

Não se podendo fazer avaliações de momento, 2020 será um ano extremamente desafiante. No caso do Santander, consideramos que a solidez de balanço e de capital permite acomodar os impactos adversos da situação, e que o banco tem a capacidade de beneficiar da fase de recuperação que se seguirá ao surto pandémico.

A venda de carteiras de crédito malparado vai ter de ser adiada?

O Santander já cumpre as metas em termos de NPLs, pelo que as vendas de carteira eram casuísticas.

O BCE recomenda a suspensão dos dividendos pelo menos até outubro de 2020. Vai acatar esta recomendação?

Esta situação será analisada na assembleia geral de maio. Mas existe uma forte probabilidade de não pagarmos dividendos.

Com as medidas de apoio à economia a agravar a dívida pública e o défice não teme que haja um downgrade do rating da dívida pública dos países mais endividados e com isso os juros subirem? Qual é a exposição do banco a estes títulos? Sobretudo dívida italiana…

A decisão das agências deverá depender, como tudo o demais, da duração do impacto. O banco detém uma almofada de liquidez em redor de 11 mil milhões de euros, da qual uma parte é dívida portuguesa. O Santander em Portugal não tem qualquer exposição à dívida italiana.

 

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