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“Será politicamente difícil para Trump manter Yellen na Fed”

Em entrevista ao Jornal Económico, o ex-economista-chefe do FMI diz acreditar que o próximo líder do banco central está escolhido e é republicano. Até essa altura, a Fed deverá evitar movimentos bruscos.
5 Julho 2017, 07h50

“Seria uma jogada inteligente, mas não é esse tipo de inteligência na qual Donald Trump se especializa”. A jogada seria o presidente norte-americano oferecer um segundo mandato a Janet Yellen na liderança da Reserva Federal, segundo diz Simon Johnson, antigo economista-chefe do FMI e atualmente professor no Massachusetts Institute of Technology.

O mandato de Yellen termina em fevereiro do próximo ano e até há pouco tempo era dado como garantido que Trump iria nomear um substituto republicano para a presidência do banco central dos EUA. Essa tese refletia as críticas do presidente ao papel de Yellen durante a campanha presidencial, nomeadamente que a Fed tinha mantido as taxas de juro inalteradas para apoiar Hillary Clinton, candidata dos democratas, o partido de Yellen. No entanto, Trump surpreendeu em abril ao responder a uma pergunta sobre a possibilidade de uma renovação do mandato: “Não está acabada (she’s not toast)”, disse o magnata.

Para Johnson, apesar do historial tenso “do ponto de vista de Trump, Yellen até seria uma boa escolha e temos uma tradição de presidentes democratas terem nomeado republicanos para a Fed”.

O economista explica, no entanto, que a continuidade de Yellen é improvável devido à conjuntura política. “Com Trump nunca se sabe, mas seria difícil para a sua base política e seria complicado para os republicanos na Casa dos Representantes, que são muito poderosos nesta altura, se ele mantivesse Yellen devido à forma dado a forma como eles olham para o mundo”.

Johnson acredita que o sucessor de Yellen poderá ser Gary Cohn, diretor do National Economic Council desde dezembro e que lidera a tarefa de encontrar um novo presidente para o banco central. “Acho que ele está na fila da frente para se tornar no novo chairman da Fed, mas essa é uma opinião pessoal”.

Cohn, que trabalhou no banco de investimento Goldman Sachs durante 25 anos tendo chegado ao cargo de Chief Operating Officer, é um defensor da desregulamentação e da reforma fiscal, que diz serem essenciais para estimular o crescimento económico. É um dos membros mais influentes na equipa de Trump, algo que ficou compravado esta quinta-feira, quando foi escolhido para revelar que a tão esperada reforma dos impostos vai avançar em setembro, independentemente da aprovação da reforma do Obamacare.

Sem agitar as águas

A substituição de Yellen deverá afetar as decisões da Fed, nomeadamente sobre eventuais novas subidas das taxas de juros, após dois aumentos já efetuados este ano. Num período de transição e de definição de legado, o professor do MIT lembra que “a Fed não gosta de agitar as águas”.

A administração Trump já dura há seis meses, mas existem ainda muitas incertezas sobre as políticas económicas e financeiras que irá seguir. Além da Fed, uma das mais importantes questões é a da desregulamentação, especialmente do setor financeiro. Durante a campanha, Trump prometeu um corte “massivo” na regulação, que considerava excessiva, incluindo o desmantelamento da lei Dodd-Frank, uma lei implementada na era de Obama para reduzir os riscos em Wall Street após a crise.

Johnson, que escreve regularmente sobre desregulamentação para os media americanos, não espera grandes mudanças na regulação através da legislação, dado que as reformas no sistema de saúde estão a atrasar os planos de Trump e que a principal prioridade reside na reforma dos impostos.

“No lado financeiro, é difícil passarem legislação que seria vista como uma ajuda aos grandes bancos e ajudar esse banco é muito impopular tanto para a direita como para a esquerda política. No entanto, claramente vão nomear para as posições na regulação uma série de pessoas que são contra regulação e a Dodd-Frank”, explicou. Johnson prevê que, dentro dos limites da lei, a administração vá reduzir os requisitos de capital, diminuir a supervisão bancária e alterar o modelo de resolução dos bancos que colapsam.

“A grande questão vai ser a proteção dos consumidores. É sobre esse assunto que os republicanos criticam o governo de ter excedido os poderes e os democratas sentem que estão a ganhar terreno porque os eleitores entendem muito melhor a proteção dos consumidores que outras dimensões da regulação financeira”.

Nem desastre nem milagre

Johnson faz uma avaliação mista do desempenho de Trump na condução da maior economia mundial no primeiro semestre do mandato. “Trump não foi um desastre para a economia mas também não provocou uma reviravolta rápida ou um milagre”, referiu, adiantando que “estamos todos à espera que as políticas fiquem mais claras”.
Em relação às ameaças sobre maior protecionismo no comércio internacional, explica que não se traduziram na prática ainda. “A mensagem que a administração tem passado sobre o comércio é menos perigosa que inicialmente. Era bastante assustadora, mas o que têm feito tem sido diferente”.

Ainda sobre o método de comunicação agressivo da administração e especialmente do presidente, Johnson considera que “o medo de Trump tem diminuido, talvez erradamente, porque ele habituou as pessoas a declarações e tweets, que há seis meses dariam grandes notícias e agora são vistos como desenvolvimentos diminutos ou a que já nem prestamos atenção”.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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