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“Sou o mais antigo embaixador em Portugal”

O embaixador de San Marino para Portugal espera uma visita institucional de alto nível, antes de deixar o cargo.
  • San Marino, República de San Marino
13 Outubro 2018, 10h00

Como estão as relações entre San Marino e Portugal?

As relações são ótimas e remontam a 1912, quando a República de San Marino – em reconhecimento da então constituída República Portuguesa – nomeia, no Porto, o seu primeiro cônsul honorário, de nome Vasco Bensaúde. Agora, temos um embaixador não residente e dois cônsules honorários, um no Porto e outro em Lisboa.

San Marino tem uma economia e um sistema de welfare muito avançado, apesar da grave crise económica e bancária que nos tem afetado nos últimos oito anos. Os cidadãos não pagam os medicamentos e a saúde é totalmente gratuita, tal como a educação e o desporto. Isto só foi possível manter com uma série de políticas de contenção de custos, de introdução de novos impostos patrimoniais e de uma nova lei das reformas que será aprovada em breve e que aumentará a idade de reforma até aos 67 anos.

O turismo e a tradição milenária são, talvez, dois aspetos que unem os nossos países. Com as devidas proporções, claro: nós temos dois milhões de visitantes por ano, nada mal para um país de 33 mil habitantes.

O que espera do próximo ato festivo a 1 de outubro?

A eleição semestral de dois capitães-regentes repete-se, igual, desde 1243, quando foram eleitos pela primeira vez dois “consoles”, como na tradição da Roma republicana. São eleitos entre os 60 membros do parlamento (Consiglio Grande e Generale) e só podem ficar por um mandato de seis meses. Se desejarem, voltam a ser eleitos três anos depois, mas apenas os cidadãos originários de San Marino (quem nasceu em San Marino ou é filho direto de pais são-marinenses) são elegíveis. Eles são os presidentes do parlamento e também presidem formalmente às reuniões do conselho de ministros.

O sistema é muito antigo, porém manteve até agora uma certa tradição. Nos últimos 50 anos, várias reformas tiraram aos capitães-regentes muitos dos poderes que tinham antes. Agora são chefes de Estado com poderes muito reduzidos e muito formais, muito menos que aqueles que tem o Presidente da República Portuguesa.

O dia 1 de outubro – tal como o dia 1 de abril -, é o dia de tomada de posse dos novos capitães-regentes e é uma cerimónia lindíssima que toma conta das ruas do centro histórico da cidade e que aconselho a assistir uma vez, para sentir e ver diretamente a substanciação do poder democrático numa cerimónia diplomático-institucional e, ao mesmo tempo, popular.

Como descreve esta sua função e a experiência como embaixador de San Marino em Portugal?

Tive a oportunidade única de representar o meu país, desde 1996, como embaixador não residente em Portugal. De facto, sou o embaixador com maior antiguidade de serviço em Portugal. Em novembro fará 22 anos e vou organizar um evento comemorativo, em Lisboa.

Esta experiência tem sido muito interessante e também fácil, porque falo português. Sou licenciado em Língua e Literatura Portuguesa, pela Faculdade de Línguas de Veneza, com uma tese de licenciatura sobre a “Estética futurista na obra de Fernando Pessoa e o futurismo em Portugal”. Devo dizer, ainda, que Portugal foi um país que me fascinou desde o primeiro momento em que o visitei, em 1984.

Durante estes 22 anos de atividade, consegui importantes resultados, promovendo, sobretudo, um maior conhecimento de San Marino em Portugal, em termos globais, e também comerciais e turísticos. Assinámos acordos contra a dupla tributação fiscal e de cooperação bilateral no setor do turismo; apoiámos as candidaturas portuguesas em muitas organizações internacionais, entre as quais a de António Guterres para a ONU; e, durante o meu mandato, organizei vários eventos culturais, quer em Portugal – com a presença do nosso grupo nacional de besteiros e jogadores de bandeiras -, quer em San Marino – com a organização do Festival do Fado.

Ao nível institucional, o máximo atingido foi a presença dos capitães-regentes por ocasião da Expo 98, em Lisboa, e a visita oficial a Portugal do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, em 2013.

Antes do fim do meu mandato, que será provavelmente em 2019, espero conseguir organizar uma visita institucional – de alto nível – a San Marino.

Entrevista: André Rubim Rangel

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