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Sound Particles: “Investidores não querem saber se somos da Europa ou de Silicon Valley”

Nuno Fonseca, CEO da startup portuguesa que viu o software ser usado na produção da “Guerra dos Tronos” criou a empresa em Leiria, mas, neste momento, 60% dos clientes são da Califórnia.
22 Junho 2019, 13h00

Lisboa foi novamente palco da cimeira de investidores em capital de risco. Empreendedores, venture capitalists e mundo corporate juntaram-se entre os dias 6 e 7 de junho na Cordoaria Nacional para, informalmente, unir esforços e melhorar oportunidades de financiamentos. A Lisbon Investment Summit recebeu mais de 200 investidores, 750 startups, e 400 executivos de empresas de grandes dimensões, que se reuniram nos clássicos puffs no chão e entre mensagens de parede como “Aprende com os disruptores” e “Encontra o teu investidor de sonho”.

A Euronext aproveitou a ocasião para aliciar mais empresas tecnológicas a tornarem-se públicas. O grupo pan-europeu que gere a Bolsa de Lisboa considera que as empresas mais jovens devem optar por um IPO (Oferta Pública Inicial) se quiserem ganhar visibilidade e credibilidade, financiamento, diversificação da estrutura acionista, liquidez e evitar que os investidores se apoderem da empresa, preservando o controlo da mesma.

“O mercado de capitais é a Liga dos Campeões. Só pelo facto de uma empresa estar cotada aumenta significativamente a sua legitimidade e a forma como os clientes olham para ela”, defendeu Filipa Franco, head of listing da Euronext, acrescentando que há vários casos de empresas ainda em early stage que se juntaram a estas praças financeiras da Europa. Filipa Franco argumenta que, para que o IPO seja bem sucedido, é necessário construir uma base de confiança, de forma a fechar a operação a um bom preço.

Há essencialmente cinco ingredientes nessa receita: ter um modelo de negócio sólido; ter uma estrutura financeira sustentável; definir os termos da operação para assegurar a liquidez; garantir uma avaliação justa, com base nas condições de mercado. Além disso, a representante da Euronext referiu que é preciso desenhar uma estrutura de comunicação clara, coerente e consistente. “Porque, ao início, sabe-se quem foram os investidores do IPO mas depois, assim que começam a negociar, perde-se essa identidade. Pode ser qualquer pessoa em qualquer lugar. Logo, requer uma informação rigorosa”, clarificou aos curiosos com outras fontes de financiamento.

Startups de olhos postos nos Estados Unidos da América

“Precisamos mesmo de ir para Silicon Valley para conseguir?” A questão foi posta em cima da mesa e a conclusão foi “nim”. Nuno Fonseca, CEO da portuguesa Sound Particles, Rodrigo Martinez, sócio da alemã Point Nine Capital, e Liz Fleming, da Adara Ventures mostraram que é possível uma startup manter a sua sede e principais atividades na Europa, mas abrir horizontes do outro lado do Atlântico, sobretudo na hora de recrutar. “Se os teus maiores concorrentes estão nos Estados Unidos tu tens de estar perto deles”, apontou Liz sobre as empresas de deep data e cibersegurança.

Por sua vez, Rodrigo admitiu que existem vários fundadores de empresas que dizem que a Europa está “muito longe” dos objetivos. “É especialmente importante quando se está a fazer recrutamentos. A pool de talento é muito maior lá [Estados Unidos]”, disse. Já o empresário português, que começou o negócio em Leiria e o viu escalar para Los Angeles, defendeu que, no seu mercado de software de áudio, os investidores “não querem saber” se são “europeus ou de Silicon Valley, estão interessados no produto e nas suas necessidades”. A Sound Particles tem 60% dos clientes na Califórnia e viu o seu software ser usado na produção da famosa série “Guerra dos Tronos”. “Temos de pensar alto, no mercado global”, aconselhou Nuno.

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