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Steven tem um Ferrari e aluga-o por 999 dólares por dia. ‘Airbnb dos carros’ chegou à Web Summit

Nos últimos anos, a indústria automóvel, até há pouco tempo concentrada nas grandes construtoras mundiais, abriu-se a outros agentes de mercado que, mesmo não construindo nem vendendo carros, oferecem soluções de transporte diferentes para os consumidores finais.
  • Cristina Bernardo
7 Novembro 2018, 07h40

A mobilidade partilhada está a alterar o paradigma da indústria automóvel ao permitir a criação de novos modelos de negócio. Desde o lançamento do Ford-T, no início do século XX , para irmos do ponto A para o ponto B, precisávamos de ser proprietários de um carro. Mas, hoje em dia, com os avanços tecnológicos na área da mobilidade, a propriedade e a mobilidade partilhada já estão a coabitar nas estradas. Por outras palavras, já é possível alugarmos um carro, por um breve período de tempo, que pertence a outra pessoa, da mesma forma que arrendamos uma casa.

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Esta foi a ideia principal avançada oradores do painel “The dos and don’ts of democritizing mobility” (o que se deve e o que não se deve fazer na democratização da mobilidade, tradução livre) que teve lugar ontem, no pavilhão 3 da Web Summit que juntou o CEO da Turo, uma empresa de car-sharing de São Francisco, nos Estados Unidos, um chefe do departamento de mobilidade da Daimler Financial Services, Jörg Lamparter, a vice-presidente de uma empresa que investe em capital de risco, Nairi Hourdajian. “A mudança com maior impacto na indústria automóvel será a deslocação dos consumidores da propriedade dos veículos para a mobilidade partilhada”, disse Lamparter.

Ser dono de um carro ou alugar um automóvel: duas opções compatíveis

Irá a mobilidade partilhada do automóvel ‘aniquilar’ a propriedade individual de um carro? A pergunta foi lançada durante o painel e os três oradores convergiram na mesma resposta: “não”. Nos últimos anos, a indústria automóvel, até há pouco tempo concentrada nas grandes construtoras mundiais, abriu-se a outros agentes de mercado que, mesmo não construindo nem vendendo carros, oferecem soluções de transporte diferentes para os consumidores finais. Mas tal não significa que, no futuro, empresas como a Volkswagen, a Toyota, a Renault ou o Grupo PSA, com a sua experiência e know-how, percam a sua utilidade. “O que a Tesla nos tem ensinado é que construir carros é muito difícil mesmo quando se tem um software de ponta”, disse Hourdajian, que conta no seu currículo com uma passagem de mais de três anos pela Uber.

As construtoras vão, por isso, permanecer, adaptando os seus modelos de negócio ao ritmo da democratização da mobilidade partilhada e não vêem as empresas tecnológicas que oferecem soluções de mobilidade partilhada, como a Turo. “Nós encaramos a mobilidade partilhada como um desafio, mas fomos nós [as fabricantes] que inventámos o automóvel e queremos ter um papel ativo nesta alteração de paradigma”, disse Lamparter. Sobre estas startups que aliam, numa plataforma, a condução de estrada com a tecnologia digital, o representante da Daimler disse taxativamente que “não são empresas concorrentes”.

Em 2017, foram percorridas mais de duas mil milhões de milhas (3,7 mil milhões de km) nas estadas norte-americanas, explicou o CEO da Turo, que tem por missão “dar uma melhor utilização aos mais de mil milhões  de automóveis existentes no mundo e alterar as economias da propriedade de um automóvel”, de acordo com o perfil do LinkedIn do executivo. Mas na origem daquela distância percorrida por automóveis nos EUA, estiveram dois motivos distintos que ajudam a explicar a ‘sobrevivência’ da propriedade de um veículo. “Por um lado, aquelas milhas foram percorridas num sentido de utilidade, isto é, a deslocação do ponto A ao ponto B e desprovidas de um sentimento afetivo”, explicou Haddad. “Mas, por outro lado, muitas daquelas milhas foram percorridas encerrando uma sentimento afetivo, como a paixão pelo carro ou pela condução, em viagens com amigos ou em família, e esse tipo de experiência vai fazer com que as pessoas continuem a adquirir carros próprios”, disse.

Mobilidade partilhada: como pôr o próprio carro a render

A aquisição de um carro novo obriga a um investimento avultado. Muitos amantes dos automóveis sonham ter um Ferrari F40 ou um Aston Martin DB9 sem nunca conseguirem. Mas a mobilidade partilhada permite que este tipo de ‘super carros’ cheguem aonde nunca chegaram: a todos.

Na indústria automóvel, a mobilidade partilhada é uma adaptação do modelo de negócio do Airbnb aos carros. Ou seja, um proprietário de um carro de gama alta pode alugá-lo a outra pessoa. E este é o modelo de negócio da Turo, que já opera em grandes centros urbanos como São Francisco, Los Angeles, Londres, Berlim ou Londres, e já conta com 90 marcas de automóveis – desde a Abarth, passando pela Bugatti, sem esquecer a Hummer (que já não produz) -, e mais de 350 mil veículos. Para Andre Haddad, “a mobilidade partilhada baixa os custos de aquisição de um automóvel porque, assim, este vai pagar-se a si próprio”, explicou. Neste sentido, disse que existe “uma complementaridade entre a mobilidade partilhada e ser-se dono de um carro”.

Para quem quiser colocar o seu carro na plataforma da Turo, a empresa faz uma estimativa de quanto o carro poderá render ao final do ano, tendo em conta o valor de mercado do automóvel e por quanto tempo está disposto a alugá-lo. Por exemplo, um proprietário que decida colocar na Turo um automóvel que valha 20 mil dólares durante nove dias por mês vai render-lhe 4,099 dólares por ano. Já se o automóvel valer 75 mil dólares (o valor máximo reconhecido pela Turo), os rendimentos disparam para os 14.881 dólares.

O Jornal Económico fez uma simulação e decidiu alugar ao Steven o seu Ferrari F430 de 2006 durante as seis e meia da tarde de sexta-feira, dia 9 de novembro, até às nove da noite de domingo, dia 11. Pelo super desportivo – cuja descrição na plataforma diz apenas “500 cavalos. Ferrari encarnado icónico. Está tudo dito” – pagar-se-ia 999 dólares por dia (o carro está à venda no eBay por mais de 112 mil dólares). Para o mesmo período, a única opção mais cara seria o Tesla Model X de 2017 do Omar (mil dólares por dia). Mas haveria mais opções, como um Pontiac Firebird 400 de 1067 (750 dólares) ou um Porsche 911 de 2014 (525 dólares). Entre as opções a preços mais competitivos, poder-se-ia alugar um BMW M3 de 2011 (155 dólares por dia), um Audi Q7 de 2017 (156 dólares) ou um Tesla Model 3 deste ano (157 dólares).

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