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Reino Unido: “Sem maioria absoluta, May pode ser forçada a repetir eleições a curto prazo”

Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), em entrevista ao Jornal Económico, aponta as fragilidades de Theresa May num cenário em que os Tories não alcancem maioria absoluta, nas eleições de quinta-feira, dia 8.
  • Toby Melville/Reuters
7 Junho 2017, 15h35

O que podemos esperar das eleições desta quinta-feira?

Uma maioria absoluta do Partido Conservador, se as sondagens inglesas já acertaram o passo com os eleitores britânicos, como aconteceu em França nas últimas eleições presidenciais. Há um ano, no referendum sobre o Brexit, todas as dez sondagens nacionais estavam erradas.

A primeira-ministra, Theresa May, arriscou uma jogada com o objectivo de legitimar o poder para umas negociações mais duras no Brexit. Qual o cenário se os Tories não conseguirem alcançar uma maioria absoluta?

Sem maioria absoluta, com um Governo conservador minoritário ou com uma coligação maioritária com os partidos regionalistas, a Primeira Ministra Theresa May não só não tem um mandato claro para assumir uma linha nacionalista mais dura, incluindo a ameaça de ruptura nas negociações com Bruxelas, como fica numa posição interna mais vulnerável e pode ser forçada a repetir eleições a curto prazo e num momento mais complicado no processo de saída da União Europeia.
Os principais partidos têm sofrido uma alteração das identidades tradicionais? Ao que se pode atribuir estas alterações?

A Grande Depressão e a crise europeia provocaram uma erosão brutal do centro na politica democrática em todos os países, que se exprime, por um lado, pela volatilidade crescente nos comportamentos eleitorais e, por outro lado, em variações identitárias mesmo nos partidos tradicionais. O Partido Conservador deixou de ser um partido britânico, europeísta e liberal e passou a ser um partido nacionalista inglês anti-europeu e anti-emigração, com uma agenda social desenhada para receber o voto dos trabalhadores britânicos prejudicados pela dinâmica da globalização e da modernização tecnológica. O Partido Trabalhista deixou de ser um partido social-democrata, europeísta e reformador e passou a ser uma coligação de correntes heterogéneas onde a esquerda radical, pacifista, anti-ocidental e anti-globalização ocupa uma posição de controle e procura captar um voto popular anti-sistema.

O Partido Trabalhista tem subido nas sondagens. Como se explica esta ‘ressurreição’ de Jeremy Corbyn?

A ascensão de Jeremy Corbyn parece ser um fenómeno comparável ao de Bernie Sanders no Partido Democrático, no sentido em que a rejeição eleitoral das elites moderadas tem como consequência lógica a procura de populistas excêntricos, neste caso relíquias dos anos sessenta, que têm como uma principal qualidade não terem tido responsabilidades politicas e de governo na crise. Pelo contrário, Theresa May está no Governo conservador desde 2010 e ter um curriculum governativo passou a ser uma vulnerabilidade nas eleições democráticas.

Qual o impacto que as eleições poderão ter para o Brexit?

Se o Partido Conservador ganhar, não é possível excluir um cenário de ruptura entre o Reino Unido e a União Europeia, se o Partido Trabalhista ganhar, não é possível excluir um cenário de ruptura entre o Reino Unido e Aliança Atlântica. Esses riscos existem, não obstante o que resta das elites dos dois principais partidos terem podido evitar uma ressurgência nacionalista em toda a linha na definição das posições programáticas oficiais  dos Tories e do Labour, que continuam formalmente vinculados à defesa dos princípios da ordem liberal internacional.

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