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“Há um défice de mão de obra qualificada no sector das TIC”, diz CEO da Ábaco

Em entrevista ao Jornal Económico, João Moreira revela que a revendedora de soluções SAP deverá terminar o ano com uma subida de até 28% na receitas em Portugal. No exterior o cenário é misto: um aumento do volume na Suiça, um ano difícil no Brasil devido às eleições e as dúvidas sobre o Brexit no Reino Unido.
18 Outubro 2018, 07h45

Surgiu no Porto em 2004, “no coração do setor produtivo português”, para ajudar as empresas a tornarem-se mais eficientes, mas João Moreira, CEO da Ábaco Consultores, revela que o software que vende potencia a “criação de novos modelos de negócio” para os seus clientes. Catorze anos depois e com cerca de 231 colaboradores, a Ábaco já expandiu para outros mercados. Começou a vender soluções SAP no Brasil, primeiro. Seguiu-se a entrada no Reino Unido, um mês antes do referendo que deu origem ao Brexit. Meses mais tarde, chegou à Suíça através de uma parceria local.

João Moreira abriu a porta da sede da revendedora portuguesa de soluções SAP para conversar com o Jornal Económico. Explicou o que é a SAP e como ajuda as empresas a crescer.

O ano passado foi o vosso melhor ano com as receitas a ascenderem aos 13 milhões de euros. Como foram os primeiros seis meses de 2018?

Foi de muito trabalho. Nós vamos terminar o ano com uma perspectiva de crescimento apenas na operação portuguesa entre os 21% e os 28%. Portanto é um crescimento acentuado e num mercado em que há muita concorrência. A maior dificuldade que temos hoje em dia é contratar consultores. Há um défice de mão de obra qualificada no sector das TIC. Para combater isso, no ano passado criámos o Àbaco Training Academy, que não é uma formação tradicional do software SAP; é uma formação de consultor. A iniciativa captou o interesse dos nossos clientes porque sentem muita dificuldade em contratar recursos com conhecimentos SAP dentro das suas organizações depois de implementarem o software. Paralelamente, lançámos outro programa, desenvolvido maioritariamente em Lisboa, que é o Career Start, , no qual os participantes se convertem em consultores SAP ao fim de três meses. Depois, dentro do SAP há várias áreas: recursos financeiros, produção, recursos humanos, por exemplo. Foram formas que encontramos para conseguir contratar.

Nós contratamos tipicamente cerca de 50% de cada turma. Já os nossos clientes estão a incorporar entre 20% a 30%.

A operação em Portugal tem corrido bem. E nos outros mercados?

No Brasil, tivemos um ano difícil por causa das eleições. Para nós é difícil entender esse mercado e esse é um problema que as empresas têm no mercado brasileiro. No Brasil, os investidores estão numa indefinição por causa do rumo político. Além disso, este ano a greve dos camionistas teve um grande impacto na economia brasileira porque o Brasil é um país sem linha férrea e, por isso, todo o transporte é feito de camião. Foi também uma mensagem que passou que o governo de Temer tem para resolver problemas. E isso para os investidores não reforça a confiança. Portanto, está toda a gente à espera do desfecho das próximas eleições para tomar as decisões de investimento.

Na Suíça a operação está a correr bem e esperamos aumentar face ao ano anterior. Em Inglaterra, trata-se de uma aposta diferente porque em 2016 e 2017 tivemos um grande projeto nas commodities que nos tirou um pouco o foco consolidar a nossa estrutura nesse mercado, o que acabámos por fazer só em 2018. Recrutámos quatro para o nosso quadro, algo que é difícil porque aparecem candidatos de diferentes origens e nós queríamos alguém que conhecesse bem a cultura local. Mas Inglaterra tem neste momento um ponto de interrogação: o Brexit. Mas estamos relativamente relaxados porque temos uma perspetiva de investimento a médio prazo e poderemos replicar a experiência brasileira no Reino Unido ao criarmos uma estrutura local. Aliás, nós hoje (a Àbaco) já temos um Brexit se pensarmos no Brasil: devido às barreiras aduaneiras e À carga fiscal no Brasil, nós não prestamos serviços para lá. Temos que estar presentes lá. Se isso acontecer em UK não será muito difícil daquilo que temos no Brasil.

A Ábaco é uma revendedora do licenciamento SAP. Pode explicar em que consiste este software?

O SAP é líder mundial em ERP, isto é, um enterprise resource planning. Genericamente, o SAP é um software de backoffice financeiro, contudo, é muito mais do que isso porque, na prática, reflete no programa todos os processos de uma empresa de forma a gerar informação de gestão. Por exemplo, as empresas têm elementos na área de produção que geram custos e receitas decorrentes do processo produtivo. O software SAP permite recolher dados sobre os custos e a receita gerada, fornecendo informação à gestão. Isto é, o software agrega dados e transforma-os em informação.

