Há uma verdade insofismável: os países onde os níveis de desigualdade são mais baixos são precisamente aqueles em que o grau de complexidade económica é mais alto. As economias de alta complexidade são aquelas em que os factores económicos, educacionais e tecnológicos se interligam em relações de interdependência, gerando um círculo virtuoso de conhecimento complexo.

Porque razão existindo tanto dinheiro e educação de excelência em várias regiões dos Estados Unidos, nenhuma conseguiu transformar-se num pólo tão inovador como Silicon Valley? Por uma razão simples: porque Silicon Valley conseguiu um nível de integração altamente complexo entre grupos de pessoas e empresas. Isto é, criou um ecossistema de inovação único porque conseguiu pôr pessoas com ‘know-how’ muito diferente a trabalhar em equipa e em rede.

Um país pode investir muito em educação, I&D e inovação, mas se não houver mecanismos de transferência para a indústria e esta não for capaz de absorver esses conhecimentos e transformar tudo isso em riqueza material, então não será capaz de potenciar todo o investimento feito a montante. O investimento em educação e ciência são fundamentais mas não são, por si só, suficientes para gerar crescimento económico.

Esse é um dos principais problemas que afecta Portugal neste momento. Como é sabido, temos hoje a geração mais qualificada de sempre, mas os nossos sistemas educativo e científico não estão alinhados com a estrutura produtiva do país. Temos um tecido económico que não tem a complexidade suficiente para absorver o tipo e o nível de qualificações que o país gera, o que faz com que, muitas vezes, a mão-de-obra qualificada seja desvalorizada e remunerada ao nível da mão-de-obra indiferenciada.

O crescimento de uma economia deriva da informação gerada. O crescimento sustentável acontece quando uma sociedade acumula e processa informação e traduz isso em riqueza material. A economia deve ser vista como um armazenador e um processador de dados. A economia só cresce se a capacidade de processamento se ampliar, agregando pessoas qualificadas, empreendedoras e, mais importante, que confiam umas nas outras.

E esse é um problema muito grave em Portugal, porque nós temos um dos índices mais baixos de confiança interpessoal em toda a Europa. Isto é, não sabemos trabalhar em equipa e em rede. A realidade é que vivemos num país de minifúndio – e não é só na agricultura, é sobretudo nas mentalidades. E as mentalidades, como se sabe, não se mudam por decreto. É um processo de aculturação demorado.

Por outro lado, é preciso perceber que para o crescimento económico ser sustentável, não basta apenas que alguns “nichos” de pessoas ou empresas reforcem a sua competitividade. É fundamental que a média da sociedade atinja níveis mais exigentes de qualificações e competências, e haja um sector produtivo capaz de desenvolver produtos e serviços de alto valor acrescentado, que estejam integrados em cadeias de valor globais.

Sendo verdade que a iniciativa privada é fundamental para o desenvolvimento económico, é igualmente verdade que a economia de um país é algo demasiado importante para estar exclusivamente dependente da iniciativa privada. É por isso que o Estado deve ter um papel activo na definição estratégica da actividade económica e na sua alavancagem.

A criação de valor não se faz individualmente, faz-se colectivamente. É preciso “socializar” o crescimento. A massificação de uma cultura de inovação é um factor crítico para o sucesso de uma estratégia de competitividade e de crescimento assente na criação de valor.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.