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“Sintra em passo de pensamento”

Gabriela Llansol deambula ao ritmo dos pensamentos pela cidade de Sintra. Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
  • Marta Teives
21 Dezembro 2019, 10h15

“Quando eu passo, as árvores ficam sempre – é uma constatação que eu faço, caminhando da Sintra comercial para a Sintra confusa e banal onde se eleva o Palácio. Sintra fraca e promíscua, penso muitas vezes. ‘Se não fossem as árvores’, não haveria arquitectura em Sintra, penso muitas vezes. Caminho, pois, na Volta do Duche, acompanhada pelo lado aéreo do olhar que vou lançando sobre as árvores, e por estar a querer fazer um texto sobre Marguerite Yourcenar – de quem deixei, em casa, um livro aberto.”

De ascendência catalã mas nascida no muito lisboeta bairro de Campo de Ourique, em 1931, Maria Gabriela Llansol Nunes da Cunha Rodrigues Joaquim estudou Direito – que nunca exerceu – e Ciências Pedagógicas. Em 1965, exilou-se com o marido na Bélgica, primeiro na Lovaina e mais tarde em Herbais, pequena vila no campo do Brabante Valão, onde encontrou o tão desejado isolamento que lhe permitiu dedicar-se à escrita e à leitura – sobretudo, poetas e filósofos alemãos e pensadores rebeldes e solitários.

 

 

Regressando a Portugal em 1985, foi em Sintra que encontrou o lugar que melhor poderia substituir o sossego que deixava na Bélgica. O seu imenso espólio encontra-se hoje n’ “A Casa de Julho e Agosto”, na Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, inaugurada a dia 24 de Novembro de 2017, data do aniversário da escritora.

Depois do regresso da Bélgica e até à sua morte, em 2008, foram frequentes as suas visitas a Campo de Ourique, por vezes com o mero propósito de se sentar a ler e a escrever no Jardim da Parada, à sombra da grande ‘metrosideros excelsa’, comummente conhecida como árvore-de-fogo.

Possuindo uma geopoética própria e estilhaçando as fronteiras entre o que se designa por ficção, diário, poesia, ensaio ou memórias, a sua obra é inclassificável. Eduardo Lourenço afirmou que Llansol era “o próximo grande mito literário a seguir a Fernando Pessoa”, que, juntamente com Camões, Llansol considerava dois “espantosos viajantes do português-língua”. Ela viria a ser o terceiro vértice deste triângulo.

A escritora criava as paisagens que descrevia, a partir dos lugares onde vivera, habitadas pelas pessoas com quem se cruzava, fossem em carne e osso ou, por exemplo, num quadro de Balthus observado no antigo Museu Berardo.

“Sintra em passo de pensamento”, com prefácio de João Barrento (co-fundador do então chamado Grupo de Estudos Llansolianos da Universidade Nova de Lisboa, que daria origem ao Espaço Llansol), foi agora publicado pela Feitoria dos Livros, uma chancela da Colares Editora.

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