Por outras palavras, o SAP permite aumentar a produtividade de uma empresa e reduzir os seus custos operacionais?

Eu não me forcaria apenas nisso. O foco não está necessariamente na eficiência operacional. Eu acho que hoje é mais importante a possibilidade de criar novos modelos de negócio. Vou dar-lhe um exemplo prático. Havia uma empresa alemã que fabricava compressores para vender ar comprimido. Mas, com a implementação do SAP, a empresa a empresa passou a ter sensores dentro dos compressores, o que lhe permitiu saber quanto tempo estavam ligados, identificar os tipos de avarias que tinham perceber a frequência da manutenção dos equipamentos. Este tipo de informação, associada às vendas da empresa, permitiu-lhe mudar o modelo de negócio: deixou de vender compressores e passou a aluga-los.

Isto porque ter acesso a uma informação fidedigna permite à equipa de gestão das empresas descobrirem novas oportunidades de negócio…

Esse é um dos pontos chaves do SAP: a fiabilidade da informação. O software aumentou as fontes de informação e a capacidade de processamento. Além disso, melhorou significativamente a mobilidade do acesso à informação porque nós, com um telemóvel, temos acesso a essa informação. No telemóvel tenho acesso a uma série de métricas operacionais, por exemplo, visualizo as minhas vendas, sei quantas unidades produzi, quantas estou a vender, entre outras.

E qual é o modelo de negócio da Àbaco?

Nós somos um revendedor do licenciamento SAP, isto é, nós revendemos as licenças e, acima de tudo, fazemos os serviços de implementação do software, que é o nosso core. Além disso, fazemos a manutenção do software, que serve para garantir que os nossos clientes garantir têm todos os updates do programa. Por exemplo, no campo de alterações legais, é a própria SAP que tem a responsabilidade de fazer essa atualização ao sistema e nós depois temos a responsabilidade de a instalar no cliente. Em relação aos serviços de implementação, sempre que um cliente instala o SAP, tem uma curva de aprendizagem de utilização do software. Além disso, como no sistema estão refletidos os processos da organização, que também vai evoluindo e alterando os seus processos, há uma evolução e por isso temos que acompanhar os clientes.

O software SAP pode aplicar-se a vários setores. Em que setores é que a Ábaco se especializou?

Nós somos líderes em certos setores. No sector do têxtil, vestuário e calçado somos talvez a entidade com o maior número de implementações SAP em Portugal e o mesmo acontece no setor de engenharia e construção. No Brasil, destaque para o agronegócio, por causa do que é um forte exportador agrícola e ainda somos líderes no setor têxtil. Aliás, esse é daqueles setores em que nós estamos aptos a competir com qualquer entidade a nível internacional. Quando falo na indústria têxtil, não estou a falar da parte de retalho, estou a antes a referir-me à parte de produção. A Ábaco nasceu no Porto, em 2004, no coração do setor produtivo português, e sempre teve uma forte ligação à indústria, que é onde estão as nossas áreas de especialização. Portanto, têxtil, vestuário e calçado, engenharia e construção. Temos ainda clientes no setor alimentar, como o Super Bock Group, e outros que atual no setor automóvel. Em suma, tudo o que abarca a indústria de manufacturing, que aborda não só as indústrias já mencionadas como aquelas que têm uma forte componente de produção. Ou seja, quando têm uma forte componente de produção, nós temos muitos consultores porque ganhámos uma especialização forte nessa área.

A Àbaco não equaciona uma aposta nos serviços tecnológicos?

Nós temos desenvolvido um conjunto de produtos próprios que decorrem da experiência que temos. Um dos nossos clientes na Suíça, que opera na indústria química, tem uns tanques onde produtos químicos para tintas, que são tóxicos. Durante a limpeza de um dos tanques, um dos funcionários dessa empresa acabou por morrer. Nós desenvolvemos um produto, chamado “Cannary”, que liga os tanques ao ERP. Nos wearables que os funcionários dessa empresa utilizam, conseguem ter acesso à informação sobre os dados atmosféricos que estão presentes nos tanques, medindo a temperatura, o grau de dióxido de carbono. Além disso, os wearables permitem medir a frequência cardíaca. Depois, a informação é registada e gera alertas quando há alterações significativas, em função de determinados padrões pré-estabelecidos. Esta é uma solução que nós desenvolvemos e começámos agora ativamente a promovê-la tem Inglaterra e na Suíça.

Além disso, no contexto em que operamos, fomos a primeira empresa a fazer a migração em Portugal da nova ferramenta da SAP, que é o S/4Hana na América Latina. Uma das coisas que nos caracteriza é procurar estarmos sempre um passo à frente da inovação tecnológica. A cultura e a organização que nós temos permite-nos estar a operar a essa velocidade. A esse respeito, vamos participar na Web Summit com um stand onde as startups que se candidataram ao nosso concurso poderão fazer os seus pitches.

 

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