Quem tem filhos e nunca, digamos, teve de ajustar a morada de residência para os poder ter na escola pública é uma sortuda e deve celebrar tamanha façanha. E não, não pode atirar pedras às outras mães e aos outros pais que têm de puxar pela criatividade para conseguir que os filhos possam beneficiar de uma educação mais esmerada.

Vamos deixar de parte os colégios, porque, infelizmente, nem todas as mães e pais conseguem ter os filhos nos primeiros 27 estabelecimentos classificados com melhores notas nos exames para o secundário – e quando temos três filhos, não há orçamento que consiga resistir ao esforço. O problema que temos é que as escolas públicas que aparecem nos melhores lugares do ranking são, também elas, colégios privados. Porquê? porque funcionam da mesma maneira que os colégios, com numerus clausus, e a entrada até é decidida da mesma forma de um lado e do outro, porque, no fim do dia, estamos a falar de dinheiro, porque os bairros onde moram as pessoas com rendimentos mais altos ou onde, em média, têm famílias com maior percurso escolar, são aqueles onde estão as escolas de referência. Suponho que não será coincidência.

Para o Ministério da Educação, todas as escolas são iguais e o sistema de ensino isto e aquilo, mas todos sabemos que há escolas e escolas. Há aquelas, mais especiais, onde andam filhos de professores que, vá-se lá saber porquê, moram na área de influência de determinado grupo escolar. E quando olhamos para o ranking e para os resultados, a coisa está mesmo muito longe de ser igualitária, e quando olhamos para a vivência das diferentes escolas, confirma-se a primeira ideia. E como toda a gente sabe que a ambição de qualquer mãe, pai, avó, avô, madrasta, padrasto, é proporcionar aos seus a melhor educação possível – e não propriamente tê-los a estudar mesmo à porta de casa – vemos que existe uma verdadeira segregação, uma escola de quem pode estar melhor no ranking, e outra, de quem não tem meios para lá chegar.

O que está, verdadeiramente, em causa é que as escolas não são iguais, que é como quem diz não oferecem, de forma igual, as mesmas oportunidades de sucesso. Deviam oferecer, mas não oferecem.

O que a nova lei faz é acabar com o desenrascanço da classe média para contornar a falta de dinheiro para ter casa no sítio certo, seja inscrevê-los com a morada dos avós que ainda subsistirem na cidade, seja encontrando tutores emprestados. Sempre sai mais em conta do que alugar nem que seja um T0 só para isso, no caso de Lisboa, perto da Filipa de Lencastre, da Secundária do Restelo ou da José Gomes Ferreira. Porque, com o alojamento local, isso tornou-se impossível.