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Segundo e último debate presidencial norte-americano mais sereno apesar de acusações cruzadas de corrupção

Regras definidas pela organização e intervenção da moderadora permitiram uma troca de argumentos mais próxima dos debates tradicionais. Trump acusou Biden de querer acabar com a indústria petrolífera, enquanto o candidato democrata realçou o número de mortes provocadas pela Covid-19. Mas o conteúdo do portátil de Hunter Biden, filho do antigo vice-presidente, também ganhou protagonismo.
  • Segundo e último debate Donald Trump. e Joe Biden
23 Outubro 2020, 05h13

Donald Trump e Joe Biden protagonizaram na noite de quinta-feira (madrugada de sexta-feira em Portugal) um debate presidencial bem mais sereno do que o primeiro, apesar de o atual presidente e o antigo vice-presidente terem trocado acusações de corrupção entre si. As regras definidas pela organização, destinadas a que não se repetisse o caos do primeiro debate, e a moderação da jornalista Kristen Welker, permitiram perceber melhor as ideias de cada um dos candidatos, algumas das quais com possíveis consequências nos resultados eleitorais, como quando Biden deixou claro que a extração de petróleo não pode passar incólume às preocupações ambientais. “Ele disse que vai destruir a indústria petrolífera”, realçou Trump, dirigindo-se aos eleitores do Texas e do Oklahoma, mas também da Pensilvânia, um dos estados indecisos em que derrotou Hillary Clinton em 2016 mas surge agora atrás nas sondagens.

O debate arrancou com a resposta à Covid-19, tema difícil para o ocupante da Casa Branca, com Joe Biden a recordar os 228 mil norte-americanos que sucumbiram à pandemia e a acusar o presidente de “não ter nenhum plano”. Por seu lado, Trump respondeu que a taxa de mortalidade está a diminuir e anunciou que “uma vacina será anunciada dentro de semanas”. Mesmo sem falarem ao mesmo tempo, os dois candidatos não pouparam ataques, com o candidato democrata a referir-se ao presidente dos Estados Unidos como “o mesmo fulano que disse que isto estaria resolvido na Páscoa”, enquanto Trump colocou ênfase na necessidade de manter a economia do país a funcionar, “pois nem todos nos podemos trancar na cave como o Joe faz”.

Foi então que começaram as acusações aguardadas por todos, na sequência das revelações sobre os mails encontrados no disco rígido do portátil de Hunter Biden – o segundo filho de Joe Biden, cujo passado de toxicodependência e ligações a interesses estrangeiras já tinham sido abordados no primeiro debate -, pois Trump disse que o rival democrata pode dar-se ao luxo de ficar em casa “porque ganhou muito dinheiro”, referindo mais tarde que a campanha de Biden “recebe muito dinheiro de Wall Street”.

O tom adensou-se no segmento seguinte do debate, dedicado à segurança nacional. “A tua família recebeu 3,5 milhões de dólares de Putin e um dia vais ter que explicar a razão”, disse Trump a Biden, antes de citar um alegado mail retirado do portátil de Hunter Biden em que se faz referência a 10% que têm de ser entregues “ao grande homem”. O candidato democrata disse que “nunca recebeu um cêntimo de nenhum país estrangeiro”, dizendo que “este tipo tentou subornar o governo ucraniano para dizer coisas más acerca de mim” e virando a atenção para os negócios do atual presidente com a China e a reticência de Trump em revelar as suas declarações de impostos. Algo que o levou a repetir várias vezes que pagou “milhões e milhões de dólares em impostos” antecipadamente.

Pouco se falou de política internacional durante o segundo e último debate presidencial, centrando-se sobretudo essa parte da discussão na relação com a China e com a Coreia do Norte. A esse propósito, Donald Trump gabou-se de ter travado a ameaça de uma guerra nuclear que provocaria milhões de mortes na península coreana – apostando noutra ideia-forte recorrente, a de que o rival esteve oito anos no poder, “e não há assim tanto tempo”, mas nada fez -, sendo acusado por Biden de “legitimar” o regime e o ditador norte-coreano Kim Jong-un.

Joe Biden marcou pontos no segmento sobre cuidados de saúde, acusando o presidente norte-americano de ter planos para deixar 20 milhões de norte-americanos sem seguro e defendendo-se das acusações de ter um “plano socialista” que acabaria por eliminar os seguros de saúde privados detidos por 180 milhões. “A minha diferença é que vejo os cuidados de saúde como um direito e não como um privilégio”, disse o democrata, que reagiu às palavras de Trump sobre as intenções da candidata a vice-presidente Kamala Harris e ao derrotado nas primárias Bernie Sanders: “Ele está a concorrer com Joe Biden. Eu derrotei essas pessoas todas.”

Seguiram-se temas como o salário mínimo de 15 dólares horários defendido por Joe Biden, que Donald Trump considera poder levar ao encerramento de pequenas e médias empresas que já se encontram em dificuldades devido à pandemia, a imigração – com o democrata a recordar as centenas de crianças que foram separadas dos pais e não voltaram a encontrá-los e o republicano a salientar que as jaulas em que chegaram a ser colocadas foram instaladas durante a administração de Barack Obama, do qual o agora rival eleitoral era vice-presidente – e o racismo. Nesse ponto, Trump voltou a lembrar a legislação criminal que Biden elaborou quando era senador, na qual se referia a homens negros como “superpredadores”, assumindo-se como “a pessoa menos racista da sala” e o “presidente que fez mais pelos negros, com a possível exceção de Abraham Lincoln [que aboliu a escravatura nos Estados Unidos]”. Nada que convencesse Joe Biden, que lhe chamou “um dos presidentes mais racistas”, pois “está sempre disposto para atirar gasolina para o fogo”.

Antes do final de um debate que encerrou com Biden a reforçar que a eleição disputada a 3 de novembro é uma escolha entre o carácter dos dois candidatos e a apelar aos eleitores para “escolherem a ciência em vez da ficção e a esperança em vez do medo”, e Trump a profetizar que “o sucesso irá juntar-nos” e a apelar a todos para fazerem “um país bem-sucedido, como era antes da praga vinda da China”, os dois candidatos mostraram grandes divergências sobre as alterações climáticas. O atual presidente disse que o plano do rival democrata “é o mais maluco que algum dia se viu”, apontando-lhe um custo de 100 biliões de dólares, e garantindo que “não irá sacrificar milhões de empregos por causa do Acordo de Paris”, ao qual Biden, que chegou a olhar para o relógio para ver quanto tempo faltava, garantiu que os Estados Unidos voltarão a aderir caso se torne o próximo presidente.

 

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